Em um de seus primeiros atos de governo, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) assinou uma Medida Provisória (MP) que reduziu de 29 para 22 o número de ministérios e distribuiu algumas funções de uma pasta para outra. O ministro Sergio Moro, por exemplo, perdeu a Funai e ganhou o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

Continua depois da publicidade

No entanto, para que tenha força de lei, a MP 870 precisa ser referendada pelo Congresso. Se não for votada até 3 de junho, ela perde a validade, e Bolsonaro terá de recriar todos os ministérios extintos após a gestão do presidente Michel Temer (MDB).

Desde que foi editada, a MP expôs a fragilidade da articulação política do governo e virou objeto de pressão contra Bolsonaro, encabeçada pelo grupo informal de partidos conhecido como centrão e que reúne legendas como PP, DEM, PR, PRB, MDB e Solidariedade.

Agora, aliados do presidente correm para que a medida provisória passe pelo plenário de Câmara e Senado até o final da próxima semana. O centrão, por exemplo, já sinalizou uma trégua para votá-la. Abaixo, confira perguntas e respostas para entender a MP e seus desdobramentos.

O que é a MP 870?

Continua depois da publicidade

Assinada pelo presidente no primeiro dia de governo, a medida provisória da reestruturação do governo enxugou de 29 para 22 o número de pastas -na campanha eleitoral, Bolsonaro chegou a prometer uma Esplanada com apenas 15 ministérios.

A MP, por exemplo, extinguiu o Ministério do Trabalho, ao distribuir as suas atribuições a três pastas (Economia, Justiça e Cidadania). O texto também transferiu a Cultura para o Ministério da Cidadania.

Outro ponto de destaque foi a transferência do Coaf do antigo Ministério da Fazenda para o Ministério da Justiça – uma reivindicação do ministro Sergio Moro.

Já a Funai (Fundação Nacional do Índio) saiu da Justiça e foi para o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, sob o comando de Damares Alves. Para que vire uma regra fixa, a MP precisa ser referendada pela Câmara e Senado. O prazo final para que isso ocorra é 3 de junho,uma segunda.

Continua depois da publicidade

Quais ministérios não mudaram?

Ao todo, 17 ministérios permaneceram inalterados: Casa Civil, Defesa, Relações Exteriores, Infraestrutura, Agricultura, Educação, Saúde, Minas e Energia, Ciência Tecnologia e Inovação, Meio Ambiente, Turismo, Controladoria-Geral da União, Secretaria-Geral da Presidência, Secretaria de Governo, Gabinete de Segurança institucional, Advocacia-Geral da União e Banco Central.

O que aconteceu com a MP 870 depois de assinada?

Com as atenções voltadas à reforma da Previdência, a MP 870 foi relegada a segundo plano no Congresso.

Somente no último dia 10 de abril, menos de dois meses antes do prazo de expiração, foi instalada uma comissão mista (com deputados e senadores) encarregada de analisar pontos da proposta e colocar as suas medidas em discussão.

O relatório aprovado pela comissão agora será submetido à votação nos plenários de Câmara e Senado.

O que diz o relatório aprovado pela comissão?

A comissão impôs algumas derrotas ao governo. A principal delas foi a decisão de retirar o Coaf da pasta da Justiça, transferindo-a para o Ministério da Economia.

Continua depois da publicidade

Apesar do discurso do governo de que a permanência do órgão na Justiça era fundamental para o combate à corrupção, venceu a pressão de integrantes do centrão e da oposição, em uma importante derrota que expõe a fragilidade da base aliada do governo federal no Congresso.

Votaram pela mudança representantes de PP, PR, PSD, DEM, MDB, PSDB, PT, PDT e PSB.

Outra derrota na comissão foi entregar de volta ao Ministério da Justiça tanto a Funai (que, segundo texto original da MP, está com o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos) como o processo de demarcação de terras indígenas, que havia sido transferido para o Incra, no Ministério da Agricultura.

Ainda na comissão, foi mantido o jabuti (artigo que nada tem a ver com a matéria) que altera uma lei de 2002 e veda a investigação de crimes não fiscais por auditores fiscais.

O que fez o governo?

