Prevenir a pressão alta, o diabetes e o colesterol é o jeito de evitar as principais causas de morte hoje: o acidente vascular cerebral (AVC), ou derrame, e o infarto. Para difundir essa prevenção, o SUS aposta em dois modelos no País: o Programa Saúde da Família (PSF), em que agentes vão de casa em casa, todo mês, para ver como as pessoas estão, e os postinhos tradicionais, que o cidadão tem de procurar por conta própria.

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Mais: Mande suas dúvidas sobre o Programa Saúde da Família

Menina dos olhos do Ministério da Saúde desde que foi criado, em 1994, o PSF tem demonstrado sucessos quando o assunto é redução de mortalidade infantil em áreas pobres, por exemplo. Mesmo assim, ainda desperta dúvida se é realmente eficiente na melhoria da saúde em geral, até porque cada unidade significa um investimento 30% mais alto do que nos postinhos comuns.

A dúvida provocou um grupo de pesquisadores da faculdade de medicina da Univille, em Joinville, sob liderança do médico neurologista Norberto Cabral, pós-doutor no estudo de AVC. Durante seis anos, os pesquisadores passaram a medir a eficácia do PSF, com uma série de critérios, tendo como base a realidade de Joinville.

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A conclusão foi que menos pessoas acompanhadas pelo programa morreram após ter tido um derrame ou infarto, em comparação com quem tinha de recorrer aos postinhos convencionais. O resultado foi publicado no “American Journal of Public Health”, uma das principais revistas científicas dos Estados Unidos, em outubro passado.

Em números, a pesquisa constatou que de 103 joinvilenses que tiveram um primeiro AVC entre 2005 e 2007 e que foram acompanhados pelo PSF depois, 37,9% morreram de um segundo caso da doença. De 138 pessoas que tiveram um derrame ou infarto e moravam onde só havia postinhos tradicionais, 54,3% morreram de uma segunda manifestação dessa doença.

– Isto significa dizer que, de cada seis pacientes acompanhados pelo PSF, uma morte foi evitada -, explica Norberto.

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O resultado empolgou os pesquisadores. A descoberta passou, então, a ser divulgada entre médicos e outros estudiosos, foi tema de palestra no Conselho de Desenvolvimento de Joinville (Desenville), ocorrido no Hospital São José, no ano passado, e virou mais uma defesa de que investimento em equipes de saúde da família melhora a qualidade de vida. Demonstrar cientificamente por que o PSF é mais eficaz que o modelo convencional é a provocação que a pesquisa também lança para estudos futuros.

Visitas ajudam a traçar histórico

Isaura da Silva, de 50 anos, mora no bairro Boa Vista, uma das regiões cobertas pelo Estratégia de Agentes Comunitários de Saúde (EACS), modelo parecido com o PSF. Todo mês, a agente de saúde Derli do Nascimento vai até a casa dela para acompanhar como está, orientar sobre os remédios que ela toma ou ver se é necessário agendar uma visita ao médico.

A dona de casa teve um AVC em 2006 e foi um dos casos acompanhados na pesquisa da Univille. Isaura conta que trabalhava como costureira e levava vida sedentária. Como muitas pessoas, tinha pressão alta e não se cuidava. O AVC ocorreu de madrugada. Sentiu um lado do corpo ficar paralisado e pediu ao marido para levá-la ao hospital. Ficou três meses internada e também teve de passar por um transplante de rim após o problema.

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Hoje, segue à risca os cuidados com a saúde, controla a pressão, cuida na alimentação e tenta ter hábitos saudáveis. A visita de Derli a ajuda a lembrar da importância desses cuidados. Segundo a agente, o acompanhamento em casa permite traçar um histórico da saúde de cada morador.

– Você sabe quem realmente precisa de cuidado e quem acha que está mal, mas só precisa conversar um pouco. Mais que saúde, acabamos fazendo um trabalho social -, diz Derli.

Isso otimiza o uso do sistema de saúde, evitando que a pessoa vá ao médico sem necessidade ou só recorra a ele quando o caso é grave, o que também ajuda a reduzir a sobrecarga nos hospitais.

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