Começar o dia com um café completo, fazer quatro refeições diárias equilibradas, praticar atividade física, controlar a pressão arterial, relacionar-se com amigos e evitar o estresse. Essas posturas recomendadas por educadores físicos e profissionais da saúde nem sempre são gabaritadas no dia a dia. Uma pesquisa feita para a conclusão do curso de Educação Física do estudante Jaison Kirchner, da Uniasselvi de Blumenau, ouviu 784 moradores para identificar os hábitos de qualidade de vida adotados na rotina dos blumenauenses.

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O questionário aplicado seguiu o modelo do “Pentáculo do Bem-Estar”, do professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Markus Nahas, que inclui perguntas sobre nutrição, atividade física, comportamento preventivo, relacionamento social e controle de estresse. Os cinco aspectos tiveram indicadores médios abaixo de dois, considerados negativos, mas os piores cenários foram encontrados na alimentação e na atividade física. Já o melhor resultado foi sobre relacionamento social.

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A idade média do grupo de entrevistados foi de 31 anos e o Índice de Massa Corporal (IMC) médio, de 25,09, ligeiramente acima do máximo considerado normal pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O autor do levantamento conta que o tema do trabalho foi escolhido para abordar o comportamento e prevenção de doenças e torce para que os dados ajudem a alertar indivíduos e poder público sobre a importância da conscientização para aumentar a prática de atividade física, alimentação saudável e postura preventiva para minimizar casos futuros de problemas de saúde.

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— Tomando conhecimento dos dados, a gente pode tomar as atitudes corretas para mudar essa realidade — cita.

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O professor que criou o método do “Pentáculo do Bem-Estar“, Nahas lembra que mais do que mensurar o estilo de vida de um indivíduo ou um grupo social, a escala busca interpor quando os números ficarem dentro dos aspectos negativos.

— A intenção é avaliar, mas também intervir para que as pessoas se sintam instruídas e motivadas e para que se busquem oportunidades de atividades mais saudáveis — pontua.

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O PENTÁCULO DO BEM

Como mudar

Os principais fatores para os maus hábitos alimentares são a correria do dia a dia e a falta de tempo, segundo a nutricionista Josiane Aparecida Hermann. Ela cita que a atenção feminina maior ao mercado de trabalho e a dificuldade de organização do tempo faz muitas pessoas recorrerem aos enlatados, embutidos e comidas rápidas. As consequências disso? Podem estar em problemas de saúde como obesidade e doenças crônicas a exemplo de hipertensão, colesterol alto, complicações renais e pedra na vesícula.

— Costumo dizer em consultório que a obesidade está relacionada ao fato de as pessoas estarem desembalando mais e descascando menos — ilustra a nutricionista.

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Para mudar esse cenário, a dica da profissional é nunca mudar drasticamente, mas sim aos poucos. Se não der para aderir às frutas, um jeito pode ser optar por lanches saudáveis, castanhas, amêndoas e frutas desidratadas. Congelar alimentos e se programar para levar alimentos ou marmitas ao menos uma vez por semana pode ser um bom começo.

Atividade física

Como mudar

Orientador do trabalho de Kirchner e coordenador do curso de Educação Física da Uniasselvi, Marcel Ramos, o China, conta que o trabalho busca conscientizar a população sobre os benefícios de um estilo de vida saudável. Ele pontua que os números considerados negativos no campo de atividade física decorrem de fatores como o uso excessivo da tecnologia, da urbanização e da rotina extenuante de trabalho. Para reverter esse quadro, ele sugere investimentos em mobilidade que facilitem, por exemplo, o deslocamento de bicicletas, espaços públicos para prática esportiva e campanhas para conscientizar e despertar a iniciativa da população.

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— Todo esse contexto pode ajudar o cidadão a criar na rotina diária atividades que aumentem o gasto calórico e que vão influenciar bastante na qualidade de vida e prevenção — frisa.

Como mudar

Para o cardiologista Marcus Serafim, os números ainda altos de pessoas que não controlam pressão arterial podem ser atribuídos à falta de conscientização por parte dos pacientes e do Estado, que afastam a população, sobretudo em classes sociais menos favorecidas, de ações de prevenção. Ele lembra que a doença é silenciosa e assintomática — nem sempre está associada a quadros de dor de cabeça, crises de pânico e ansiedade, que segundo o médico às vezes resultam em possíveis falsos diagnósticos —, o que aumenta a necessidade de atenção constante para aferições pelo menos semestrais ou anuais a qualquer idade para um diagnóstico precoce.

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— A hipertensão é a maior causa de Acidente Vascular Cerebral (AVC), que é uma das principais causas de mortalidade e invalidez no adulto. Além disso, lesa corações, rins, olhos, sistema circulatório. O foco precisa estar na conscientização, diagnóstico e tratamento precoce para evitar essas consequências — frisa o cardiologista, indicando que o estilo de vida é a principal causa de hipertensão e que mudanças de hábitos podem reverter quadros de hipertensão.

Como mudar

Os números da área de relacionamento social, que teve o melhor resultado no levantamento do estudante, são vistos com bons olhos pela psicóloga Natália Mueller Jenichen, da Univali. Ela considera que pode ser um sinal de que as pessoas estão mais atentas à necessidade de boas relações sociais, de se posicionar e dar atenção não só ao trabalho, mas às atividades de lazer e à saúde mental. A profissional cita fatores como o tempo escasso e a pressão para manter o trabalho em tempos de crise como fatores que podem dificultar a manutenção das relações, mas deixa clara a importância dos vínculos sociais.

— Ter alguém dando suporte, dizendo que é possível superar as coisas, é importante para a pessoa administrar melhor as situações do dia a dia.

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Para quem não se diz satisfeito ou não costuma cultivar as amizades, algumas dicas podem ser grupos de corridas, cursos, encontros de amigos para cozinhar e outras reuniões que tenham um fim específico e que extrapolam seus limites e criam novas relações.

Como mudar

O professor do curso de Psicologia da Univali, Eduardo José Legal, explica que às vezes as pessoas dedicam tempo para relaxamento ou lazer, mas não se dão conta disso. Ele lembra que as escolhas das pessoas são ditadas pelo contexto em que vivem, mas que apenas pressionar as pessoas para praticarem exercícios ou atividades de lazer pode ser igualmente estressante, tornar-se outra obrigação.

— Existem formas de fazer isso. Criar situações e espaços em que as pessoas possam escolher novos hábitos mais saudáveis é mais interessante. Em casa, sugerir um passeio, uma caminhada. Mas ofertar como oportunidade, não exigir como responsabilidade — exemplifica.

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Alguns exemplos citados pelo doutor em Psicologia Experimental são os grupos de assessoria esportiva, que fazem da prática esportiva uma experiência social, os espaços de vivência oferecidos em algumas empresas e mais políticas públicas que deem suporte profissional para práticas esportivas e de lazer.