Não é comum ouvir de uma atleta de alto rendimento o anúncio da aposentadoria aos 22 anos. Ainda mais com o potencial de uma jogadora de futsal como Carine Bosetti, fixa da Uniarp, de Caçador. É experiente, apesar da pouca idade, uma das artilheiras da equipe, marcou três gols já no primeiro jogo – apesar da posição -, e este ano, em Goiânia, ajudou muito em quatro partidas da conquista do tetracampeonato para a modalidade nos Jogos Universitários Brasileiros.

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Carine é assim, decidida, com objetivos traçados para o seu futuro profissional e para sua vida pessoal. Desde que aos seis anos, quando ainda morava em Concórdia com os pais, chorou de tristeza ao ver a derrota brasileira para a França na Copa de 98. Surpreendeu a família na hora: “Vou ser jogadora de futebol para ganhar a Copa do Mundo para o Brasil”

Suas pretensões não foram tão longe, embora dez anos depois tenha passado por um Mundial sub-17 na Nova Zelândia com a seleção brasileira de futebol. Havia optado pelas escolinhas de futsal na sua cidade e escolheu esta modalidade para ir um pouco adiante no esporte de competição. Decidiu, também, pensar em uma profissão. “Não queria que acontecesse comigo o que acontece com algumas das minhas colegas. Quando deixarem o esporte, poucas terão o que fazer para ganhar o seu sustento, é quase impossível garantir o futuro só com o futsal”.

Hoje, além de praticar o esporte que está abandonando para cuidar da vida, Carine começa a cumprir suas metas. Em fins de novembro estará formada em Educação Física pela Uniarp. Divide seu dia a dia entre estudos, sua prioridade, treinos no futsal e um estágio na Fundação Municipal de Esportes de Caçador. Na prática já faz um trabalho na escolinha da sua modalidade e treina portadores de necessidades especiais, no seu caso uma equipe formada por deficientes intelectuais, os DI, na linguagem especializada. Orgulhosa, fala desta sua atividade extra quadra e comemora seu primeiro título como treinadora, conquistado mês passado nos jogos Paradesportivos – os Parajasc – em Joaçaba.

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Na volta para casa, depois da participação nos JUBs realizados em Goiânia, apareceu uma pontinha de mágoa por não ter participado do jogo decisivo contra a Unifor do Ceará, goleada por 5 a 1. Faz parte, sempre, sempre do revezamento de jogadoras e, mesmo sem jogar a final, não reclamou, e ainda justificou a decisão do técnico Rogério Inácio. “Foi opção dele, talvez porque eu não viesse treinando com regularidade por causa dos estudos e do trabalho. Mas, bem que eu poderia jogar uns minutinhos”, questiona no final, lembrando. “Joguei todos os outros, fui bem, até marquei gols”.