Aos 19 anos, a secretária Jeise da Silva Martins, do Bairro Restinga, em Porto Alegre, assumiu no final do ano passado a responsabilidade de dividir as despesas da casa com a mãe, que trabalha como diarista. E metade do salário mínimo recebido pela jovem vai direto para o rancho do mês.

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Jeise faz parte de uma realidade identificada na pesquisa encomendada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL): oito em cada dez jovens brasileiros, com idades entre 18 e 30 anos, contribuem financeiramente para o sustento da casa.

Para a realização da pesquisa, foram entrevistados 601 jovens com idade entre 18 e 30 anos, de ambos os gêneros e de todas as classes sociais nas 27 capitais brasileiras.

Realizado com dois grupos etários — 18 a 24 anos e 25 a 30 anos —, o levantamento captou dois momentos: os que ainda estão em fase de formação e definição dos próprios valores, iniciando no mercado de trabalho, e aqueles que já são parte ativa da economia de trabalho. E o que se constatou é que quase 30% dos entrevistados são os principais responsáveis pelas despesas.

É o caso de Jeise. Única a morar com a mãe, a jovem começou a trabalhar aos 16 anos. Porém, no ano passado, ficou quase 12 meses sem emprego, prejudicando a rotina de ambas. Há quase três meses, Jeise voltou a ter um emprego com carteira assinada.

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— Meu salário é o único garantido no mês, pois a mãe recebe de acordo com as faxinas que ela faz. Este dinheiro veio na hora que mais precisávamos — conta Jeise, que pretende concluir o ensino médio neste ano.

Sonho

Segundo a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, 51% dos jovens moram com os pais. Apesar dos entrevistados entre 18 e 24 anos ainda serem mais instáveis financeiramente devido ao processo de formação acadêmica, o mesmo não pode ser aplicado para as classes sociais mais baixas.

— Jovens que pertencem às classes C, D e E precisam ajudar no sustento da casa de alguma forma por necessidade de completar o orçamento familiar — completa Marcela.

Outro dado destacado na pesquisa é que quase a totalidade dos jovens entrevistados afirmam ter planos para os próximos cinco anos. A maioria, relacionados à carreira: 29% querem se formar na faculdade, 28% desejam estabilidade no emprego e 27% esperam ter boa carreira profissional.

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Os jovens consideram que após os 30 anos serão adultos realizados se tiverem seu próprio imóvel (30%), forem felizes na profissão (28%) e tiverem tempo livre para fazer o que gostam (26%). Jeise faz parte também deste perfil.

— Meu sonho é me formar em Administração e comprar uma casa. Para isso, vou ter que trabalhar muito — calcula Jeise.

Primeiro emprego

Assim como Jeise, o estudante do nono ano do ensino fundamental Luis Abraão Rodrigues Garcia, 16 anos, também do Bairro Restinga, sonha em se tornar independente financeiramente. Antes, porém, quer contribuir para o sustento da mãe e dos oito irmãos — cinco deles menores do que Luis.

Na próxima segunda-feira, o adolescente começará no primeiro emprego como auxiliar em um supermercado.

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— Meus irmãos gêmeos servirão ao Exército neste ano. Por isso, me senti mais responsável porque já dei muito trabalho para os meus pais. Está na hora de ajudá-los — explica.

Para conciliar o emprego e os estudos, Luis frequentará as aulas à noite. Apesar de não fazer parte deste recorte feito pelo SPC Brasil, o jovem se enquadra nas características apontadas pela pesquisa. E, se depender dele, continuará.

— Esta oportunidade de emprego é só o começo. Quero seguir estudando e trabalhando para, um dia, me tornar jornalista.

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