Sob a sombra do maior cartão postal de Florianópolis, trabalha um pescador. De terça a sexta, André Fernandes acorda às 4h e sai para pescar nas águas sobre as quais cerca de 50 mil carros atravessam todos os dias para se deslocar entre a Ilha e o Continente. Seu rancho de pesca fica no pé da Ponte Hercílio Luz, no Centro da Capital.

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Neste sábado (29) em que se celebra o Dia do Pescador, o NSC Total conta a história de André. Ele é um dos muitos pescadores que mantêm viva a pesca artesanal na cidade que tem a atividade como marca cultural. Hoje com 49 anos, ele tira da Baía Norte o sustento de sua família, como aprendeu com o pai aos 6 anos de idade.

— Sou cria daqui, raiz daqui. Eu fui criado na Baía Norte, nossa casa ficava ao lado do Hotel Slaviero. Ali eu morei até os 43 anos. A maioria da nossa família, meus irmãos, meus sobrinhos, todos pescam… o avô também era pescador. Toda a linhagem — diz ele.

O pescador mora em Palhoça, mas passa a maior parte da semana no rancho de pesca, para facilitar o trabalho. Há três anos, ele vive neste ritmo: fica os fins de semana com a esposa, e a semana sob a Ponte Hercílio Luz. Seu irmão, Marcos Alberto, que é o dono do rancho, também pesca diariamente, assim como seu sobrinho.

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— Para a gente, trabalhar aqui embaixo é normal. Mas às vezes, eu arrumando a rede na rua, e o pessoal fica mexendo com a gente ali de cima. Parece que a gente é uma atração, um zoológico. Era melhor quando só passava pedestres na ponte — recorda ele, afirmando que muita coisa mudou desde que a ponte foi reinaugurada, em 2019.

André costuma pescar robalos, garoupas e pescadas-amarelas. Ele também faz mergulhos para capturar mariscos grandes, com cerca de 10 centímetros.

Veja fotos do dia a dia de André


A Baía Norte como quintal

O rancho de André tem cerca de 15 metros quadrados e fica voltado para o mar. As paredes rústicas são repletas de redes de pesca, e também há espaço para itens que deixam o lugar com cara de lar, como a decoração com brinquedos de pelúcia e os utensílios que ele usa para cozinhar.

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Enquanto fica ali, André quase não usa o celular. Ele dorme dentro de uma canoa recheada com cobertores e um saco de dormir, e se alimenta dos peixes que pesca. Às vezes, traz um feijão de casa para completar.

André observa tudo. Recentemente, ele reparou placas de concreto se descolando da Ponte Colombo Salles, alvo de uma vistoria do Ministério Público na última semana. Ele também vem contabilizando bicicletas e patinetes elétricos sendo jogados da ponte.

— Tem gente que diz que aqui é poluído. Poluído entre aspas para mim, que sou cria daqui. Os mariscos que pego são todos limpos. Porque olha a força da maré e do vento. O lixo não para aqui — pontua.

Adaptações

O rancho da família de André tem mais de quatro décadas. Antes, ficava na parte Norte da ponte, perto da antiga casa. Porém, com a reforma da Ponte Hercílio Luz, eles precisaram se mudar. Segundo o pescador, o Departamento Estadual de Infraestrutura (Deinfra) permitiu que eles ficassem somente no lado Sul da ponte, perto de outras moradias e do restaurante Píer 54.

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André diz que chegou a trabalhar como vigilante, mas há três anos se dedica integralmente à pesca. Hoje, André não só sustenta sua família com a atividade, mas também mantém viva a tradição de seus antepassados. E a próxima geração já está seguindo seus passos:

— Tenho uma filha de 24 anos que tem um moleque de 8 meses. Ela é do Oeste (de Santa Catarina). Esses dias, ela mandou um vídeo para mim… “olha, ele já tá comendo peixinho” — alegra-se.

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