Estudo de contaminação atmosférica ocupacional desenvolvido por pesquisadores da UFSC identificou problemas em trabalhadores de galeria e de superfície de minas de extração de carvão, assim como em moradores de Lauro Müller, cidade catarinense próxima ao maior complexo termoelétrico a carvão da América Latina. Esse tipo de contaminação está relacionado ao ar que a pessoa respira durante suas atividades.

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Taxas de chumbo 326% mais elevadas em operários de superfície de minas de extração de carvão e 151% em residentes de Lauro Müller foram reveladas. Os índices foram detectados a partir da análise de metais pesados na urina de trabalhadores das minas. Entre os resultados obtidos, apenas o manganês não apresentou taxas preocupantes. Os índices de chumbo, cobre, zinco e ferro de todos os envolvidos apresentaram níveis superiores em relação a um grupo de controle. Os níveis de zinco chegaram a 303,8% mais elevadas em trabalhadores de galeria das minas. As amostras foram comparadas a um grupo controle do banco de sangue do Hospital Universitário (HU) da UFSC.

– A inalação crônica de compostos químicos estranhos ao organismo produz várias doenças, como enfisema pulmonar, fibrose, bronquite, pneumoconiose e câncer, entre outras. Instala um processo inflamatório crônico que leva à geração de fatores pró-inflamatórios, síntese de matriz celular, proliferação de células como fibroblastos e a produção exagerada de espécies reativas de oxigênio e nitrogênio, que geram o estresse oxidativo – destaca o professor Danilo Wilhelm Filho, do Departamento de Ecologia e Zoologia do Centro de Ciências Biológicas da UFSC, coordenador da pesquisa. Há anos ele estuda a suplementação de vitaminas para controle do estresse oxidativo associado a diversas doenças humanas.

Danilo lembra que, além da exposição crônica direta dos trabalhadores, outro fator favorece a contaminação atmosférica estudada nas pessoas que vivem no Sul do Estado. A geografia da região, aliada à prevalência de ventos nordeste na maior parte do ano, gera um fluxo circulatório de ar que demora a se dispersar, expondo a população local a essas substâncias durante cerca de oito meses do ano.

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Biomarcadores de estresse oxidativo

A pesquisa no Sul de Santa Catarina levou em conta cinco grupos de 20 homens não fumantes, sem doenças inflamatórias ou crônicas recentes e sem lesões pulmonares detectadas para fazer a comparação de biomarcadores de estresse oxidativo no sangue, além da análise de metais pesados da urina.

Parte do projeto foi desenvolvida junto ao Programa de Pós-Graduação em Farmácia da UFSC, a partir da tese do professor Sílvio Ávila Júnior da UNESC (Criciúma). Os resultados mostram um quadro de estresse oxidativo acentuado em trabalhadores da mineração de superfície de galerias e preocupante também entre familiares residentes da vila destes trabalhadores, situada a cerca de 15 km da cidade de Lauro Müller.

Os biomarcadores de estresse oxidativo foram avaliados no sangue antes e depois de uma suplementação de vitaminas C e E. Após seis meses de suplementação destas vitaminas, em doses diárias abaixo das consideradas megadoses (ou seja abaixo de 1g), foi observada acentuada atenuação do estresse oxidativo no sangue de todos os envolvidos.

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