Quando a caixa Maria Salete Passos da Silva chegou para trabalhar na guarita do estacionamento da Faculdade à Distância (FADESC), na Ponte do Imaruim, em Palhoça, na última terça-feira, dia 10, percebeu um cheiro forte no ar. Horas depois soube que centenas de peixes mortos estavam apodrecendo no rio e na praia próximo ao local:
Continua depois da publicidade
– De manhã estava tudo normal. Quando voltei para o turno da tarde, às 16h, já senti o cheiro ruim. Foi piorando a cada dia, que na sexta chegamos a usar máscara para conseguir trabalhar – relata.
De origem ainda desconhecida, o problema está espalhando mau cheiro pelas ruas do bairro. Os peixes estão acumulando na tubulação do rio que escoa a água da chuva e possui ligação com o mar. A Fundação Cambirela do Meio Ambiente (FCAM), órgão responsável pela fiscalização ambiental em Palhoça, diz que não há como recolher as carcaças dos animais.
A bióloga e assessora técnica da Fundação, Gisele Lusa, diz que as primeiras reclamações chegaram na FCAM na terça-feira. Ela foi até o canal do Rio Imaruim, onde encontrou mortas várias manjubinhas – peixes de água salgada com cerca de 12 cm de comprimento.
Continua depois da publicidade
– Pensei que elas tinham se perdido e haviam morrido naturalmente. Olhei direito e vi indícios que haviam sido pescadas e alguém tinha jogado elas no canal – relata.
As reclamações continuaram chegando na FCAM e nem sempre eram de lugares próximos ao canal. Na busca por respostas, Gisele acabou descobrindo que toda a orla do mar estava cheia de peixes mortos. Apesar de não ter certeza, a bióloga crê que um barco tenha jogado uma carga de manjubinhas na região.
– São peixes sem valor comercial. Pode ser que alguém tenha pescado pensando que fosse sardinha. Quando viram que era manjubinha, jogaram fora. Ou então era uma carga que seria usada como isca para a pesca do atum – estima Gisele.
Continua depois da publicidade
A bióloga diz que não é possível afirmar que os peixes tenham sido descartados diretamente na baía onde deságua o Rio Imaruim, já que poderiam ter sido levados pela corrente. Ainda sim, quem for responsável por essa descarga de peixes mortos pode ser punido pela FCAM. A multa para o crime varia de acordo com o poder aquisitivo de quem poluiu. Um pescador artesanal, por exemplo, tem uma multa bem menor do que uma grande empresa de pesca. Segundo o Decreto Federal 6514, o valor cobrado pode variar de R$ 5 mil a R$ 5 milhões.
– Lançar material orgânico nessa quantidade causa poluição, mesmo que momentânea. É uma infração à legislação ambiental – destaca.
Os técnicos da FCAM estão investigando, mas ainda não descobriram quem descarregou os peixes.
Apesar de incômodo, a decomposição dos peixes não coloca em risco a saúde humana. Gisele conta que já ocorreram casos semelhantes em Palhoça. Há três anos, o mesmo aconteceu na Barra do Aririú e na Ponte do Imaruim.
Continua depois da publicidade
Não haverá limpeza
A quantidade de peixes e o local onde estão espalhados dificultam a remoção. Como se trata de um mangue sem árvores, uma pessoa a pé afundaria até a cintura e, segundo Gisele, o maquinário que seria utilizado para retirar as manjubinhas não consegue entrar no local.
– Pensamos em retirar com carrinho de mão, mas seriam necessárias tábuas muito largas para colocar lá. Cogitamos várias possibilidades, mas é praticamente impossível fazer a limpeza – justifica Gisele.
De acordo com a bióloga, o mar vai levar parte dos peixes embora e que o próprio mangue vai dar conta de decompor as manjubinhas. Não existe um prazo certo para que o cheiro suma, para a infelicidade dos moradores. Por outro lado, nem todo mundo saiu perdendo:
Continua depois da publicidade
– Daqui a uns quatro meses o mangue vai ter uns caranguejos grandões, de tanto comer peixe – brinca Gisele.