O jornal me pediu um depoimento sobre Peninha, o Gelci Coelho, que morreu na madrugada deste 16 de março. Talvez por ser uma das poucas – se não a única – repórter da redação que o entrevistou várias vezes. Sendo assim, vou falar sobre jornalismo. Afinal, tecnologia à parte, até o momento quem faz a notícia somos nós, o elo entre o novo e o canal de disseminação do fato a ser entregue ao público.
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Porém, para isso se precisa de uma fonte, e essas têm lá suas subdivisões. As fontes primárias são aquelas essenciais, sem as quais não tem como contar o acontecimento. Existem também as secundárias, responsáveis em contextualizar, humanizar e complementar a informação central. Por fim: as testemunhas, que compartilham experiências que presenciaram; e as especialistas, que dominam algum assunto e tem propriedade para discorrer sobre ele.
O que tudo isso tem a ver com Peninha? Tudo.
Peninha, identificado como o guardião da memória da cultura açoriana do litoral catarinense, foi referência para a imprensa das últimas décadas. Todo repórter sabia o endereço se a pauta fosse sobre procissões, benzeduras, finados, bruxarias, canoas, vento sul, sotaques. Peninha era um entusiasta das histórias da Ilha de Santa Catarina.
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Considero que não o vi pipocar em momentos polêmicos, como quando o Estado aparecia no cenário nacional com a famigerada farra do boi. Para os que defendiam se tratar de uma manifestação cultural comum em outros lugares, Peninha sustentava: a farra estava desvirtuada, contaminada pela violência, e que daquela maneira não servia mais como representante das manifestações açorianas que ele defendia.
Muito – e merecidamente – a imprensa tem escrito sobre Peninha. Destaca-se o lado do artista popular, do pioneiro na introdução da museologia no Estado, do discípulo de Franklin Cascaes. Se mesmo assim restar dúvidas, tem uma autobiografia.
Em 2019, ele lançou o livro “Narrativas absurdas: verdades contadas por um mentiroso”, em que mescla sua história de vida com lendas, contos e casos raros do litoral de Santa Catarina. É o próprio Peninha narrando sua trajetória desde as primeiras lembranças. Difícil vai ser encontrar uma fonte primária, secundária, testemunhal e especialista para o contraponto. Numa cidade que perdeu muito da essência nas últimas décadas, fontes como Peninha sempre farão falta.
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