Depois de sete meses de viagem, o rover Perseverance da Nasa tentará pousar em Marte nesta quinta-feira, dia 18, em uma manobra perigosa que marcará o início de uma busca de vários anos para encontrar vestígios de vida antiga. A missão Mars 2020, que foi lançada da Flórida no final de julho, carrega o maior e mais avançado veículo já enviado ao planeta vermelho, o Perseverance.

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> Trailer mostra como será pouso da Perseverance em Marte; assista

Construído no lendário Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) da Nasa, ele pesa uma tonelada, está equipado com um braço robótico com mais de dois metros de comprimento, 19 câmeras e, pela primeira vez, dois microfones. O pouso poderá ser assistido ao vivo no site da Nasa.

Se chegar intacto, será o quinto rover a fazer a viagem desde 1997. Até agora todos eram americanos e um deles, o Curiosity, ainda está em operação. Mas na semana passada a China colocou na órbita de Marte a sonda “Tianwen-1”, que contém um robô controlado remotamente que deve tentar pousar entre maio e junho. 

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Infográfico explica pouso do rover Perseverance em Marte

ORBITANDO
PERSEVERANCE
O rover Perseverance foi lançado pelo foguete Atlas V, fornecido pela United Launch Alliance. O evento aconteceu às 07h50min da manhã (9h50min pelo horário de Brasília) em 30 de julho de 2020, na Base da Força Aérea no Cabo Canaveral, Flórida (EUA).
Fonte de energia
As baterias da são abastecidas por uma fonte nuclear, baseada na disponibilização de energia a partir da fissão nuclear de plutônio.
Conjunto de câmeras
As câmeras capazes de fazer imagens ampliadas e tridimensionais de Marte, auxiliando no sistema de navegação. Um feixe de laser está acoplado ao sistema, capaz de vaporizar amostras de rocha para que um sistema de sensores analise a composição das mesmas.
Gerador de oxigênio
Com o tamanho de uma bateria de carro, este é um experimento que tentará produzir oxigênio (O2) a partir do dióxido de carbono (CO2) presente na atmosfera de Marte.
Braço robótico
A estrutura móvel possui uma série de instrumentos associados, capazes de extrair e analisar amostras do solo marciano, buscando possíveis traços de vida ancestral no local.
SETE MESES ATÉ MARTE
O módulo de controle de voo executa várias manobras de correção de trajetória para guiar o conjunto até o destino.
O POUSO
Como os sinais de comando da Terra para Marte levam vários minutos para chegar, todo o procedimento de pouso deve ser feito de modo autônomo. O desafio dessa fase da viagem passa por ter que reduzir drasticamente a velocidade inicial muito alta da sonda, mas de uma forma devidamente controlada para que ela não seja nem despedaçada nem queimada pela intensa interação com a atmosfera marciana. Todo o processo de pouso dura cerca de 7 minutos.
Após quase sete meses cruzando o espaço, o módulo se aproxima do planeta vermelho.
liberação do módulo de controle da viagem
Ao adentrar na atmosfera de Marte, a velocidade será de cerca de 20.000km/h.
O escudo térmico atinge 1.300 ºC
A interação com a atmosfera reduz a velocidade
para cerca de 1.600 km/h.
A 11km do solo, o paraquedas supersônico se abre, reduzindo a velocidade para cerca de 300 km/h.
O escudo térmico é descartado
Módulo
de descida
Perseverance está aqui
A 2 km da superfície, o escudo térmico é liberado e
o módulo de descida controlada se solta da estrutura do paraquedas.
O sistema fotografa e escaneia a superfície de Marte para definir o local de pouso
Foguetes reduzem a velocidade para cerca de 3 km/h, enquanto se dirige para o local do pouso.
A cerca de 20 metros de altura, a Perseverance é baixada por cabos de náilon, que são cortados assim que a sonda toca o solo. O módulo de descida se afasta para se autodestruir.
A sonda Perseverance pousará na cratera Jezero, com 45 km de largura.
INGENUITY, O DRONE
Pesando dois quilos, a máquina foi enviada de carona na Perseverance, tendo como objetivo fazer um voo autônomo e controlado na atmosfera rarefeita de Marte. Sendo bem sucedido, abrirá novas possibilidades de exploração aérea em outros astros com atmosfera no Sistema Solar. A tarefa é difícil, pois a pressão atmosférica na superfície marciana é menor que 1% da que temos na Terra.
1,2m
Bateria solar
0,5m
Hélices de fibra de carbono
O corpo possui isolamento e aquecedores para manter o equipamento eletrônico funcional nas baixas temperaturas de Marte.
UM PLANETA VERMELHO
O planeta vermelho tem essa cor característica graças ao óxido de ferro na superfície, que também é encontrado no na ferrugem, por exemlpo. A crateza Jezero foi escolhida como local de pouso porque um dos objetivos da Perseverance é procurar por sinais de vida ancestral em Marte. Como se estima que lá foi o local da foz de alguns rios, há mais de 3,5 bilhões de anos, há chances desses fluxos de água terem depositado materiais que deixaram pistas no solo da cratera sobre eventuais formas de vida marcianas.

