Gertrud Diegel Westphal conta os transtornos que já passou nas portas giratórias com detector de metal. Segundo ela, “no banco basta fazer um sinal de positivo e o vigilante, que já me conhece, abre a porta de vidro para eu passar”, mas em outros lugares, depois da porta travar, é preciso explicar sobre o marca- -passo que possui há 14 anos. Vinda da Alemanha em 1951, Gertrud, 84 anos, adotou Blumenau como lar em 1995. Ela é uma das pacientes de Sérgio Luiz Zimmermann, que durante 10 anos estudou casos de imigrantes, como Gertrud, e de filhos de imigrantes no Vale do Itajaí.
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O objetivo do especialista era comparar o perfil de doenças isquêmicas (infarto, angina, pessoas que fizeram cateterismo, ponte de safena, angioplastia coronariana) entre os germânicos que vieram para o Vale do Itajaí e os descendentes de primeiro grau, os filhos que nasceram aqui no Brasil. Ao fim da pesquisa, ele descobriu que nos descendentes a apresentação inicial da doença ocorre, em média, quatro anos antes que nos imigrantes.
Hoje o filho de Gertrud, o brasileiro Walter Westphal, tem 57 anos e é saudável, mas de acordo com a pesquisa de Zimmermann é possível que ele tenha problemas com as portas giratórias mais cedo que a mãe. O médico fez um comparativo entre imigrantes e os descendentes de primeiro grau, com base em aspectos do histórico de saúde (diabetes, colesterol, fumo, angina, infarto) e descobriu que nos filhos os ataques aconteceram aos 65 anos e nos imigrantes aos 69 anos.
— Essa pesquisa é o primeiro estudo de uma população alemã, na verdade germânica, pois abrange a região da Áustria, da Suíça, da Alemanha e da Polônia, que migrou para cá — afirma o cardiologista.
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Mudança de ambiente pode ter interferido no resultado
Segundo Zimmermann, o estudo servirá como fonte de consulta cada vez que alguém for analisar uma parte da população alemã fora da Alemanha. Sobre as causas que levaram os filhos de imigrantes a apresentar problemas cardíacos antes do que os pais, o pesquisador levanta algumas suspeitas:
— Acreditamos que o ambiente possa ter interferido, mas a gente não tem exatamente como explicar isso. O que se sabe é que eles saíram do ambiente deles, apesar de manter os hábitos por aqui. A gente tem algumas hipóteses, por exemplo, os imigrantes trabalhavam mais, tinham mais atividades físicas, mas os fatores de risco, como hipertensão, hábito de fumar, eram muito parecidos entre os dois grupos. O trabalho não tem poder estatístico para afirmar que foi uma ou outra coisa exata que causou diferença entre os grupos.
Os dados foram encaminhados para uma equipe especializada em estatísticas e o índice — diferença de quatro anos entre os primeiros sinais de doenças cardíacas entre imigrantes e descendentes — foi considerado relevante dentro dos critérios de estatística de medicina, afirma Zimmermann. O estudo teve a colaboração do cardiologista Siegmar Starke.
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