Pesquisa sobre riscos dos embutidos à saúde não diminuiu produção e consumo no Vale

Que atire a primeira pedra quem nunca matou a fome com um cachorro-quente ou com um prato feito com a tradicional linguiça Blumenau. Em outubro, esses e outros alimentos feitos com carne embutida entraram na mira da Organização Mundial de Saúde (OMS) e se tornaram alvo de debates no Vale do Itajaí, conhecido por ser consumidor e exportador do produto. O levantamento divulgado pela OMS gerou polêmica na região: o estudo garante que as pessoas que consomem esses alimentos têm, no mínimo, 18% a mais de chance de desenvolver câncer colorretal.

As reações mundo afora foram as mais diversas. Enquanto o ministro alemão da Alimentação e Agricultura, Christian Schmidt, desprezou o alerta feito pela organização mundial, a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) recebeu o aviso com bons olhos e garantiu que a sociedade tende a caminhar em direção a uma alimentação mais vegetariana.

No Vale do Itajaí, os sócios da empresa pomerodense Olho Embutidos e Defumados, Rolf Konell Júnior e Luiz Antônio Bergamo, garantem que a produção de alimentos não diminuiu após o anúncio da Agência Internacional da Pesquisa Sobre o Câncer. No entanto, percebem a insegurança dos consumidores:

– As pessoas nos questionam muito sobre o assunto, mas não pararam de consumir – afirma Konnel.

O trabalho feito na indústria é acompanhado de perto por fiscais municipais, estaduais e federais, conta Bergamo. Análises periódicas são feitas nos alimentos para determinar se a quantidade de conservantes está abaixo do máximo permitido por lei. O empresário acredita que o consumo desse tipo de alimento traz muito mais benefícios do que riscos. Cerca de 26 toneladas de linguiça Blumenau são produzidas mensalmente pela empresa.

– A empresa passa por um forte controle para garantir a qualidade do produto final – afirma.

Tudo indica que o conselho da OMS em nada impactou o comportamento do blumenauense. Dias depois do anúncio, a fila era grande numa sexta-feira na feira livre da Escola Agrícola. Na lista de compras dos clientes, queijinho, nata e linguiças. Os embutidos são vendidos por quilo e chamam a atenção pela variedade e cores, pendurados nos varais da feira. A dona de casa Mirian Sabino, 60 anos, comprou algumas unidades de linguiças. A moradora da Itoupava Seca acredita que a definição da OMS não pode ser levada tão a sério:

– Temos que consumir os produtos moderadamente. Não tenho medo de câncer pois ele dá nos fumantes e não fumantes, assim como naqueles que comem e também nos que não comem linguiça – opinou.

Dona Mirian costuma comer o embutido acompanhado de pães diariamente no café da manhã. Cerca de duas unidades do produto – com cerca de 250 gramas cada – são consumidas semanalmente pelas três pessoas da família.

Tipos de carne

Processadas

– Aquelas que são transformadas por fermentação, defumo ou qualquer técnica com o objetivo de realçar o sabor e melhorar a conservação.

– Exemplos: bacon, salsicha, presunto, linguiças, carne enlatada, carne seca e carnes em conserva

Vermelhas

– Todos os tipos de carne que têm origem no músculo de mamíferos.

– Exemplos: carnes de boi, porco e cordeiro.