O que passageiros do ônibus que despencou em uma ribanceira na BR-386, no oeste de Santa Catarina – deixando 10 mortos e 29 feridos -afirmavam como causa do acidente se confirmou com a conclusão do laudo pericial. Houve, de fato, problemas no freio. A conclusão das investigações, porém, ainda depende do depoimento das vítimas e informações sobre o verdadeiro proprietário do veículo.
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De acordo com o dono da TransBrasil, nome que consta na lataria do ônibus, o contrato com a empresa que prestava o serviço teria sido rompido 20 dias antes do acidente e os bilhetes vendidos ao grupo da excursão seriam falsos.
Delegado Eric Rosado, que cuida do caso, garante que todos serão ouvidos. Isso porque existem três possíveis responsáveis pela viagem que levaria 39 evangélicos de Foz do Iguaçu (PR) para um evento religioso em Horizontina (RS): Kadma Transportadora Turística (que consta na documentação encontrada dentro do ônibus), Nosimar da Silva Coelho (que aparece no sistema atualizado da PRF) e a TransBrasil, empresa que atua em todo o país e tem por costume arrendar ônibus para prestar serviços de transporte.
Em documento enviado pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), o laudo de inspeção do veículo estaria em dia, com vencimento para 20 de agosto. Mas o delegado ainda aguarda por mais informações, que especifiquem a relação entre os donos do ônibus e a TransBrasil.
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Segundo Ivan Camargo, um dos organizadores da excursão, quem fez os contatos e contratou a empresa foi o amigo Silvio Pereira, que morreu no acidente. Ele conta que para diminuir custos, fretaram somente o ônibus e quem dirigia era Ezequiel da Silva, membro da igreja e motorista profissional que não teria relação com os proprietários do veículo.
Dificuldade de acesso aos cintos e corrosão na carroceria
De acordo com a perícia, a perda do freiodecorreu de um aquecimento no sistema de frenagem, devido ao uso intenso – sem detalhar se foi por falta de manutenção. O laudo aponta que isso “gerou a perda de controle da condução do ônibus”. A perícia também confirma dificuldades em acesso aos cintos de segurança e corrosão da carroceria, que reduziriam a resistência mecânica do veículo – o que contribuiu para maximizar as consequências do acidente.
Minutos antes do acidente, Ivan Camargo foi chamado na cabine para rever a rota da viagem. Ele conta que uma luz vermelha no painel chamou a atenção e, ao testar o freio, o motorista teria confirmado que havia problemas. O ônibus percorreu, com o motor desligado, cerca de 500 metros até se perder em uma curva. O acidente aconteceu na manhã do dia 22 de junho.
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Representantes da Kadma Transportadora de Veículos e Nosimar da Silva Coelho, que aparecem como possíveis proprietários do ônibus, não foram localizados pela reportagem.
“Venderam bilhetes falsos” – diz proprietário da TransBrasil, Irandir Oliveira
Dono de um império de transportes (a TransBrasil atua em mais de 300 cidades e fatura cerca de 50 milhões por mês), muda a versão pós-acidente – em que garantia a manutenção do ônibus e dizia acreditar em falha humana – e afirma que havia rompido o contrato com proprietários do ônibus.
Diário Catarinense – Qual é a relação da TransBrasil com os proprietários do ônibus?
Irandir Oliveira – Nós arrendamos o ônibus para suprir dois períodos de pico, no fim do ano passado e em maio. Rompemos o contrato 20 dias antes do acidente no oeste de Santa Catarina. Não sabíamos que ainda usavam a nossa marca.
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DC – Os bilhetes vendidos eram da TransBrasil…
Oliveira – Eles venderam bilhetes falsos. Já registramos até boletim de ocorrência.
DC – No dia do acidente o senhor garantiu que o ônibus estava com a manutenção em dia, assumiu ser o responsável pelo veículo. O senhor não sabia do rompimento do contrato?
Oliveira – Metade da nossa frota é arrendada, temos parceria com muitas empresas. Eu soube depois que aquele ônibus não era mais nosso. Garanti que havia manutenção porque nós somos muito rígidos na contratação do serviço e qualquer ônibus com a nossa marca tem manutenção em dia.?