As ruas ensinam aos garotos uma esperteza que só se vê em adultos. Sabem contar o dinheiro com rapidez, têm os olhos desconfiados e tendem a mudar de assunto quando as perguntas sobre o trabalho e o patrão se tornam muito insistentes. Eles sabem que não deveriam estar ali.
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Tão miúdos como a maioria de seus clientes, os pequenos trabalhadores atuam misturados aos turistas em pontos movimentados ou atendendo à clientela na vizinhança de casa. É assim que trabalha Miguel*, menino loiro com o rosto coberto de sardas, que empurra o carrinho pelas ruas do Bairro da Barra, em Balneário Camboriú.
Franzino para seus 10 anos, divide o trabalho com o irmão mais velho, de 12. Todos os dias, depois da aula, os meninos engolem rápido o almoço para chegar depressa à sorveteria que fica a poucos metros de casa. Abastecem o carrinho, conferem a quantidade de picolés e preparam o apito.
A jornada de trabalho termina no final da tarde. Só então é chegada a hora de voltar a ser criança. Fazer a lição, brincar e dormir.
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*Os nomes das crianças e de pais foram omitidos ou trocados em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente.
Quem são os pequenos vendedores de picolés (**)
– Têm de 10 a 14 anos
– Vivem com a família
– Estudam na rede pública de ensino
– Trabalham no contraturno escolar
– Procuraram o trabalho por conta própria
– Usam o dinheiro que recebem para comprar brinquedos, roupas e equipamentos eletrônicos
– São filhos de pais que trabalharam na infância
* Perfil traçado a partir das entrevistas feitas com
crianças flagradas vendendo picolés no Litoral.