Desde que Barack Obama entrou em seu segundo mandato na presidência dos Estados Unidos, o mundo foi tomado por uma incerteza.

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Afinal, Beyoncé dublou ou não a própria voz ao cantar o hino na cerimônia de posse?

Bobo e, ao mesmo tempo, significativo, o imbróglio foi mais ou menos assim: na terça-feira, uma fonte garantiu que ela dublou. Mais tarde, outra fonte negou. No dia seguinte, um oficial que não se identificou afirmou à CNN, novamente, que sim. Até o fechamento desta edição, a cantora não havia se pronunciado.

A dublagem – quando um artista finge cantar ou tocar enquanto o público ouve uma gravação – é um dos maiores tabus do mundo dos espetáculos. Muitos praticam, mas raramente alguém assume. A história se faz com dedos-duros, como Leone Magiera. Em 2008, o maestro e pianista publicou um livro sobre Luciano Pavarotti em que revelou que o célebre tenor dublou a ária Nessun Dorma, de Puccini, durante uma apresentação nos Jogos Olímpicos de Inverno de Turim, em 2006. Já debilitado pelo câncer que seria diagnosticado meses depois, Pavarotti não se sentiu seguro para cantar ao vivo. Não foi a única vez a que recorreu ao recurso da dublagem. Ele havia feito o mesmo em uma apresentação em Modena, sua cidade natal, em 1992.

São vários os motivos que levam um artista a dublar a própria voz. Um deles é a expectativa de uma parcela do público de que a performance reproduza a versão das músicas que aparece nos discos.

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– O público gosta de repetição. As pessoas querem sempre ouvir as mesmas coisas. Quando o Bob Dylan recria suas músicas nos shows, algumas pessoas reclamam – afirma o jornalista especializado em música Juarez Fonseca.

Fartamente utilizada em programas de auditório na TV, de Chacrinha aos nossos dias, a dublagem é questionada de forma mais acintosa quando aparece em shows. Se o público pagou pelo ingresso, tem o direito de ver seu artista favorito cantando ao vivo, defende Thedy Corrêa, da banda Nenhum de Nós:

– Não vou citar nomes, mas muita gente se vale desse recurso porque não se sente seguro ou porque tem limitações. Ou até porque a agenda é muito pesada e prefere fazer isso em determinada apresentação.

O jornalista e comunicador Beto Xavier, da Itapema FM, garante que assistiu a grandes bandas brasileiras dublarem em shows no início da carreira.

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– É como ir a um jogo em que os times estão apenas cumprindo tabela – define.

Hoje, a tecnologia facilita não apenas a dublagem, mas também a correção da voz em tempo real. Programas como Auto-Tune e Melodyne garantem que os artistas estejam sempre dentro do tom.

– São bastante utilizados, tanto em discos quanto em shows – atesta o engenheiro de som Marcos Abreu.

Um dos casos mais flagrantes ocorreu com a dupla alemã Milli Vanilli, que perdeu um prêmio Grammy, em 1990, depois que foi revelado que as vozes ouvidas nas gravações e nos shows não eram sequer dos integrantes. Caso semelhante ocorreu nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, quando Lin Miaoke, nove anos, comoveu o mundo com sua voz – que, na verdade, não era dela, mas de uma garota de sete anos chamada Yang Peiyi, considerada pela organização do megaevento menos fotogênica do que a primeira.