Todo dia a técnica em saúde bucal, 32 anos, que preferiu preservar a identidade subia a linha do Aterro até o Garcia, em Blumenau. Ela e suas amigas entravam em ônibus lotados e eram alvos de abusos. Um homem de cerca de 50 anos aproveitava-se do movimento do transporte público para esfregar-se nelas. A situação repetia-se com estudantes, mulheres mais jovens, mais velhas e até mesmo gestantes. O abuso ao grupo de amigas só cessou no momento em que elas ameaçaram o agressor. Casos deste tipo são frequentes no país. Um levantamento nacional divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revela a drama do país: 65% dos homens entrevistados disseram concordar que mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas.
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A pesquisa faz parte do Sistema de Indicadores de Percepção Social (Sips) e revela uma situação que precisa ser debatida no país. Foram entrevistadas 3.810 pessoas em 212 municípios no período entre maio e junho de 2013. Mais de 58% dos entrevistados também concordaram com que se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros. De acordo com o estudo mostra que os homens não conseguiriam controlar seus apetites sexuais. Sendo assim, que deveria se comportar é a mulher e não os estupradores. “A violência parece surgir como uma correção. A mulher merece e deve ser estuprada para aprender a se comportar”, diz a conclusão da pesquisa.
Dois homens concordaram com a pesquisa
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Durante a tarde de quinta-feira (27), o Santa foi ao Terminal do Aterro e reproduziu a 20 homens blumenauenses a pergunta do Ipea. Alguns pensaram antes de responder mas apenas dois concordaram que mulheres que usam roupas mais curtas deveriam ser atacadas. Os homens foram escolhidos aleatoriamente e ficaram livres para concordar ou não com a afirmação. O mais jovem entrevistado tinha 17 e o mais velho, 64 anos. Esse dado municipal pode ser reforçado pela conclusão do Ipea, que afirma que os residentes no Sul e Sudeste do país possuem menores chances de concordar com a culpabilização da figura feminina pela violência sexual.
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