O sobrenome italiano pode até gerar dúvida, mas Thiago Buzetti Spinelli sempre foi atraído pela cultura germânica. Ainda aos 15 anos, viajou de Curitiba até Blumenau para conhecer a Oktoberfest pela primeira vez. O trajeto foi repetido por 10 anos e só parou em 2008, porque ele resolveu mudar-se para a cidade por causa do trabalho.
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Mais próximo das pessoas que fazem a festa, o envolvimento de Thiago com o evento cresceu. Tornou-se amigo dos coordenadores do Essenwagen, o carro da comida que participa do desfile na Rua XV de Novembro. Ao mesmo tempo em que fazia novos amigos e conhecia a futura esposa, também integrou um clube de tiro e participou da Gincana Cidade de Blumenau.
O traje típico não era mais estranho para Thiago, que também se acostumou com a gastronomia alemã. E hoje ele admite conhecer mais sobre a cultura e a história de Blumenau do que de Curitiba, onde nasceu e passou a maior parte da vida.
— Sempre fui muito bem recebido e já adotei a cidade. Há praticamente um calendário de eventos que mobiliza o município, então sempre tem algo acontecendo. É muito interessante porque envolve o turismo e mantém uma tradição criada aqui de preservar a cultura do século 19, protegendo também a história.
Spinelli é um entre os vários moradores de Blumenau que adotaram a cultura do município sem ter laços germânicos. Os demais coordenadores do Essenwagen, por exemplo, também têm sobrenome italiano: Venturi e Nicoletti, sendo que o último nasceu em São Paulo e hoje atende os clientes em um comércio da Rua XV usando traje típico durante os 19 dias de Oktober.
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E são os moradores não nascidos em Blumenau que mais sentem orgulho da festa. É o que aponta o novo levantamento do Focus, projeto de extensão da Furb, que analisa a imagem da Oktoberfest. O estudo utiliza o índice de concordância para analisar as respostas, variando de 1 (discordo totalmente) a 10 (concordo totalmente).
Nas perguntas iniciais, os moradores que nasceram em outros municípios têm índice de concordância maior do que os que têm Blumenau como terra natal. As questões envolvem o orgulho pela tradição alemã, o fato de Blumenau ser conhecida em todo o país pelas festas e tradições germânicas e o orgulho de morar na cidade.
Para a psicóloga Catarina Gewehr, o resultado se deve ao fato que as pessoas que escolheram morar no município o comparam com outras cidades. Enquanto isso, o blumenauense não teve a oportunidade de conhecer a condição de outros locais.
— Quem decide visitar e permanecer aqui tem uma perspectiva não vista por quem já mora no local, até porque a pessoa que se muda compara a nova realidade com o que ela deixou pra trás. E quem vem de fora costuma ter interações positivas — avalia a especialista.
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Percepção de festa cara e vitrine para negócios
A pesquisa também analisou a percepção dos moradores de Blumenau em cinco dimensões relacionadas à Oktoberfest. Os benefícios culturais e educacionais tiveram o maior índice de concordância dos blumenauenses, com destaque para a afirmação de que a festa funciona como uma vitrine para novas ideias e novos negócios.
Na mesma linha, os moradores da cidade também analisaram de forma positiva a dimensão dos benefícios comunitários da festa. Quase 80% dos 400 entrevistados concordaram que a Oktoberfest contribui para construir uma imagem positiva de Blumenau.
Para o secretário de municipal Turismo e Lazer, Marcelo Greuel, a prova dessa percepção são os índices positivos de avaliação da festa.
— Blumenau tem duas marcas muito fortes: a Oktoberfest e as enchentes. Então a festa cria uma imagem positiva muito grande para a cidade porque transmite alegria. Não vemos problemas fora dos pavilhões como em outros grandes eventos pelo país. O turista que nunca veio a Blumenau, voltará com uma imagem positiva.
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Há também aspectos negativos sobre a festa com índices altos na avaliação dos moradores. Quanto à qualidade de vida, a maior preocupação com relação à Oktoberfest é o trânsito. Para 70% dos entrevistados os problemas de mobilidade aumentam para níveis inaceitáveis durante os 19 dias de folia.
Com índice um pouco menor está a preocupação com os recursos da comunidade. A percepção de quase 60% do público é que para os residentes locais, a Oktober é uma festa cara e incompatível com os recursos financeiros da maioria das pessoas que moram na cidade.
Greuel reconhece que os problemas do trânsito aumentam durante a festa, mas afirma que é uma consequência causada por um grande evento que movimenta a economia do município. O secretário também sustenta que os preços são compatíveis com o que é oferecido na festa, inclusive com valor abaixo de outros grandes eventos que são organizados no país.
A coordenadora do projeto e professora da Furb, Cynthia Quadros, avalia que autoestima do blumenauense é afetada positivamente pelos fatores símbolos que a Oktoberfest representa, como o chope, a Vila Germânica e o traje típico. Isso reforça a identificação do blumenauense com a cultura germânica.
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— Percebe-se que é muito mais efetivo para o morador de Blumenau a noção de pertencimento e o orgulho da festa em si do que se ela gera ou não lucro para o município — pondera.
