Pouco mais de um mês do início da safra artesanal da tainhacomeçou em 1º de maio — pescadores do Litoral catarinense estão apreensivos. Até o momento foram capturadas 9,5 toneladas do peixe, segundo a Federação de Pescadores do Estado de Santa Catarina (Fepesc). Isso é pouco perto da expectativa de pesca para este ano, que é de 2 mil toneladas. No mesmo período do ano passado, havia sido capturadas 520 toneladas de tainha.

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Filho e neto de pescador, Nildo Vilmar dos Santos, de 53 anos, do rancho de pescadores da Praia Brava, no norte da Ilha, conta que em um mês de safra contabilizou apenas 800 tainhas. Em 2018, na mesma época, já tinha capturado 6 mil.

— Os números em relação ao ano passado são muito baixos. Sempre temos uma média alta, mas esse ano, até agora, está fraco. A notícia que temos é que tem peixe mais para o Sul do Estado, mas aqui ainda não chegou e atribuímos isso ao tempo que não esfriou. Mas a expectativa de mudança é a esperança que nos alimenta todos os dias — diz Nildo.

O cenário começou a melhorar a partir do fim de semana (8 e 9 de junho) com a pesca de 1,5 tonelada de tainha na Praia do Campeche e 3 toneladas na manhã desta terça-feira (11) na Barra da Lagoa.

Outros lanços foram registrados em Imbituba e Garopaba, que somaram menos de meia tonelada. Também houve pesca nas praias da Lagoinha, em Florianópolis, e Laguna, mas com lanços de 200 a 300 tainhas.

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Calor é a principal causa da pouca safra

O calor é um dos maiores vilões dos pescadores que aguardam o peixe mais querido do Litoral. Ivo da Silva, presidente da Fepesc, explica que para dar tainha é preciso que as temperaturas caiam e tenha vento sul.

— A pesca depende muito do clima, tem que ter todo um ritual climático para uma boa safra. Tem que ventar e esfriar para que os peixes saiam da Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul, e do Uruguai e venham para Santa Catarina — explica.

Apesar da safra fraca, Ivo informa que isso já aconteceu em anos anteriores. Em 2015, por exemplo, foram capturadas menos de 3 toneladas de tainha no primeiro mês de safra. Além disso, nos últimos cinco anos, as maiores capturas foram registradas em junho.

— Não esperávamos que demorasse tanto, mas ainda temos esperança que vai dar uma boa safra. A hora que começar a esfriar e der vento Sul, com certeza, os peixes vão aparecer. O pico da safra começa a partir do dia 15 de junho — diz Ivo.

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(Foto: Gabriel Lain / Diário Catarinense )

Pouca mudança no tempo

Até a metade do mês de junho o tempo não deve mudar muito. Segundo informações da Epagri/Ciram, os dias devem ficar secos com sol e variação de nuvens em todo o Estado. As temperaturas continuam elevadas para esta época do ano durante o dia. Entre os dias 19 e 20 uma nova frente fria deve passar pelo Litoral, causando chuva, mas em menor volume.

Perto do fim do mês, o avanço de uma massa de ar frio mais intensa deve provocar o declínio na temperatura, mas ainda permanece a condição de sol na maior parte dos dias.

Preço só diminuirá com a pesca industrial, dizem comerciantes

O peixe mais querido e esperado pelos catarinenses nesta época do ano ainda está com o preço bem salgado. Nas peixarias do Mercado Público de Florianópolis o quilo da tainha custa, atualmente, entre R$ 15 e R$ 18 sem ova e R$ 17 até R$ 20 com ova. O preço, que em épocas de safra boa pode chegar a R$ 10 o quilo, não tem previsão para baixar.

Marcelo Jacques, 48 anos, comerciante de um dos box do mercado, explica que a pesca artesanal, mesmo com boa safra, não é o suficiente para abastecer o mercado. Segundo ele, o que faz o preço cair é a captura feita pelos barcos industriais. No entanto, o Tribunal Federal da 4ª Região suspendeu a pesca industrial um dia após o início da safra, em 1º de junho.

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— O preço só vai baixar se tiver pesca industrial, que captura 40, 50 toneladas. Além disso, a tainha é um peixe de passagem, ela não fica aqui, quando o barco industrial passa, ela tende a descer até a praia e isso ajuda na pesca artesanal — comenta.

Flávio Junior Martins, 31 anos, acredita que, com a suspensão da safra, o preço nas peixarias deve ser mantido, mas pode até subir.

— O povo gosta muito de tainha, mas estamos vendendo pouco, nada comparado aos outros anos. Se continuar assim, com pouca tainha vindo dos barcos, o preço tende a aumentar — afirma.

Segundo Marcelo, muita gente já começou a procurar pelo peixe, mas o preço e a pouca quantidade, afastam os fregueses.

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— Todo ano a tainha muda a cara da cidade, porque não tem quem não goste desse peixe. Frito, ensopado, assado, tainha é deliciosa e nessa época todo mundo quer tainha — diz Marcelo.