Não vai ter descanso no feriado do Dia do Trabalhador para os pescadores artesanais de Santa Catarina, data que marca o início oficial da pesca da tainha em 2016. A movimentação é grande nos ranchos nas praias: as redes estão sendo remendadas e os últimos consertos estão sendo providenciados nas canoas e barcos, para ficar à espera da menina dos olhos dos homens do mar.

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Apesar da maior parte ainda não ter obtido licença, a chegada do frio nesta semana e o vento Sul animou os pescadores. O presidente da Federação dos Pescadores de Santa Catarina, Ivo Silva, diz que a expectativa é que sejam capturadas 1800 toneladas do peixe, superando as 1400 toneladas de 2015.

— Já orientamos todos os pescadores para darem entrada no pedido de licença e alguns já receberam. Nossa expectativa é que 80 embarcações de rede anilhada sejam licenciadas, estamos tentando mais 26, mas temos que aguardar. Mesmo assim nossa expectativa é boa, com esse frio que entrou essa semana ajuda a vir o peixe — fala.

Na praia dos Ingleses, no Norte da Ilha, o pescador Odilon Dercídio de Souza, 53 anos, conta que protocolou em março o pedido de licença, mas até agora não teve retorno. Com experiência de uma vida inteira na pesca, estava junto com os colegas nos preparativos finais:

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— A gente tem que deixar tudo pronto. A nossa esperança é a tainha, porque esse ano foi fraco de espada, corvina e lula. Só com a reforma do bote gastei R$ 4 mil e ainda estamos remendando as redes — contou.

Em outro rancho nos Ingleses, Dinalto Leonel dos Santos, 73 anos, e o filho Dinalto Santos Junior, 43, trabalham juntos nos preparativos:

— Pra quem vive da pesca, a tainha é o que a gente espera o ano todo. Já estamos com tudo pronto, agora é só esperar elas apareceram — diz Dinalto Leonel.

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Dinalto é pescador desde criança Foto: Felipe Carneiro / Agencia RBS

No rancho do pescador José Generoso da Silva (Zeca), 73 anos, que pesca com rede de arrasto, o filho também ajudava nos consertos. Ele conta que na praia são 10 canoas que trabalham em sociedade. Olheiros ficam posicionados estrategicamente no costão direito dos Ingleses e outros pontos da praia. Por rádio avisam quando avistam um cardume e todos correm para remar :

— O cupim comeu todo o fundo da canoa, então precisei trocar toda a madeira. Também estou arrumando o rancho, porque na época da tainha a gente dorme aqui, a melhor luz é à noite, então temos que estar sempre prontos. 

Zeca estava finalizando os preparativos em suas canoas para pesca com rede de arrasto Foto: Felipe Carneiro / Agencia RBS

Corrida de Canoa e missa marcam abertura

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Em 2016, o início da safra será comemorado com a 1ª Corrida Municipal de Canoa a Remo na Beira-Mar Norte. A disputa entre canoas de quatro remos com no máximo cinco pescadores será entre a Ponte Hercílio Luz e o trapiche. A concentração é a partir das 9h30. 

O secretário de Pesca, Maricultura e Agricultura de Florianópolis, Willian Nunes, destaca a importância da tradição:

— A corrida pretende homenagear simbolicamente a ancestralidade, quando os próprios pescadores barqueiros faziam o transporte de seus pescados para comercialização no Mercado Público, ou daqueles que, fora da temporada, apoitados às margens das Baías Norte e Sul, com suas bateiras de aluguel, prestavam serviços no transportes de mantimentos, para abastecer pequenos comerciantes na Ilha ou nos estreitos — explicou.

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No Campeche, um dia inteiro de programação no domingo, 1º de maio, também vai marcar a abertura da safra. Às 10h acontece a missa solene seguida de atividade como corrida de canoa na estiva, cabo de guerra e boi de mamão. 

Pesca industrial aguarda respostas

Se entre os pescadores artesanais o clima é de otimismo com a temporada que se aproxima, o entre os industriais o sentimento é de incerteza. Há cerca de um mês o Sindicato dos Armadores e das Indústrias da Pesca de Itajaí e Região (Sindipe) enviou oficios para a Secretaria Especial da Pesca, vinculada ao Ministério da Agricultura, em Brasília, mas ainda não obteve respostas:

— No ano passado foram liberadas 48 embarcações no Brasil, sendo que 31 eram em Santa Catarina. Neste ano ainda não saiu a portaria, mas até agora ninguém teve resposta. Querem diminuir ainda mais o número de embarcações, mas também mandamos um estudo demonstrando o sucesso da captura de 2015, que o a quantidade de peixe não está diminuindo, mas nem sabemos se foi lido — lamenta o coordenador da câmara setorial do cerco do Sindipe, Luis Anderson da Costa.

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Diante da falta de respostas, Luis diz que a expectativa não é boa:

— Existe a possibilidade de desemprego, as indústrias não sabem se contratam, se realizam investimentos. A gente luta contra a burocracia. Fazemos a nossa parte, mas o Ministério precisa fazer também — finaliza.

Respostas só na semana que vem

Desde o dia 11 de abril a reportagem enviou perguntas para o Ministério sobre as licenças para pesca de tainha. Por meio da assessoria de imprensa, o órgão informou que o processo seletivo ainda seria feito, mas antes disso seria necessário um ordenamento com o Ministério do Meio Ambiente.

Nesta sexta-feira, a assessoria de imprensa avisou novamente que ainda aguardavam um documento chegar para dar andamento ao processo, e que só poderiam responder no meio da semana que vem. 

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Confira as datas:

Pesca artesanal com rede de arrasto (canoa sem motor)
1º de maio a 31 de julho

Pesca artesanal com rede anilhada
15 de maio a 31 de julho

Pesca industrial
1º de junho a 31 de julho