Com um semblante tranquilo, Pedro Marcos Engler, 57 anos, planeja as primeiras férias. A tão sonhada viagem à Europa será o presente por quase três décadas de dedicação ao ofício que envolve praticamente toda a família. A longa espera pelo descanso só pôde ser quebrada por causa da aposentadoria.
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Empresário preocupado em acompanhar de perto os negócios, Pedro Marcos nunca se deu ao luxo de ficar mais de uma semana longe do balcão da Sapataria Casa Única.
Toda a história de trabalho de Pedro Marcos se deu no mesmo local. O prédio amarelo da rua do Príncipe já era uma sapataria bem antes de seu pai entrar no ramo. Pedro Engler mudou-se para Joinville na década de 1950, e foi como sapateiro que sustentou os sete filhos e conseguiu comprar a empresa do patrão.
Com o seu falecimento, em 1983, a loja de consertos foi herdada por Pedro Marcos. O filho, que cresceu em volta dos retalhos de couro, cadarços e armarinhos, já acompanhava o pai nos negócios desde os 12 anos.
– Cheguei a fazer engenharia, mas quando meu pai morreu, deixei os estudos para me dedicar à sapataria -, conta.
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A lógica de negócio da Casa Única em quase nada mudou com a troca de lideranças.
Agora, são os filhos de Pedro Marcos, Frederico e Pedro Neto, que dão suporte ao atendimento e mão de obra. A esposa Rosa, com quem está junto há 40 anos, também divide a demanda da pequena empresa. O irmão mais novo de Pedro Paulo, Gerson, também é presença na rotina de trabalho da Casa Única. E até um dos funcionários que não faz parte da família não tem menos de 30 anos de casa.
Mudança no foco dos negócios
Embora uma sapataria, a forma e o uso de materiais cada vez mais descartáveis na produção dos calçados fazem com que esse não seja mais o carro-chefe da loja. Malas, bolsas, cintos e jaquetas de couro hoje tomam a maior parte dos pedidos de consertos, e alguns vêm de longe.
Mas ele também conta que houve uma época em que a maior renda da sapataria foi por meio da venda de chinelos de couro produzidos por ele.
– Vendíamos em feiras e festas. Por um bom tempo, foi a nossa salvação -, lembra.
Pedro Marcos pouco mudou a forma de organização dos negócios. As prateleiras repletas de pequenas caixas com materiais e aviamentos são marca registrada do estabelecimento.
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– Eu sempre falo que é a minha bagunça organizada -, comenta.
A clientela de Pedro Marcos também não mudou muito durante os anos de ofício.
– Tem pessoas que o avô e o pai também frequentavam nossa loja -, relata.
Apesar dos planejamentos para aproveitar a aposentadoria, Pedro Marcos não pensa em abdicar de seu cargo na Casa Única, muito menos acredita na extinção do ofício manual.
– Cada vez mais aparecem sapatarias, principalmente em shoppings, mas são poucas as que têm mão de obra qualificada. Este é o nosso segredo -, afirma o sapateiro.