Não é comum você encontrar alguém no Instagram que se descreve como “analista de manchas de sangue”. O perfil da perita criminal Renata Botelho Brasil, 35 anos, no entanto, não tem nada de assustador. Pelo contrário, a catarinense tem usado as redes sociais para explicar o próprio trabalho de forma didática e mostrar a importância da perícia para resolver crimes.
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No perfil pessoal no Instagram, a “perita influencer”, que atua no Instituto Geral de Perícias de SC (IGP), em Rio do Sul, no Alto Vale do Itajaí, posta fotos de cenas do crime e bastidores do seu trabalho e treinamentos. Ela mostra que a profissão vai muito além do glamour que as séries de televisão norte-americanas, como CSI e Dexter, mostram. Por trás de cada investigação, são necessários muito estudo e análises baseadas na ciência.

— Eu comecei a usar o Instagram para encontrar colegas de outros estados, porque aqui a gente fica um pouco sozinho, somos apenas três peritos. Então, eu vi que as pessoas começaram a divulgar a perícia, de uma forma responsável. Ou seja, não mostrando pessoas. A gente mostra situações, não aponta, não fala de caso específico — explica.
Tudo começou como uma forma de se conectar com colegas de profissão, mas Renata viu a oportunidade de ir além.
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— Na verdade, o que eu quero é falar que a perícia é imprescindível. Que ela é importante, que ela tem que ser isenta. Ela não pode ser influenciada pela investigação policial, que é subjetiva. Porque a gente vai provar o que realmente aconteceu usando a ciência — explica a perita.
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O começo na carreira de perita criminal
Natural de Florianópolis, Renata conta que começou na profissão há 11 anos por acaso. Formada em fonoaudiologia, ela passou em um concurso para perito criminal na Capital, na área de fonética, para atuar analisando e comparando a voz de suspeitos de um crime.
— Fui chamada para o concurso e entrei na academia de perícia. Na academia, a gente aprende não só sobre a área para a qual a gente foi chamado, mas também em geral. Então, eu sempre digo que eu não escolhi a profissão, que ela acabou me escolhendo. Porque nunca fui daquelas pessoas que assistia séries e tudo mais, sabe? Foi natural — conta.
Depois de um ano atuando na área de fonética em Florianópolis, ela foi morar em Rio do Sul. Como a análise de voz é feita apenas em laboratórios nos maiores municípios do Estado, como Florianópolis e Joinville, em outras cidades os peritos precisam analisar os crimes de forma geral. Foi quando Renata começou a atuar em todas as áreas da perícia.
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— Cada vez mais eu me apaixono pela profissão, porque a gente vê que pode resolver os crimes e trazer justiça, por meio de aspectos objetivos. A gente não lida com uma investigação subjetiva, do que, por experiências próprias e pessoais, achamos que pode ter acontecido. A gente lida com provas materiais. Eu tenho que coletar os materiais, fazer uma análise científica e resolver os crimes dessa forma. Então, isso é apaixonante, sabe? — diz a perita.
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Diferenças entre a profissão nas séries e a vida real
Renata relata que depois que começou a trabalhar na área, passou a assistir algumas séries que fazem sucesso para ver como a profissão é retratada. Ela explica que, apesar de ser ficção, há processos semelhantes, mas o tempo que leva para a resolução dos crimes é muito maior na vida real. Além disso, todo o glamour da televisão não existe na prática.
— Há uma semelhança em relação às evidências que são coletadas, mas não é tão rápido assim. Você não coleta a amostra, vai lá no banco de dados e pronto. As coisas são um pouco mais lentas. E também não é tão glamouroso como aparece nas séries. A gente vai no meio do mato, sai toda suada e com lama no pé — conta ela.
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A perita lembra que já ajudou a solucionar casos marcantes. Desde uma ocorrência de furto em que a papiloscopia (coleta de digital em local de crime) apontou o autor, até um caso de feminicídio em Ituporanga, em que o namorado matou e esquartejou a vítima. O exame pericial de reprodução simulada junto com o exame de busca de vestígios com a utilização de luminol apontou a dinâmica do crime (local de esquartejamento).
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“Perita influencer”
As postagens de Renata no Instagram atingiram um grande público. Até a publicação desta reportagem, seu perfil tinha 8,3 mil seguidores. Hoje, ela é uma referência no Estado e influencia outras pessoas da área a postarem sobre o seu trabalho para desmistificar os processos e mostrar a importância dos profissionais da perícia:
— Eu fui uma das primeiras do Estado a fazer, e no começo é difícil, porque existe um preconceito. Mas as pessoas me apoiaram, a minha direção também me apoia. E agora alguns servidores novos também começaram a usar o Instagram. Eu fico feliz que estou sendo referência pra isso, pra que a gente possa divulgar de forma responsável a perícia. Não falando como a gente faz, mas que o resultado daquilo é benéfico para a população.
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