Outras missões estão a caminho de Marte. As missões Tianwen-1 (China) e Hope (Emirados Árabes) devem começar a orbitar Marte a partir de fevereiro de 2021. A missão chinesa deve pousar em Marte em algum momento ao longo do ano, enquanto a Hope é uma sonda apenas orbitadora.
MARTE
6.790 km
-63ᵒC
687 dias
Fobos e Deimos
TERRA
12.750 km
+14ᵒC
365 dias
Lua
Diâmetro
Temperatura média
Duração do ano
Satélites naturais
INFOGRAFIA: Ben Ami Scopinho, NSC Total
ILUSTRAÇÃO PRINCIPAL: Pedro Cardenuto
DESENVOLVIMENTO WEB: Ângela Prestes
FONTE: Marcelo Schappo, Físico do IFSC

Perseverance quer identificar lagos e rios em Marte

Os cientistas acreditam que há mais de 3,5 bilhões de anos a cratera de Jezero abrigava um lago profundo com cerca de 50 km de largura. Na época, “Marte era muito semelhante à Terra em muitos aspectos. Tinha uma atmosfera significativa, lagos e rios, (…) lugares onde organismos que conhecemos poderiam ter prosperado. Estes são os únicos ambientes habitáveis que conhecemos além da Terra”, explica o geoquímico, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, Ken Farley.

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Mars 2020 é a primeira missão com o objetivo explícito de provar que ali existiu vida. Perseverance, que se desloca três vezes mais rápido que os rovers anteriores, terá que percorrer, ao longo de vários anos, mais de 20 quilômetros em diferentes ambientes. Primeiro o delta formado por um rio que desaguava no lago na época, depois o que poderia ser sua margem e, por último, terá que escalar a borda da cratera.

Amostras do solo de Marte serão investigadas em busca de vida

Em cada local serão coletadas amostras – até 30 no total – que serão analisadas pelos mais avançados laboratórios da Terra em busca de possíveis vestígios microscópicos de organismos antigos. Os tubos contendo as amostras serão cuidadosamente preservados até que uma missão posterior possa coletá-los, na década de 2030.

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Ilustração mostra como é o rover perseverance, que fará pouso em Marte
Ilustração mostra como é o rover Perseverance, que fará pouso em Marte (Foto: Pedro Cardenuto)

A ideia da Nasa é que as amostras sejam primeiro colocadas em um foguete e colocadas em órbita, para então serem recuperadas por outra espaçonave durante um encontro espacial.

Os cientistas que vão estudar essas amostras ainda estão na escola, podem nem ter nascido ainda 
Ken Farley, geoquímico

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Como seria esse tão esperado traço de vida? “Não devemos esperar um dente fóssil, um osso ou uma folha”, alertou o cientista. Mas sim vestígios de vida microbiana. Uma descoberta que seria “fabulosa”. No entanto, os primeiros meses da missão não serão dedicados a este primeiro objetivo. Experimentos paralelos também estão planejados.

Nasa fará experimento inédito com Perseverance

Especificamente, a Nasa quer pilotar uma espaçonave motorizada em outro planeta pela primeira vez. Um pequeno helicóptero chamado Ingenuity terá que ser capaz de voar com uma densidade equivalente a 1% da densidade da atmosfera terrestre.

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Outro objetivo é se preparar para futuras missões humanas, experimentando a produção de oxigênio diretamente no local. Um instrumento chamado Moxie, do tamanho de uma bateria de carro, deve ser capaz de produzir até 10g de oxigênio em uma hora, sugando o dióxido de carbono da atmosfera marciana, como uma planta.

Este oxigênio poderia ser usado por futuros colonos humanos para respirar, mas também como combustível. A Nasa investiu cerca de US$ 2,4 bilhões para construir e lançar a missão Mars 2020. O custo de pouso e operações de campo é inicialmente estimado em US$ 300 milhões.

Veja o vídeo da Nasa com a simulação do pouso da Perseverance

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