O recepcionista que recusou hospedar a cantora e apresentadora Ana Vitória, a MC Trans, em um hotel de Blumenau, foi indiciado pela Polícia Civil nesta terça-feira (7). Ele teria cometido transfobia em outubro do ano passado, ao negar o check-in por conta do “perfil conservador do estabelecimento”, mesmo com a reserva feita pela artista e o marido.

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O caso foi apurado pela Delegacia de Repressão ao Racismo e a Delitos de Intolerância de Santa Catarina, criada em 2022. Conforme o delegado responsável, Arthur Lopes, é o primeiro indiciamento por “recusar hospedagem em hotel por motivo de transfobia” que a instituição registra. O crime pode resultar de três a cinco anos de reclusão, em caso de condenação.

O indiciado é o recepcionista de 55 anos que atendeu o casal naquela noite de 13 de outubro no Hotel Salto do Norte, às margens da BR-470. Ao NSC Total, a mulher transgênero, de 35 anos, contou que depois de um compromisso de trabalho, chegou ao local acompanhada do marido. Enquanto o parceiro fazia o check-in, ela conversava com um motorista de aplicativo, que disse ser fã dela. Minutos depois, ao entrar no hotel para concluir o cadastro, veio o “choque”, como descreveu:

— Ele [recepcionista] me olhou e disse: “Eu não sabia que era isso, a gente não hospeda esse tipo de gente”. Inicialmente eu fiquei sem entender, sem reação — lembra.

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Segundo Lopes, vídeos mostram que o homem impediu a continuação do cadastro ao alegar problemas com travestis, que se prostituem na região. O hotel não aceita garotas de programa. Ao ser ouvido pelo delegado, o funcionário alegou que negou a hospedagem porque o casal teria dito que ficaria mais dias que o reservado. A versão, porém, não se sustentou após a análise dos vídeos e oitiva da vítima e testemunhas.

O dono do hotel também foi ouvido, mas Lopes não encontrou elementos para indiciá-lo. O inquérito foi enviado ao Juízo Criminal da Comarca de Blumenau para posterior análise do Ministério Público.

O NSC Total tentou contato com o hotel, mas a chamada não foi concluída. O advogado que representou o estabelecimento quando a denúncia foi feita explicou que não foi contratado para acompanhar o caso, mas que avisaria os ex-clientes sobre a ligação. Até a publicação desta reportagem, ninguém retornou o contato.

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