Na próxima quarta-feira, o Instituto de Planejamento Físico-Territorial (Ipplan) de Jaraguá do Sul inicia uma pesquisa de campo sobre o impacto econômico gerado pelo fechamento da Seara Alimentos, em dezembro de 2011. Os integrantes do órgão irão visitar os 200 produtores de aves da região que mantinham parceria com a empresa para traçar estratégias que possam ajudar na geração de novos negócios utilizando os aviários parados.

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A iniciativa foi divulgada nesta quinta-feira pelo presidente do Ipplan, Benyamin Fard, e o diretor de Desenvolvimento Econômico, Márcio da Silveira, na Câmara de Vereadores. O encontro foi promovido pelo vereador Eugênio Juraszek (PP), que também vai participar da pesquisa. Na quarta-feira, ele e os integrantes do Ipplan se encontrarão em frente à unidade fechada, no bairro Rio da Luz, para começar a visita aos produtores.

– O fechamento da Seara não prejudicou apenas os produtores, mas toda a economia do Rio da Luz. Vários bares e restaurantes fecharam porque os criadores de frango não tem mais dinheiro para comprar -, diz o parlamentar.

A intenção do Ipplan é criar um relatório sobre a situação dos produtores e buscar apoio do governo estadual e federal. Fard diz que a grande preocupação é que a falta de perspectiva econômica leve os ex-parceiros da empresa a abandonarem o campo em busca de trabalho na cidade e acabem desempregados devido à falta de qualificação para trabalhar na indústria.

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– Isso pode gerar um efeito-dominó que não conhecemos -, avalia.

Com o mapeamento das propriedades em situação de dificuldade, o Ipplan deve estudar ações como o refinanciamento de dívidas a juros baixos e avaliação de possíveis alternativas de agronegócio disponíveis além da criação de frangos. Um cronograma será montado para definir quanto tempo a pesquisa vai durar.

– Vamos fotografar os ambientes, pesquisar quanto os criadores produziam, quanto investiram, se têm dívidas e quanto precisam pagar. A partir desses dados, será criado um dossiê econômico-social -, explica Fard.

Hoje, cerca de 30 criadores de aves da região continuam fornecendo para a Seara, que pertence ao grupo Marfrig. A unidade de Jaraguá demitiu 890 funcionários e hoje conta com apenas 13 funcionários, que trabalham como mecânicos e no setor de recursos humanos.

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A empresa tinha capacidade de operar com nove mil aves/hora e com a produção de 32 toneladas de ração, que era fornecida para 200 produtores de aves.

Na época, a diretoria da empresa informou que a decisão pelo fechamento se deve à distância dos centros produtores de grãos de milho, como Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, o que encareceu a logística e gerou acúmulo de ICMS, somada à escassez de mão de obra local.

Esperança de voltar a criar frangos

Por 15 anos, o auxiliar de tecelagem Donato Drager, 45 anos, trabalhou com a criação de aves para a Seara. Hoje, quem passa pela propriedade no bairro Rio da Luz vê um cenário bem diferente: o aviário de 1,2 mil m², que chegou a abrigar 16 mil frangos, hoje está vazio. Além de não encontrar uma utilidade para o espaço, Donato tem uma dificuldade ainda maior: precisa quitar um financiamento de R$ 70 mil que assumiu antes do fechamento da fábrica, quando comprou novos equipamentos para aumentar a produção.

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– Um ano e meio antes da Seara fechar, conversei com representantes da empresa e perguntei se eu podia investir. Garantiram que estava indo tudo bem, que eu podia ficar tranquilo -, relembra.

Na época, Donato e a esposa, Arlete, recebiam cerca de R$ 6 mil por mês com a criação de frangos para a fábrica. Hoje, somando o que Donato ganha na malharia e o salário de Arlete como empregada doméstica, a renda não ultrapassa R$ 2,4 mil.

A mudança fez com que o casal e os três filhos, de 17, 14 e 12 anos, deixassem alguns sonhos para trás.

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– Estávamos planejando comprar um carro, para podermos sair todos juntos. Hoje temos só uma moto e por enquanto vai ficar assim -, comenta.

Para conseguir uma renda extra, Donato pensa em plantar bananas na propriedade.

– Estamos estudando fazer isso porque até hoje ninguém se interessou em assumir o aviário. Mas o que eu queria era continuar com os frangos. Espero que a Prefeitura ajude os produtores a encontrar uma solução.