A pesca da tainha em Florianópolis registrou queda de 37,9% no número de capturas durante o primeiro mês de temporada na comparação com o último ano. No total, 35,3 mil tainhas foram capturadas pela atividade artesanal até esta quinta-feira (1°) — quando a atividade completa um mês. O número era 56,6 mil na mesma data de 2022.
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O tainhômetro da prefeitura, que mostra o ranking das praias de acordo com o maior registro de captura, contabiliza o primeiro lugar com 9.692 tainhas pescadas na Lagoinha do Norte. No ano passado, esse dado era de 14.030 na Barra da Lagoa.
— Está ruim, não está bonita não. Está feio, horrível — diz Aldori Aldo de Souza, pescador no Sul da Ilha de Santa Catarina.
— Poucas tainhas no momento e as que apareceram foram miúdas — conta Pedrinho, pescador no Moçambique.
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A situação se repete nas diversas praias da Capital. No Campeche, por exemplo, neste primeiro mês apenas cerca de 300 tainhas foram pescadas.
— Está bem fraco, mas estamos firmes e fortes no aguardo da chegada delas — comenta Pedro, dono de um dos ranchos no bairro.
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De acordo com o presidente da Federação dos Pescadores do Estado de Santa Catarina (Fepesc), Ivo Silva, a pesca está fraca devido à falta de vento sul e frio no litoral. Circunstância confirmada também pelo secretário executivo da Aquicultura e Pesca, Tiago Bolan Frigo, que afirma ser a temperatura alta o principal fator para o baixo registro.
Com exceção da Lagoinha do Norte, que ocupa o primeiro lugar no ranking, estão no pódio Ingleses (5.053) e Prainha da Barra da Lagoa (3.871). Logo atrás está Barra da Lagoa (2.836), Ponta das Canas (2.326), Jurerê Internacional (2.241), Daniela (1.868), Brava (1.195), Cachoeira do Bom Jesus (1.055) e Pântano do Sul (992).
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Segundo o oceanógrafo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Paulo Horta, o processo de aquecimento do Atlântico somado à degradação dos ambientes costeiros influenciam para que os peixes não cheguem em grande quantidade em Florianópolis. O cenário, porém, é pandêmico em todas as regiões do Estado e ocorre inclusive com outras espécies de peixes.
A pesca da tainha no Sul do país, em especial no Estado, ocorre no exato momento de reprodução da espécie, o que, conforme explica, dificulta a procriação e a coloca em processo de extinção, como tem sido registrado nos últimos anos.
— Todo um conjunto de fatores, desde a poluição costeira, degradação dos estuários, ocupação da linha de costa, tudo isso vai produzindo uma série de impactos que junto com a pesca acaba fragilizando a população da espécie — explica.
A temporada da tainha tem início em Santa Catarina em 1º de maio com a pesca de arrasto de praia — feita por comunidades que em embarcações pequenas jogam uma rede de cerco para pegar os animais em um “saco”. A rede, assim que o cardume é capturado, é arrastada manualmente pelas extremidades até a areia da praia. Geralmente fazem parte dessa modalidade 10 a 15 pescadores por rancho.
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No Estado existem outras duas modalidades: pesca anilhada e industrial. A atividade anilhada ocorre também com uma rede, porém, ela se fecha no momento da captura. Essa modalidade teve a cota diminuída em 68% esse ano em uma medida publicada pelo governo federal. Ela tem início em 15 de junho e, até então, registrou 33 toneladas de pescados. O número total deve ser, conforme a portaria, 460 toneladas para todo o Estado.
Já a pesca industrial foi proibida em Santa Catarina. O Estado tem tentado reverter a situação, e precisou entrar na Justiça contra a medida. Caso a modalidade siga proibida, prejuízos de R$ 10 milhões podem ser registrados pelo governo.
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Expectativa
Mesmo com a baixa da pesca, o brilho nos olhos dos pescadores não esconde a esperança de uma melhora no segundo mês. Para isso é necessário que um ritual climático específico: o cardume, que sai do sul do Brasil, encosta no Litoral catarinense com a ajuda do vento sul, que traz os peixes. A direção, no entanto, pode atrapalhar quando eles os animais já estiverem em Santa Catarina.
A chuva, apesar de não ser um problema, pode mudar as condições da pesca em um dia de mar agitado.
— Torcemos para que melhore, precisamos de um bom vento sul para que elas cheguem na costa — torce Pedrinho, do Norte da Ilha.
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— Dependemos de fatores climáticos, mas não podemos perder a esperança — conta Luis, pescador do Moçambique.
Cenário ideal
Um cenário ideal para a temporada da tainha, sem que gere prejuízos para a espécie, meio ambiente e ao Estado seria necessário um controle da pesca, segundo especialistas. Apesar de causar todos os impactos, a cultura da pesca da tainha deve ser mantida desde que haja equilíbrio.
O tripé da atividade, que envolve questões sociais, econômicas e culturais, precisa ser gerido com cuidado, conforme Jorge Rodrigues, professor de Engenharia de Pesca e Ciências Biológicas na Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc).
— Não adianta proteger o estoque pesqueiro e fazer com que famílias passem fome, ou o contrário, liberar tudo e prejudicar as populações de tainha. Esse controle precisa ser articulado com todas as pessoas envolvidas, em uma gestão horizontal. Se não cuidar, a curto prazo, a população de tainha pode acabar e, consequentemente, a pesca — afirma.
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