Se existe o fundo do poço da deterioração econômica, o país parece já ter chegado lá e alguns indícios revelam o início de um processo de recuperação. Pesquisa divulgada segunda-feira pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que o faturamento real da indústria da transformação teve crescimento real de 2% em junho após três meses seguidos de queda. Não por acaso, março, abril e maio foram meses de extrema tensão política. Neste período houve uma avalanche de novas denúncias da Operação Lava-Jato, protestos pelas ruas do país e o afastamento da presidente Dilma Rousseff.

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Como se sabe, os rumos de Brasília interferem diretamente no humor do mercado. Somadas ao desaquecimento do consumo, as incertezas que rondavam o Planalto consolidaram um cenário que já se desenhava há mais tempo: estagnação da atividade industrial com consequente redução da capacidade produtiva das fábricas e demissões.

No primeiro mês cheio sem Dilma na presidência já surgiram sinais de que a simples mudança de ares no Executivo nacional, mesmo sem grandes medidas anunciadas pelo interino Michel Temer, começou a surtir efeito no ânimo dos industriais.

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Os indicadores da CNI divulgados segunda-feira também mostram leve aumento de 0,2% nas horas trabalhadas na produção e incremento de 0,3 ponto percentual na utilização da capacidade instalada do parque industrial nacional. Não é grande coisa, até porque o nível de emprego voltou a cair em junho (0,6%). Embora os números, em sua maioria positivos, não representem o que a entidade chama de “reversão do ciclo recessivo”, são um alento, uma sinalização de que a situação tende a melhorar no segundo semestre, também tradicionalmente mais forte para a economia em função dos preparativos para as férias e festas de fim de ano.

Prognóstico mais preciso, porém, só em setembro após definição do processo de impeachment, seja com a volta de Dilma ou a manutenção de Temer na presidência. Passado esse imbróglio jurídico-político, não bastará a quem ficar no cargo se sustentar na previsibilidade. O país precisa das tão aclamadas reformas estruturais e de atenção especial à infraestruturapara retomar o desenvolvimento. Resta aguardar se a turbulência enfrentada até aqui contribuirá para a necessária evolução desse debate.