A Penitenciária de São Pedro de Alcântara ficou conhecida por ser a origem das ordens para execução das duas ondas de atentados em Santa Catarina e por abrigar o quartel-general do PGC. Consequência de um histórico de problemas ocorridos desde a inauguração da cadeia. Em maio de 2003, a unidade prisional recebia os primeiros presos sem sequer ter capacidade de fornecer água.
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A escolha do primeiro diretor mostra o descaso com que foi administrada a unidade. Advogado e presidente de um clube de futebol amador de Florianópolis, o diretor era tão alheio ao cotidiano da criminalidade que no Natal daquele ano se vestiu de Papai Noel e distribuiu balas para os detentos. Virou motivo de chacota entre os traficantes, assaltantes e assassinos mais violentos do Estado e de reprovação dos agentes penitenciários.
Mas estes últimos nem eram tantos. A penitenciária começou a funcionar com míseros cinco agentes, o que significava um para cada raio, como são chamadas as galerias, e outro para a gerência da prisão. Quando o administrador precisava se ausentar, o que não era raro, um colega acumulava o papel de fiscalizador do raio e da direção.
Cobrado, o Estado resolveu agir. Contratou trabalhadores temporários, os chamados ACTs. Eles foram jogados no convívio com os presos mais perigosos de Santa Catarina sem nenhum treinamento. Desempenharam as atividades com tanta falta de qualidade que foram apelidados de ACTansos pelos agentes penitenciários. A falta de pessoal permaneceu até dezembro de 2006, quando foram contratados os primeiros profissionais, por concurso realizado no mesmo ano.
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Neste cenário, se propagaram as denúncias de agressões e os presos reclamavam que a política de administração era “pau e bonde”, sendo o segundo termo usado para as constantes transferências de cadeia. Na época, surgiu um processo por tortura contra cinco funcionários da unidade prisional. Houve condenação em primeira instância, mas depois de recurso, o caso foi arquivado pelo Tribunal de Justiça.
A situação serviu para embasar o discurso do PGC. Os criminosos também se valiam da falta do básico na cadeia, como escova e pasta de dente, sabonete e toalha. A combinação permitiu que a facção, que lançou os primeiros embriões em 2001, na Penitenciária de Florianópolis, tomasse conta da maior unidade prisional catarinense.