Depois de 90 dias afastado por motivos de saúde, o até então corregedor-geral da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Rodolfo Hickel do Prado, retornou nesta quarta-feira ao trabalho, mas foi notificado pela reitoria do seu afastamento da função. A decisão é do reitor pro-tempore Ubaldo Balthazar. Mesmo fora da chefia do órgão, Prado continua sendo um dos três corregedores da instituição. Nesta quinta-feira ele não foi até a universidade e comunicou aos colegas que trabalharia de casa. No cargo de corregedor-geral foi nomeado Ronaldo David Barbosa.

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Segundo o chefe de gabinete do reitor, Áureo Moraes, a exoneração foi motivada por uma “perda de confiança”. Como a função é designada pela reitoria, Balthazar não enxergava em Prado uma pessoa capaz de manter essa relação.

— O reitor tem a prerrogativa de designar e dispensar. Com o retorno ( de Prado ao trabalho), o reitor então entendeu que ele não poderia permanecer na função pela falta da confiança.

A entrevista do corregedor-geral ao jornal O Globo, na última terça-feira, segundo Moraes, foi a “gota d’água” para o afastamento. Na reportagem, Prado disse que seguiria “no intuito de apurar todo e qualquer ilícito, doa a quem doer”. Além disso, chamou de “barbaridade” a permanência de pessoas ligadas ao ex-reitor Luiz Carlos Cancellier na administração da UFSC e nas fundações investigadas na Operação Ouvidos Moucos, feita pela Polícia Federal (PF) em setembro de 2017.

Prado teve participação decisiva nas investigações da Polícia Federal por ter afirmado que o ex-reitor agiu de forma a interferir na apuração interna que a corregedoria realizava. O corregedor disse ter recebido diversos tipos de pressão, como ser rebaixado a uma função comissionada menor, além de ter sofrido ameaças de exoneração.

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Em um ofício enviado à PF antes de a operação Ouvidos Moucos vir à tona, Prado chegou a pedir o afastamento do reitor, fato que se confirmou na ação policial. Cancellier e outras seis pessoas investigadas chegaram a ficar presas por um dia, em setembro. O reitor cometeu suicídio em 2 de outubro do ano passado.

— Se o reitor Cancellier não quisesse que fosse investigado, ele (Prado) teria sido destituído lá atrás. É contraditório o modo como ele se expressa. Ele poderia ter sido dispensado tão logo mudou a gestão da reitoria, mesmo depois de ter cometido algumas atitudes contestadas e ter criado conflitos internos. Ainda assim o reitor Cancellier, que ele acusa tanto de atrapalhar as apuração, não fez medidas para afastá-lo. Tudo tem que ser apurado, não discutimos o teor da denúncia, mas o modo como isso vinha sendo conduzido — argumenta o chefe de gabinete.

A saída de Prado estava definida desde segunda-feira, quando a reitoria encaminhou um documento à Controladoria-Geral da União (CGU) para informar a superintendência do órgão em Santa Catarina da saída de Prado. Até a manhã desta quinta-feira a CGU não havia respondido o ofício. A reportagem tentou contato com o superintendente, Orlando Vieira de Castro Junior, mas ele disse que somente a controladoria em Brasília poderia se manifestar. Por telefone, a assessoria de imprensa do órgão disse que ainda não tinha detalhes do caso.

O DC procurou também pelo ex-corregedor-geral, mas ele não atendeu às ligações feitas desde a última semana. No começo da tarde desta quinta a UFSC emitiu uma nota oficial sobre o episódio. Leia a íntegra abaixo:

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O Reitor Ubaldo Balthazar decidiu, nesta quarta feira, 07 de fevereiro, dispensar da função de Corregedor-Geral o servidor Rodolfo Hickel do Prado, designando para substituí-lo Ronaldo David Viana Barbosa. A decisão levou em conta, principalmente, as recorrentes manifestações públicas em que Hickel se posicionava de maneira contrária à administração da Universidade, a membros da atual gestão e ao próprio Professor Ubaldo. Na última delas, Hickel teria dito que considerava “uma barbaridade que as pessoas do Cancellier continuam na administração da UFSC e nas Fundações onde está todo o esquema”. Além disso também atribuiu ao Reitor Cancellier frases que teria ouvido dele que, óbvio, não pode mais se defender.

A decisão do Reitor foi tomada em reunião de Colegiado com todos os Pró-Reitores e Secretários e o Procurador-Geral da UFSC. Considerando a perda da confiança e a prerrogativa do Reitor em designar os ocupantes de funções gratificadas e cargos de direção (FGs e CDs) na Administração Central, o Reitor definiu pela troca no comando da Corregedoria.

A mudança já havia sido comunicada à CGU em Brasília e não houve daquela instância nenhuma manifestação contrária. Para o reitor “toda e qualquer irregularidade deve ter sua investigação adequada. Não podemos é admitir que um agente público, revestido de alguma autoridade, desrespeite a instituição e seus membros e que, ainda assim, pretenda exercer uma função de confiança. A UFSC e as pessoas que a constroem merecem respeito, reconhecimento e tratamento minimamente civilizado.”