Parece ter acabado o clima até então ameno, pelo menos aparentemente, entre a Viação Piracicabana e os funcionários do transporte coletivo de Blumenau. O sindicato da categoria (Sindetranscol) divulgou nesta quarta-feira um boletim carregado de críticas à empresa que opera, via contrato emergencial, o sistema no município. O texto também convoca os trabalhadores a se mobilizarem em busca de melhores condições de atuação.

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:: Leia mais informações de Pedro Machado

O documento faz menção à primeira rodada de negociações da campanha salarial deste ano, realizada na terça-feira. O Sindetranscol até destaca a “conduta respeitosa e muito profissional” dos representantes da Piracicabana no encontro, mas a cordialidade termina por aí.

O primeiro grande ponto de divergência diz respeito à formação da comissão de negociação. O sindicato quer manter nove integrantes – como já vinha ocorrendo nos últimos oito anos, segundo o diretor de Organização de Patrimônio Ari Germer – com estabilidade de emprego por um ano, mas a empresa teria oferecido o benefício para apenas três. Sem um consenso sobre este tema, a discussão sobre outros pontos da pauta pouco avançou.

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O sindicato também não abre mão de fazer uma convenção coletiva, que serviria como uma espécie de garantia para os trabalhadores. A alegação é de que um acordo feito diretamente com a Piracicabana deixaria de valer caso outra empresa assuma o transporte coletivo de Blumenau.

Em relação aos salários, o Sindetranscol vai pedir a reposição do INPC – o índice de inflação referente à data-base, que é 1º de novembro, ainda não foi calculado – mais 5% de aumento real, além de incremento no vale-alimentação de R$ 580 para R$ 720. Ari Germer é taxativo: diz que a categoria não aceitará redução de direitos. E criticou, novamente, a condição precária de alguns ônibus que circulam pela cidade e a demora no lançamento da nova licitação.

A questão a ser observada agora é como agirá a Piracicabana. O boletim divulgado pelo Sindetranscol dá a entender que representantes da empresa teriam pedido compreensão em função das crises econômica e no sistema de transporte coletivo do país. O sindicato rebate os argumentos citando que a companhia não acumula várias despesas que eram atribuídas ao antigo Consórcio Siga, como aluguel de garagens e manutenção dos terminais.

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A coluna procurou a Piracicabana, mas a assessoria de imprensa informou que a empresa só se manifestaria por meio de comunicado oficial, disparado ontem à tarde. No documento, a companhia paulista destaca que se antecipou à data-base da categoria, um gesto que simbolizaria a disposição para o diálogo.

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Sobre o número de integrantes da comissão de negociação, diz que ofertou e documentou a manutenção da estabilidade por 12 meses para três colaboradores, “condição esta que existe na convenção atual”. E reiterou que não tem qualquer pretensão em retirar benefícios ou ignorar condições já conquistadas pela categoria, reforçando novamente que mantém os canais de díalogos abertos.

Uma nova rodada de negociações está marcada para 9 de novembro.

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Uma boa conversa deve resolver o impasse envolvendo a comissão de negociação, mas a polêmica maior sem dúvida será sobre o reajuste salarial, quando a discussão chegar neste ponto.

Em ano de crise econômica, a maioria das categorias profissionais fechou acordo para receber apenas a reposição da inflação. É pouco provável que o Sindetranscol consiga o INPC mais 5% de aumento real, embora seja comum os sindicatos laborais jogarem os pedidos lá em cima para ter margem de negociação com os patrões.

Os trabalhadores têm todo o direito de reivindicarem uma remuneração melhor. Desentendimentos e resistências são comuns em negociações coletivas, mas fica a torcida para a construção de um acordo pelo menos satisfatório para ambas as partes. O que não pode acontecer é o usuário do ônibus correr o risco de ter o serviço afetado.

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