A Delegacia do Consumidor de Porto Alegre instaurou nesta quarta-feira inquérito policial por crime contra o consumidor e estelionato contra os donos de uma rede especializada na venda de móveis sob medida.
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Na última quinta-feira, as duas lojas da Portiere na Capital amanheceram fechadas, pegando de surpresa dezenas de clientes, que aguardavam a entrega ou montagem dos móveis.
Até quarta-feira, 20, cerca de 40 ocorrências já haviam sido registradas contra a empresa. O prejuízo aos clientes, conforme estimativa da polícia, pode chegar a R$ 1 milhão.
Segundo o titular da Delegacia do Consumidor, Fernando Soares, caso os indícios de fraude sejam comprovados, os sócios podem ser condenados a até cinco anos de prisão. Na manhã desta quarta-feira, Soares ouviu o depoimento de Miguelina Mombac, uma das sócias da Portiere.
– Ela se limitou a dizer que o que aconteceu foi uma surpresa. Ela diz que não conhecia a gestão. Isso é um espanto para quem é sócio de uma empresa – comenta o delegado.
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A polícia suspeita que tenha havido má fé por parte da Portiere que, nos primeiros meses do ano, mesmo em dificuldades financeiras, ofereceu móveis com 50% de desconto, sabendo que não poderia cumprir os contratos e fazendo com que novos clientes pagassem até R$ 40 mil por móveis que não iriam receber. Além de uma ação de despejo contra a loja da Nilo Peçanha, a Portiere tem contra si pedidos de execução fiscal em total superior a R$ 2 milhões.
Ouvida por Zero Hora na terça-feira, antes do depoimento à polícia, Miguelina negou participação na gestão das lojas e contou que, nos últimos dias, os sócios têm se empenhado na tentativa de repassar a rede a outro grupo empresarial, que assumiria os maquinários, ficando com a obrigação de atender aos clientes que aguardam por seus produtos. A empresária disse que a promoção de 50% de desconto foi uma ação normal, dentro do Liquida Porto Alegre.
– Estão nos acusando de estelionatários, dizendo que somos ladrões. Isso não existe. A empresa foi mal administrada. O que aconteceu foi um grande descompasso em dois meses. Estou simplesmente apavorada, porque vou ser presa por coisas que não fiz.
Queixas com valores de até R$ 50 mil
O empresário Diego Diehl é um dos clientes que aguardam uma solução para o caso da Portiere. Em julho passado, Diehl pagou R$ 16 mil por um roupeiro e um banheiro planejados. A montagem se iniciou em outubro, mas até agora não foi concluída – faltam portas, espelhos, divisores e puxadores.
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Além disso, explica Diehl, as partes já montadas apresentam imperfeições e, para completar, das etapas já realizadas, restaram danos como paredes lascadas, quebra de gesso e furos no carpete.
O empresário, que já havia comprado da Portiere um quarto e duas cozinhas – sem qualquer problema -, ficou surpreso com o ocorrido:
– Já fiz registro no Ministério Público, vou à Delegacia do Consumidor e também a uma delegacia convencional para dar queixa de estelionato.
De acordo com o coordenador institucional do Procon Porto Alegre, Roberval Barros, a partir do começo desta semana foram registradas dezenas de reclamações contra a empresa, com valores oscilando entre R$ 10 mil e R$ 50 mil – nas contas do Procon, o prejuízo total dos clientes ultrapassa os R$ 300 mil.
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– O numero de clientes não é o mesmo de uma loja popular, mas o valores são significativos, em média, R$ 25 mil.
Todeschini promete atender clientes de Maringá
A Todeschini garante que atenderá a todos os clientes prejudicados pelo fechamento da loja da marca em Maringá (PR). No fim de fevereiro, mais de 30 pessoas consumidores registraram ocorrência contra a representante da empresa no município.
– Nesse exato momento estamos entrando em contato com todos os consumidores. Não vamos deixar de atender nenhum cliente – afirma Nereu Conzatti, diretor comercial e de marketing da companhia.
Uma das mais tradicionais empresas do segmento no país, a indústria gaúcha afirma não trabalhar com franquias. Segundo Conzatti, todas as 250 lojas são “credenciadas” da marca, que por isso têm o direito de comercializar os produtos Todeschini com exclusividade.
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Quando detecta problemas de atendimento, a empresa inicia um processo de auditoria, que pode resultar até no descredenciamento da loja, como aconteceu anteriormente em Belém e Salvador. Conforme Conzatti, a unidade de Maringá foi descredenciada em 28 de fevereiro, três dias após o registro de ocorrência por parte dos clientes.
Atualmente, os planejados respondem por 8% a 10% do mercado nacional de móveis. As empresas gaúchas respondem por 80% da produção.
EVITE PROBLEMAS
Dicas para quem pretende comprar móveis sob medida:
? Busque referências com quem já comprou móveis da empresa.
? Consulte os cadastros de órgãos de defesa do consumidor.
? Verifique a reputação da empresa na internet. Redes sociais e sites como o www.reclameaqui.com.br, em geral, são boas fontes.
? Exija que detalhes do projeto, preços e prazos constem na nota fiscal e no contrato.
? Condicione o pagamento à conclusão do serviço.
? Quando negociar com franquias, saiba que, se a loja não puder ser acionada para reclamação, a marca tem, de acordo com a legislação, “responsabilidade solidária” e, por isso, pode ser cobrada.
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O que fazer quando a empresa não cumprir o contratado:
? Suste os cheques que faltam.
? Se as prestações forem feitas por meio de carnê, suspensa o pagamento.
? Caso tenha pago por meio de cartão de crédito, tente cancelar a operação na operadora.
? Registre ocorrência nos órgão de defesa do consumidor.
? Busque ressarcimento por via judicial.