A Ilha da Magia não ganhou este título por acaso. Suas belezas naturais, o jeito manezinho de ser, histórias e lendas de bruxas fazem com que Florianópolis seja destino certo de turistas do Brasil e do mundo. E quem escolhe aqui morar não pensa em ir embora. Dona Maria de Lourdes da Silva Sampaio, de 59 anos, é prova disso. Gaúcha de Pelotas, mudou-se para a Capital catarinense há 16 anos, após ser transferida pela empresa onde trabalhava. Mesmo tendo passado uma temporada no Rio de Janeiro, não pensou duas vezes em voltar assim que se aposentou.
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– Eu adoro morar aqui. Já mudou bastante de 2002 para cá, mas eu gosto do clima, da cidade, das praias. Acho maravilhoso isso aqui, não volto pra minha cidade de jeito nenhum – afirma Maria de Lourdes.
Uma pesquisa do Projeto Focus, feita pela Universidade Regional de Blumenau (Furb), revela que mais de 90% dos entrevistados consideram Florianópolis uma cidade boa ou ótima para se viver. Além disso, 58% afirmaram que não arredam o pé daqui, assim como dona Lourdes.
O levantamento ouviu 400 moradores, nativos ou não. As entrevistas foram feitas por telefone no período de 16 de abril a 18 de maio de 2018, abrangendo todas as regiões do município. Os dados foram tabulados em julho e agora divulgados com exclusividade para a NSC Comunicação.
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Mas o que faz uma cidade ser tão querida? Ter um povo acolhedor, quem sabe? Quando chegou aqui, Lourdes demorou um pouco a se adaptar com o manezinho. Mas com o tempo isso ficou no passado e, hoje, assim como 40% dos entrevistados, sente-se totalmente parte de Florianópolis. Mesmo não sendo nativa, a aposentada tem orgulho de viver aqui, igual a 76% dos participantes da pesquisa que não nasceram na cidade. Entre os nativos, o percentual foi de 88%.
Ambiente faz a diferença
A qualidade de vida pode ser outro fator que atrai tanta gente para morar em Floripa. O quesito foi aprovado por 74% dos entrevistados.
– Aqui todo mundo se preocupa com a saúde, seja fazendo academia ou uma caminhada ao ar livre. O clima desperta na gente essa vontade de ser saudável. Eu, por exemplo, adoro caminhar na Beira-Mar, meu filho adora andar de bicicleta. O clima e o visual da cidade propiciam isso, ajudam na saúde física e mental. Isso é qualidade de vida – diz Lourdes.
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A doutora em psicologia Catarina Gewehr explica que a qualidade de vida é alcançada a partir de múltiplos elementos, que inclui bem-estar individual e coletivo e o ambiente em que se vive.
– Precisamos ter boa saúde física e mental, segurança emocional e o que podemos chamar de saúde territorial. Se a cidade permite vivermos bem, com calçadas, acessibilidade, sinalização, se o trânsito flui, se não há muito barulho, assim como a sensação de segurança, com iluminação, praças públicas com crianças e famílias.
Claro que nem tudo é sombra e água fresca. Na opinião dela, a Capital agrega muitos elementos que desqualificam a vida na cidade, como o trânsito e a violência. Mas ainda persiste a sensação de que Florianópolis é um lugar encantador, com belezas naturais que fazem parte da rotina das pessoas. Por ser uma cidade ativa, faz com que tenha mais chances de atender as necessidades de seus moradores.
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– A cidade precisa responder as demandas subjetivas das pessoas. Por exemplo, eu preciso ver o sol, um conjunto harmonioso na paisagem? Às vezes as pessoas não se dão conta de que gostam de Floripa porque gostam da natureza. E outra coisa que é inegável e que impacta é que, se a pessoa quiser ir à praia se divertir, ela tem a praia, mas se tiver chovendo ela pode ir ao shopping. A cidade proporciona isso.
Relação com a comunidade gera satisfação
Marlene Vieira, a dona Lena, 73, nasceu e cresceu no bairro Saco dos Limões, região central da Capital. Com 27 anos mudou-se para o Córrego Grande, onde vive até hoje. Casou, teve três filhos, foi uma das primeiras funcionárias do Hospital Infantil Edith Gama Ramos, atual Hospital Infantil Joana de Gusmão, e após anos trabalhando como técnica de enfermagem, está aposentada.
Se alguém pensa que ela parou, está muito enganado. Lena faz artesanato, academia, cuida da casa e ajuda a criar dois netos. Manezinha da ilha, também participa ativamente do grupo de vizinhos solidários e dos encontros de chás no posto de saúde.
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Essa relação com a comunidade também é um dos itens apontados na pesquisa que influenciam os moradores a gostarem ou não de onde moram. Quase 70% dos entrevistados responderam que estão satisfeitos ou muito satisfeitos com sua comunidade.
– O bairro evoluiu muito. Quando eu vim para o Córrego (Grande) não tinha nenhum prédio, era época dos engenhos. Mas ainda temos contato com a natureza, gosto do verde, dos morros, das praias, as pessoas são carismáticas, vivemos muito bem – avalia Lena.
Mesmo amando a cidade, não deixa de apontar o lado B, aquilo que a cidade tem de negativo.
– O que incomoda um pouco agora é o congestionamento, mas isso está em todo lugar, a gente não pode falar só daqui. Florianópolis é muito boa para se morar, apesar de ter violência, mas se comparado a outros lugares, as pessoas estão felizes – completa.
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Assim como dona Lena, a maioria dos entrevistados comparou a realidade de Floripa com o cenário nacional e mundial, de acordo com Cynthia Quadros, coordenadora do projeto. Ao avaliar índices de violência e transtornos do congestionamento das grandes cidades, como Rio e São Paulo, o manezinho, de sangue ou de coração, ainda avalia a situação da Capital como positiva.
– As pessoas justificavam suas respostas com a percepção positiva ponderando com o cenário nacional e internacional muito ruim. Isso ficou muito evidente e é inevitável esse tipo de associação – esclarece Cynthia.
Além disso, o foco da pesquisa não era avaliar serviços públicos, infraestrutura e gestão de governo, apesar de ter itens relacionados à economia e administração pública, mas verificar o nível de satisfação dos moradores em relação a diferentes aspectos de suas vidas, envolvendo a felicidade e bem-estar. Segundo Cynthia, a pesquisa foi dividida em dois momentos: avaliação da cidade, o que ela oferece aos moradores, e a vida pessoal de quem vive aqui.
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– As pessoas comparam sua cidade com outros lugares e o resultado é positivo – avalia.
DADOS DA PESQUISA
A pesquisa foi realizada pelo Projeto Focus, da equipe de extensão da Furb, que integra professores dos cursos de Publicidade e Propaganda, Jornalismo e Matemática, com a colaboração de acadêmicos. A coleta de dados foi feita por telefone entre os dias 16 de abril a 18 de maio de 2018. A tabulação dos dados foi finalizada em julho. No total, foram entrevistadas 400 pessoas moradoras de Florianópolis com idade igual ou superior a 16 anos. A margem de erro é de 5%.
Faixa etária
*16 a 35 anos: 43,5%
*36 a 59 anos: 39,5%
*60 anos ou mais: 17%
Sexo
*Homens: 51%
*Mulheres: 49%
Renda média familiar mensal
*Até R$ 3 mil: 30,5%
*De R$ 3 mil a R$ 8 mil: 36,8%
*Acima de R$ 8 mil: 22,8%
Entrevistados que nasceram em Florianópolis: 32,5%