Ao se aproximar dos 100 mil casos de coronavírus, Santa Catarina vive neste início de mês o período de maior aceleração da doença, o que torna a curva do contágio ainda maior. Do último domingo (2), até essa quinta-feira (6), uma média de 2,3 mil casos foi divulgada por dia pelo governo estadual. Significa que, somente nos últimos cinco dias, 11,7 mil pessoas tiveram os diagnósticos confirmados para o vírus no Estado. E a tendência, segundo especialistas, não é de estabilidade.
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Segundo o geógrafo, Eduardo Werneck Ribeiro, professor do Instituto Federal Catarinense e integrante da Rede Nacional de Geógrafos para Saúde, ainda não é possível prever em que momento o Estado vai chegar ao pico da doença e, consequentemente, ao platô – fase em que os números estabilizam no alto e antecede a queda. No entanto, segundo o especialista, há uma certeza: a curva fica cada vez mais inclinada.
– Não vai acabar nem em setembro, o que nos parece que está se desenhando. (A curva) está mais para um pico Everest do que para uma chapada – diz o geógrafo, comparando a montanha de maior altitude do mundo e uma área de menor elevação.
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Epidemiologista e professor do Departamento de Saúde Pública da Universidade Federal de Santa Catarina, Lúcio Botelho, afirma que é difícil avaliar um cenário futuro com o atual panorama do Estado, que varia entre novos decretos com medidas mais rígidas de enfrentamento ao vírus e flexibilizações:
– A gente não sabe no que se aposta. A gente não tem uma linha uniforme, coesa e coerente (de ações impostas pelas gestões estadual, federal e municipais). Em tese, a gente deveria tender a uma estabilidade. Eu diria que estamos numa tendência de ida ao platô, mas não creio que já chegamos ao ápice.
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Em entrevista exclusiva à NSC, o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, também avaliou que Santa Catarina enfrenta uma fase de “transmissão intensa” do novo coronavírus.
– Eu acredito que vocês [em Santa Catarina] passam julho e passam um bom período de agosto até virem para uma situação de chegar próximo ao nível em que esse vírus consegue ter um pouco mais de equilíbrio com o sistema imunológico das pessoas.
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Pandemia em ondas
As primeiras notificações do vírus ocorreram na região litorânea de Santa Catarina, com pacientes que estavam em Florianópolis, no início de março. Em seguida, houve o primeiro registro de transmissão comunitária no Sul do Estado. O Oeste, logo em seguida, viveu uma explosão de casos, ligada especialmente aos trabalhadores de frigoríficos. Depois, houve novos picos no Norte, especialmente em Joinville, e no Vale do Itajaí, regiões que ainda convivem com a situação grave. Por fim, a Serra começa a aparecer com mais frequência nos registros de covid-19, inclusive com decretos de lockdown em alguns municípios.
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Ainda na época em que houve um surto na região Oeste de SC, o secretário de Estado de Saúde, André Motta Ribeiro, alertou que “essa pandemia viria em ondas“, afetando regiões em momentos diferentes. Segundo o epidemiologista Lúcio Botelho, essas ondas são “um comportamento de uma epidemia em uma sociedade”.
– Joinville e Itajaí são as cidades que mais aumentam mortes e casos do ponto de vista percentual. Joinville é o município que menos parou a economia. Há uma enorme quantidade de indústria, aglomeração de pessoas. É o comportamento em Joinville. A situação dos frigoríficos ocorreu no Oeste e no mundo inteiro, não por causa do frio, mas pela aglomeração – explica.
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Na mesma linha, Botelho critica a proibição dos serviços de transporte coletivo, enquanto outras atividades, como comércio e indústiras, por exemplo, seguem abertas. Isso, porque, a população vai buscar outras formas de se deslocar e manter o emprego, inclusive através de transporte clandestino:
– (Assim), o nível de isolamento não vai parar de cair. O gestor tem que mostrar o caminho, senão, cada um vai buscar o que melhor lhe convir. E uma epidemia é sempre uma doença com caráter coletivo muito grande.
A taxa de isolamento social divulgada na última quarta-feira (5), estava em 34,6% em Santa Catarina. O ideal, no período de pandemia, é ficar acima de 60%, segundo já avaliou a Secretaria de Estado de Saúde de SC, o que ocorreu somente em março (veja em detalhes no gráfico abaixo), quando o governador Carlos Moisés da Silva decretou situação de emergência no Estado.
Picos regionalizados
A disseminação do vírus em Santa Catarina ocorreu de maneira distinta no território. Primeiro, se espalhou pelo Litoral, com epicentros na região de Joinville, Itajaí, Florianópolis, Tubarão e Criciúma, um eixo interligado pela BR-101 que facilita a circulação de pessoas que trabalham e moram em cidades diferentes. Depois, em abril, foi no Oeste que começou uma explosão de contágio, especialmente no eixo Concórdia-Chapecó-Xanxerê. A região por semanas se tornou a mais crítica do Estado. A partir de julho cresceram os casos no Planalto Norte e na Serra, que até então ostentavam a maioria dos municípios livres da covid-19. Hoje, restaram apenas duas cidades sem casos: Urupema, na Serra, e Barra Bonita, no Oeste.
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Agora em agosto, a média móvel de Santa Catarina (que considera a média de novos casos divulgados nos últimos sete dias) continua inclinada em ascensão. Essa arrancada começou em 22 de julho, quando a média era de 1.471 novos casos divulgados, e saltou para 2.699 novos diagnosticados no último dia 2.
Das 20 microrregiões do Estado (veja em detalhes no gráfico abaixo, escolhendo a região desejada), 18 apresentam a linha em ascensão. Apenas Xanxerê, Ituporanga e Canoinhas ensaiam uma queda no número de novos diagnosticados com coronavírus.
Em regiões como Tubarão, Concórdia, Lages e Blumenau é visível a presença de vários picos, superados pelo ápice alcançado a partir de julho.
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Os planos regionais de saúde estão aí, era só ter seguido. É uma pena que perdemos essa oportunidade, os gestores estão aguardando a vinda da vacina.
De acordo com geógrafo, Eduardo Werneck Ribeiro, como cada região de SC tem sua dinâmica de contaminação, o vírus se propaga de maneira peculiar em cada município, o que demanda um olhar para as particularidades de cada área.
– Como o vírus já espalhou pelo estado, teremos diferentes formas de difusão de picos. Cada cidade terá picos diferenciados. É necessário, então, um esforço de regionalizar os serviços, pois só vai funcionar quando ocorrer essa movimentação e controle conjuntos. E estamos muito bem estruturados, com associações muito bem definidas. Há todo um aparato de organização, mas o que falta é liderança. E foi o que culminou essa loucura desse pico que estamos vivendo – analisa.
Onde estão os casos ativos
Apenas 22 cidades das 293 que já registraram pelo menos um caso de covid-19 não apresentam mais nenhum paciente em tratamento contra a doença. Há casos ativos em todas as regiões do Estado, portanto com possibilidade de continuar transmitindo o vírus, com mais incidência nas microrregiões de Joinville, Blumenau, Itajaí, Grande Florianópolis, Lages, Concórdia, Chapecó, Criciúma e Tubarão.
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Em todo o Estado, havia 11.364 pacientes ainda em tratamento contra a covid-19 em Santa Catarina, 35% deles vivem apenas em Joinville, São José, Blumenau, Florianópolis, Tubarão, Criciúma e Palhoça.