A madrugada de 3 de setembro de 2021 ficará marcada na memória de Anderson Luiz Krahl, de 31 anos. O chefe de cozinha tinha acabado de sair de um bar em Jaraguá do Sul quando foi vítima de agressão física. Anderson afirma que as agressões foram motivadas por homofobia, mas a Polícia Civil investiga o caso, inicialmente, como agressão.

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Em entrevista à reportagem, Anderson, natural de Piçarras, diz que estava há três semanas em Jaraguá do Sul realizando um treinamento para atuar em uma escola de gastronomia quando decidiu, por volta de meia-noite e quinze, lanchar em um bar próximo à pousada em que estava hospedado. Além da comida, ele conta que também pediu uma cerveja long neck.

Enquanto se alimentava, lembra, passou a interagir com um grupo de pessoas que estavam do lado de fora do estabelecimento, já que a casa noturna estava prestes a encerrar as atividades naquele dia. Entre as pessoas, estava também o agressor.

Durante a conversa, Anderson diz que, “sem maldade”, questionou o homem se ele era gay. No mesmo momento, o agressor se irritou e passou a ofendê-lo.

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– Ele disse: ‘Que gay o quê? Vocês são umas aberrações’ – lembra Anderson.

Após as ofensas, a vítima conta que saiu de perto do homem e passou a conversar com algumas meninas que havia conhecido naquela noite sobre sua descendência alemã e o fato de seus avós serem racistas. O homem teria ouvido a conversa, não gostado do assunto e tornou a afrontá-lo com frases pejorativas relacionadas à sua orientação sexual.

– Eu joguei a long neck no chão e questionei a atitude e começamos a discutir. Em seguida, fui embora, porque não era obrigado a passar por aquela humilhação – relata.

O chefe de cozinha conta que saiu a pé do bar, já que estava hospedado a três quadras dali. Quando estava no meio do percurso, diz, as meninas que conheceu naquela noite o chamaram e ele atravessou a rua. Quando estavam sentando no paralelepípedo para conversar sobre o que havia acontecido, viram um carro se aproximando. Anderson conta que não teve tempo de correr.

– Ele desceu do carro, pegou no meu pescoço e começou a me encher de socos na cabeça e no rosto. Ele dizia ‘quanto mais tu gritar, mais eu vou te bater, seu viado’. Achei que iria morrer – exprime o jovem.

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Anderson foi agredido com socos após sair de um bar em Jaraguá do Sul
Anderson foi agredido com socos após sair de um bar em Jaraguá do Sul (Foto: Reprodução )

Anderson conta que a agressão durou cerca de quatro minutos e o homem só parou de agredi-lo depois que uma senhora, pela janela de um prédio, viu o que estava acontecendo e ameaçou chamar a polícia.

Segundo a vítima, o agressor entrou no carro e percebeu que alguns de seus pertences, como chaves e relógio, haviam caído no chão e voltou para buscá-los. Em seguida, fugiu do local. Anderson acredita que se as mulheres não tivessem presenciado o fato e filmado, algo pior poderia ter acontecido.

– Quando a polícia chegou, eu estava sangrando muito. Os policiais me acompanharam até o hospital e me incentivaram a levar o caso para frente e eu registrei um boletim de ocorrência. Eu estou bem machucado, minha cabeça ainda dói muito. Já tinha sido xingado na rua por ser gay, mas nunca tinha acontecido algo assim. Estou muito traumatizado, ele foi um covarde – desabafa.

Histórico de agressões

Anderson conta que no dia seguinte à agressão voltou para Piçarras e realizou o exame de corpo de delito na segunda-feira (6). O chefe de cozinha levou dois pontos próximos do olho direito e outros cinco na boca. Por conta das batidas na cabeça, ele também sofreu quatro cortes.

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Nesta quarta-feira (8), a vítima irá depor no Fórum de Jaraguá do Sul. Anderson aponta como agressor um advogado conhecido no município. Segundo ele, o profissional já tem um histórico de agressão contra mulheres e racismo, além de episódios de homofobia.

– Eu só saí para comer um lanche e voltei todo arrebentado para casa. Sinceramente, estou com muito medo. Eu fecho os olhos e vejo ele [o agressor] vindo na minha direção, com raiva. Não posso sair comer um lance que vou apanhar na rua por minha orientação sexual, em pleno século 21? – se revolta.

O caso segue sendo investigado em Jaraguá do Sul. De acordo com o delegado Rodrigo Carriço, responsável pelas investigações, durante a apuração dos fatos será constatado se houve ou não crime de homofobia. Além disso, caso o suspeito possua antecedentes criminais, os crimes devem constar no inquérito. Por ora, conforme Carriço, nenhuma informação pode ser adiantada.

Comissão da OAB também acompanha o caso

Além da polícia, a Comissão de Direito Homoafetivo e Gênero da Ordem dos Advogados do Brasil de Santa Catarina (OAB/SC), também acompanha o caso. Isto porque o suspeito da agressão seria advogado. Em nota, a entidade lamentou o ocorrido.

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“A OAB/SC e a Subseção de Jaraguá do Sul estão diligenciando esforços junto à delegacia para obtenção de informações sobre o caso e apurar possível crime de homofobia. A OAB/SC também está apurando a informação de que o agressor seria advogado inscrito na OAB/PR para possível instalação de procedimento ético-disciplinar”, diz o comunicado.

– Sendo homofobia ou não, ele foi agressivo e precisa pagar pelo que fez – finaliza Anderson.

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