O local se chama Amigo Paul, e o nome traz consigo tudo que o empreendimento representa: um ambiente cujo objetivo é ser acolhedor, construído graças ao esforço dos donos, o casal Kristhian Lenoch e Eliana Gabriela Perez Alvarez, mas também de amigos, vizinhos e cujo lema é “bem-vindo à nostalgia”. O motivo está na decoração, que remete aos anos 60, 70 e 80, dos quadros aos jogos de tabuleiro, e nas receitas, que nos levam à infância e ao interior. Hoje o casal comemora o sucesso, mas nem sempre foi assim.
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Antes de se transformar em realidade, o sonho de empreender virou pesadelo. Kristhian conta que desde criança precisou ser criativo. A mãe, professora, não conseguia comprar todos os brinquedos que ele e os irmãos desejavam. Com isso, passou a inventar os próprios: de carrinhos de rolimã à árvore que virava uma espaçonave. Já adulto, passou 12 anos trabalhando como modelo, e nas viagens conheceu diferentes restaurantes e cafeterias, que fizeram surgir a vontade de empreender nessa área.
Tirando o sonho do papel
Quando se mudou para Joinville, ele e a esposa decidiram investir no próprio negócio. A escolha pela área de alimentação já estava tomada quando encontraram uma padaria consolidada e com perspectiva de crescimento. Tudo parecia bem: a padaria estava sempre lotada. Porém, apesar das filas de clientes, os números não refletiam o sucesso: eram muitas vendas, mas também muitos gastos, e o lucro era insuficiente para manter o negócio saudável.
— Ficamos dois anos gastando nossas economias. Vendemos carro. Cheguei ao ponto de ter que vender um violão para encher a geladeira da padaria — comenta o empreendedor.
Se depararam com o drama: precisavam encontrar uma solução ou fechar as portas. Se pensou em fechar? — Umas mil vezes! Gosto de comentar isso, porque é o que pensam muitos que estão na mesma situação. Mas é possível mudar! — encoraja Kristhian, que começou a avaliar as opções.
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Ofereciam o que todas as padarias oferecem: pão quente, doces, café. Mas perceberam que os clientes, pessoas apressadas que passam comprar pão e leite para o café ou janta, antes ou depois do trabalho, não estavam sendo suficientes para sustentar o empreendimento.
— Estávamos exaustos, trabalhando muito, mas na zona de conforto. Até que percebemos que aquilo não era o que gostaríamos — explica.

Foi então que veio a nostalgia: lembrou do menino criativo que fazia os próprios brinquedos. Que inventava. E aí a transformação começou.
A transformação
A produção da padaria foi encerrada em 2015. Começava então a história do Amigo Paul Café Bistrô, cujo nome é uma referência ao apóstolo Paulo, que também faz parte da história de ambos e que além disso remete ao que propõem e que gostariam que os consumidores encontrassem do local. Apostaram na confeitaria e cafeteria, com opções de cafés especiais, tortas diferenciadas e também a opção de almoço com comida caseira. As duas confeiteiras são naturais de cidades do interior, o que ajudou a deixar as receitas com o sabor que gostariam: a nostalgia.
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O espaço mudou completamente. Como o valor para investirem era restrito, começaram a buscar móveis em antiquários, com peças que tivessem a cara deles e também fossem aconchegantes.
— Os vizinhos, a maioria pessoas mais velhas, começaram a doar móveis antigos que tinham em casa, se engajaram na mudança — comenta Kristhian.
O casal também apostou em diferenciais na apresentação dos produtos, alguns por opção, outros por necessidade.
— Não tínhamos dinheiro para comprar copos e minha sogra sempre guardava vidros de compota. Acabamos decidindo utilizar para os cafés especiais, com uma decoração divertida. Foi um sucesso. Um tempo depois minha esposa viu um desses potes em um Instagram de Nova York, aí comemoramos mais ainda — conta, apostando na tendência retrô.
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A continuidade dessa história ainda passou por diversas mudanças, como a percepção de que oferecer o almoço demandaria mais funcionários e tempo dedicado ao espaço. Foi assim que deram prioridade à cafeteria.
Nesse cenário, sentiram a necessidade de buscar uma consultoria especializada, e encontraram o que buscavam no Sebrae/SC. Aderiram ao Programa Agentes Locais de Inovação (ALI), uma parceria do Sebrae com o CNPq, que está selecionando 200 micro e pequenos negócios na Grande Florianópolis, Blumenau e Chapecó para serem atendidos a partir de novembro.
Segundo o casal, a ajuda foi essencial para mudanças importantes, como dar foco à cafeteria, e nas inovações.
— Pra você ter uma ideia, quando disse aos meus funcionários que fecharia a padaria para abrir um café, quatro pediram demissão e me chamaram de louco. Havia o medo, embora minha esposa sempre tenha incentivado e confiado. Tinha muitas ideias, mas precisava de ajuda para saber se eram viáveis. Voltei à nostalgia do menino que inventava os próprios brinquedos e decidi apostar nas minhas ideias — afirma.
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Com o programa do Sebrae/SC, foram realizados diagnósticos que apontaram pontos a serem melhorados e com isso foram definidas ações para conseguirem inovar.
— A consultora chegou aqui e adotou completamente nossa ideia. Parecia nossa sócia, dando sugestões, trazendo empolgação e energia. Mais do que nunca, ela nos deu confiança de apostarmos no que amamos, nas ideias que para alguns parecia loucura, mas que era nosso sentido — conta.
O segundo passo foi tornar a empresa conhecida. Buscaram então um segundo programa do Sebrae/SC, de soluções subsidiada para registro da marca. Conseguiram expandir e se tornarem conhecidos na cidade, mas muito mais: atualmente tem seguidores até na China e constantemente recebem mensagem de outras cafeterias que se inspiram neles. Oferecem, além de cafés e bolos, uma experiência de consumo. O sucesso da empresa fica evidenciado nos recados deixados pelos clientes em post-its colados na casa toda.
— Hoje nos sentimos totalmente realizados. Trabalhamos menos, naquilo que amamos, e com um retorno muito maior. Não podemos ter medo de apostar naquilo que amamos — finaliza Kristhian.
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