Na primeira vez em que Lucimar Savaris assumiu um posto de comando na Polícia Militar, há 17 anos, um subordinado disse que preferia pedir para sair a ser comandado por uma mulher. Duas horas mais tarde, o soldado pediu desculpas, Lucimar seguiu carreira e no dia 2 de dezembro deste ano ela se tornou a primeira mulher dos 179 anos de história da Polícia Militar em Santa Catarina a comandar um batalhão.
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Aos 47 anos – 27 deles na carreira militar -, a tenente-coronel Lucimar Savaris assume o posto de comandante de 244 policiais em 19 municípios, através do 26º Batalhão da PM de Herval d?Oeste. Ela substitui o tenente-coronel Luiz Roberto Müller.
Natural de Lacerdópolis, no Meio-Oeste, Lucimar se graduou em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí. Na faculdade, comentou com uma amiga que gostaria de seguir carreira militar e ela lhe contou que havia vagas. Ingressou na PM em 1988 e passou a ser aspirante a oficial em 1991, em Florianópolis.
Em 1995 foi para Joinville, depois para Chapecó, Herval d?Oeste e, em 2001, foi a primeira mulher a assumir o comando de um pelotão da Polícia Ambiental (PMA), em Herval d?Oeste. Depois assumiu o comando da PMA de Chapecó. Retornou a Herval d?Oeste e exerceu durante cinco anos o subcomando do 26º BPM, até chegar ao posto de comandante.
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Casada com o também tenente-coronel da Polícia Militar Tércio Valdir dos Santos, comandante da Central Regional de Emergência da 10ª Região da PM em Herval d?Oeste, Lucimar Savaris tem dois filhos, de 17 e 15 anos. A comandante diz que os filhos andam na linha e reconhece que não lhe atraem os afazeres domésticos. Por telefone, ela concedeu entrevista ao DC:
Como é ser a primeira mulher a comandar um Batalhão?
É um misto de felicidade e preocupação. Espero cumprir bem essa missão, servir a comunidade e fazer um bom trabalho.
Por que demorou tanto tempo para que uma mulher assumisse o comando de um BPM?
Primeiro pelo número reduzido de mulheres na corporação. Na primeira turma (no final dos anos 80) eram cinco oficiais e duas desistiram. Dois anos depois, veio a segunda turma, que é a minha, e havia 26 homens e somente cinco mulheres. Depois levou mais três ou quatro anos para ter uma nova turma. Hoje temos somente quatro tenentes-coronéis mulheres na ativa e duas aposentadas. Nos últimos 10 anos é que tem sido reservado 6% das vagas para mulheres.
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É mais difícil uma mulher chegar a este posto?
A ascensão é normal, as oportunidades são iguais.
Mas você sofreu preconceito?
Já enfrentei bastante. Em 1995, quando assumi um posto de comando interinamente em Joinville, um rapaz chegou na minha sala e disse que preferia sair da polícia a ser comandado por uma mulher. Eu disse que se ele preferisse isso, a escolha era dele. Ele saiu da minha sala e duas horas depois voltou e pediu desculpas. Por parte do público, também já enfrentei isso quando fui comandante da Polícia Ambiental. Às vezes, chegava alguém autuado e dizia que não queria falar com mulher. Eu dizia, tudo bem, não levava como ofensa. Uma vez um soldado fez uma apreensão de madeira e eu fui conversar com o motorista e ele disse que não queria falar comigo. Voltei até o carro e o homem falou para o soldado se não poderia falar com o chefe. O policial disse: “A chefe é aquela mulher que você acabou de ofender”. O homem não quis falar e aceitou a multa.
O que muda em ter um comandante homem ou uma comandante mulher?
O que o pessoal comentava é que, no início, alguns criticavam os colegas que seriam comandados por uma mulher. Mas, depois, diziam que eu era uma mãezona, dura quando precisava, mas profissional e que não ficava perseguindo. Chamava a atenção quando precisava, mas não levava para o lado pessoal. Às vezes tenho que ser mãe, psicóloga, professora, terapeuta e oficial.
Quais são as metas no BPM?
Aproximar a Polícia Militar da comunidade, estar mais perto da população.
Quais as ocorrências mais comuns na região?
Os casos de Maria da Penha estão em primeiro lugar. Esse é um crime difícil de combater, pois acontece dentro das casas. É mais difícil do que um furto, um assalto.
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Isso muda pela região?
Em cada cidade os crimes são diferentes. Em Campos Novos é mais tráfico de drogas, tentativa de homicídio e furto em veículos. Em Catanduvas são lesões corporais, brigas, perturbação do sossego. Vamos atacar esses pontos em cada cidade.