As perdas da safra da cebola com os estragos causados pelas chuvas de outubro em Santa Catarina equivalem a cerca de um mês do consumo do produto em todo o Brasil. O Estado é o maior produtor deste item no país, com cerca de um terço de todo o volume cultivado. No último ano, viveu uma supersafra histórica e atingiu pela primeira vez a marca de R$ 1 bilhão movimentados. Neste ano, no entanto, um levantamento aponta que os produtores devem ter um resultado ao menos 25% menor do que o esperado.

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As estimativas são do engenheiro agrônomo Daniel Schmidt, coordenador no Alto Vale do projeto de cultivo de cebola da Epagri, órgão de pesquisa agropecuária do governo do Estado. Segundo ele, o Estado tinha expectativa de produção de 570 mil toneladas, mas com a perda estimada de 25% em razão das chuvas, deve ver a produção encolher 140 mil toneladas. É esse volume que, segundo o especialista, corresponde ao consumo de todo o país por um mês.

Chuva acima da média estragou plantações

O motivo das perdas é o mau tempo que prevaleceu durante todo o mês de outubro e as enchentes que atingiram regiões como o Alto Vale do Itajaí, que concentra cerca de 70% do volume de cultivo estadual.

Produtores relatam que os problemas começaram ainda no período do plantio, quando as terras excessivamente úmidas já dificultaram a entrada de tratores nas propriedades para a aplicação de inseticidas, herbicidas e adubos para as plantas.

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Para os produtores que conseguiram preparar a terra, o excesso de chuvas registrado nas semanas seguintes fez escoar os produtos utilizados nas áreas cultivadas, prejudicando o tratamento. Além disso, alagamentos e o excesso de umidade favoreceram a proliferação de bactérias, e a falta de sol prejudicou a formação dos bulbos.

O resultado foi uma quantidade maior de cebolas apodrecidas ou de diâmetro menor do que o habitual nas chamadas variedades precoces, as primeiras a serem colhidas. Estas ainda estão sendo colhidas pelos produtores. Nesse grupo, as perdas já identificadas chegam a até metade do que foi colhido, mas o tipo responde por apenas 15% do total produzido no Estado.

Expectativa para cebolas de ciclo médio

O maior volume, cerca de 80% do total, é das chamadas cebolas de ciclo médio, que devem começar a ser colhidas no fim de novembro até o fim de dezembro. Nesta variedade, os produtores ainda não conseguem avaliar se haverá perdas e alimentam a esperança de que ela possa recuperar parte dos estragos encontrados na primeira leva da colheita. No entanto, há o receio de que ela também possa ser impactada pelo fato de a previsão do tempo em novembro também indicar chuvas.

O presidente da Associação de Produtores de Cebolas de Santa Catarina, Jelson Guesser, considera cedo para mensurar as perdas, que segundo ele podem até mesmo ficar acima dos 25% estimados até o momento pela Epagri. Apesar disso, Guesser acredita que as cebolas de ciclo médio têm um potencial de recuperação maior. Nesta semana, por exemplo, produtores aproveitaram o tempo firme para atuar na produção.

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— Foram volumes excepcionais, tivemos regiões com mais de 700 milímetros de chuva no mês. Isso com certeza afeta toda a cultura agrícola, e a cebola também tem sua perda significativa — afirma.

Ajuda financeira para recuperar perdas

Ele afirma que a principal medida reivindicada pelos produtores é a possibilidade de acionamento dos seguros de safra no caso dos que custeiam a produção com recursos bancários.

— Entre as medidas pleiteadas está a questão dos acionamentos do Proagro (seguro contratado nos acordos de financiamento da produção com bancos). O que a gente queria neste ano, diante da situação de emergência dos municípios, é que o acionamento desta safra não fosse contabilizado, que o produtor tivesse uma chance de acionar o Proagro e não ter isso contabilizado no histórico, porque muitos produtores já não estão podendo acionar porque ultrapassaram o limite de acionamentos — projeta Guesser.

A variedade em que ainda há mais esperança de que não haja prejuízos em razão das chuvas é a chamada de colheita tardia, colhida em janeiro, período menos chuvoso.

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O assunto das perdas na colheita de cebola foi discutido esta semana, em uma reunião com técnicos da Epagri e agricultores na Comissão de Agricultura da Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc), em Florianópolis. O grupo discutiu a necessidade de um diagnóstico dos prejuízos sofridos no setor e de ações para garantir a renda dos produtores.

Reflexos nos preços deve ocorrer somente em 2024

As perdas na safra da cebola podem resultar em preços mais baixos para os produtores, já que as cebolas colhidas podem ser menores.

— Agora no começo da colheita, até próximo do Natal, os preços já estão relativamente altos, acima de R$ 3, e devem se manter assim, porque falta produto no Brasil. Em janeiro e fevereiro, se aumentar muito a oferta de Santa Catarina, principalmente se a produção do ciclo médio não tiver condições de armazenagem, ela vai sendo vendida gradualmente, e o preço pode sofrer uma redução — explica o engenheiro agrônomo Daniel Schmidt.

Um impacto de alta nos preços, segundo o especialista, pode ocorrer somente a partir de março ou abril. Em anos normais, Santa Catarina é reconhecida por possuir capacidade de armazenar a cebola colhida e vendê-la até metade do ano seguinte.

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Desta vez, no entanto, a perspectiva é de que os produtos colhidos em Santa Catarina tenham menor condição para serem armazenados por longos períodos. Por isso, caso a maior parte da produção local tenha sido negociada nos primeiros meses do próximo ano, pode faltar cebolas locais e haver a necessidade de importar, o que pode levar a uma escalada de preços.

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