Para tentar aprovar a MP na comissão especial do Congresso, o governo Bolsonaro cedeu e concordou com a criação das pastas de Cidades e Integração Nacional, a partir o desmembramento do Ministério do Desenvolvimento Regional.

Continua depois da publicidade

O principal atrativo das novas pastas, para os políticos, são os cargos em Brasília e nos estados, loteados entre os apadrinhados, e a condução da execução das emendas parlamentares, que é o dinheiro do Orçamento direcionado para obras e investimentos nos redutos eleitorais dos congressistas.

O que justifica esse impasse?

Como pano de fundo para a pouca disposição do Congresso na tramitação da MP está a insatisfação dos parlamentares com o Palácio do Planalto. Eles alegam falta de diálogo com o presidente e ministros e reclamaram da atuação de líderes do governo no Legislativo.

Também há disputa de poder dentro do próprio partido do presidente, o PSL. O deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO), que é próximo de Bolsonaro, tem relação péssima com o ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil) e disputa poder com a líder do governo no Congresso, a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP).

Nesta terça-feira, porém, partidos do chamado centrão sinalizaram pela votação e aprovação da MP.

O que é o centrão?

O centrão é um grupo informal formado de partidos que, apesar do discurso geral de apoio ao governo Bolsonaro, não têm se alinhado automaticamente ao presidente.

Continua depois da publicidade

São associados por bolsonaristas como a "velha política". Inclui parlamentares de DEM, PP, PSD, PR, PTB, PRB, Pros, Podemos, Solidariedade, entre outras siglas menores -na Câmara, somam cerca de 200 dos 513 deputados federais.

E o que acontece se a MP não for aprovada pelo Congresso?

Se a medida provisória que reestrutura a Esplanada não for aprovada até o dia 3 de junho na Câmara e no Senado, ela perderá validade. Com isso, voltaria a valer a composição de ministérios do governo de Michel Temer (MDB) – incluindo a restauração do Ministério do Trabalho e o da Cultura. A criação e extinção de ministérios precisam ser autorizadas por lei, o que ocorre com a aprovação de uma MP.

Qual foi a resposta dos parlamentares?

Às vésperas de manifestações de rua que têm o Congresso como um dos focos de ataque, líderes do chamado centrão fecharam nesta terça-feira (21) um acordo com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para votar ainda nesta semana a medida provisória que reorganiza a estrutura do governo.

A articulação conduzida por Maia é uma resposta a apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PSL), que têm acusado deputados e senadores de atuarem contra os interesses do país.

Continua depois da publicidade

No acordo fechado nesta terça, o centrão decidiu apresentar um texto para derrubar a recriação do Ministério das Cidades, como resposta a críticos que afirmam que deputados e senadores querem voltar com as práticas da "velha política".

Além disso, a intenção de Bolsonaro de manter o Coaf sob controle do Ministério da Justiça, como vem reivindicando Sergio Moro, continua pendente.

O que é o Coaf?

Criado em 1998, o Coaf é um órgão de inteligência financeira que investiga operações suspeitas. Recebe informações de setores que são obrigados por lei a informar transações suspeitas de lavagem de dinheiro, como bancos e corretoras. O conselho analisa amostras desses informes e, se detectar suspeita de crime, encaminha o caso para o Ministério Público.

Durante a crise do Mensalão, ofícios do Coaf entregues à CPI dos Correios indicaram, por exemplo, grande volume de saques em espécie por parte da SMPB, empresa de Marcos Valério, o operador que abasteceu o esquema de pagamentos a políticos da base do governo petista.

Continua depois da publicidade

Mais recentemente, o Coaf identificou movimentações atípicas de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ). De acordo com o órgão, Queiroz movimentou R$ 1,2 milhão de janeiro de 2016 ao mesmo mês de 2017 – entraram em sua conta R$ 605 mil e saíram cerca de R$ 600 mil. A quantia foi considerada incompatível com o patrimônio do ex-assessor de Flávio Bolsonaro.

Assine o NSC Total para ter acesso ilimitado ao portal, ler as edições digitais do DC, AN e Santa e aproveitar os descontos do Clube NSC. Acesse assinensc.com.br e faça sua assinatura.