Considerada uma das mais influentes jornalistas do Brasil, comentarista na área de economia e colecionadora de admiradores e desafetos por suas opiniões e análises sobre política, Miriam Leitão esteve na noite desta quarta-feira no Teatro Carlos Gomes, em Blumenau. Em mais uma edição do Ciclo de Palestras, promovido pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) em parceria com a UniSagres, ela falou sobre os desafios e oportunidades para a economia nacional.

Continua depois da publicidade

Antes de se encontrar com o público, Miriam participou de um rápido bate-papo com jornalistas. Fez projeções sobre a economia, analisou a proposta de reforma da Previdência e comentou os possíveis impactos da temida “lista de Janot” no governo Temer. Confira os principais tópicos:

:: Leia mais informações de Pedro Machado

Crescimento em 2017

– O ano de 2017 ainda não é do restabelecimento (da economia). A gente caiu muito fundo. Mas é o ano de parar de cair. A gente vai ficar estabilizado, com um crescimento muito pequeno, mas ainda não é a recuperação do tempo e do PIB perdidos. Em cada comentário, em cada previsão ou indicador, já há sinais de melhora. Não é ainda a saída da recessão, que é o que a gente queria, mas é uma melhora.

Continua depois da publicidade

Crises política e econômica

– São crises gêmeas. A crise política nasceu por si só, por erros cometidos na política. A crise econômica nasceu por si só, por erros cometidos na economia. Só que a crise econômica piora a crise política e a crise política piora a crise econômica. É preciso enfrentar as duas ao mesmo tempo. Tem o fator da Lava-Jato, que aumenta os tremores políticos, mas também aponta para um futuro muito mais estável para a economia e para a política. Combatendo a corrupção você tem um país melhor, uma democracia melhor, uma economia mais saudável. Esse tremor terá um bom resultado. Mas a crise econômica e a crise política foram criadas por erros. Foi imperícia, mesmo. Eu falei sobre isso o tempo todo: “olha, isso aqui vai dar errado”. Não fui a única pessoa a falar, não. Foram vários. E o governo Dilma ignorou completamente todos os alertas.

Impacto da lista de Janot

– O impacto é grande, aumenta a incerteza política. Agora, ao mesmo tempo, a gente tem que sempre ter em mente que tudo isso é importante. O que esse processo mostrou, o tempo todo, é que está se combatendo não um partido, mas uma prática. A corrupção está sendo combatida. A primeira lista do Janot foi muito centrada no PP e no PT. Essa foi no PMDB, no PSDB, de novo no PT. Ou seja, mostra que não é uma briga partidária, é uma briga por um país melhor.

Reforma da Previdência

– No momento em que os políticos estão assustados com a lista (de Janot) e podem vir a ser investigados, ao mesmo tempo a gente está tocando uma agenda tão pesada como essa da reforma da Previdência, por exemplo. Ela é necessária, na minha opinião, mas sempre será impopular. Aqui e em qualquer país do mundo. Esse é o grande desafio nesse momento. É um país que está numa crise política e que ao mesmo tempo precisa da política para passar as reformas necessárias para sair da crise de forma mais permanente. É o que a gente vai viver nos próximos meses. Provavelmente atrasa (a votação), fica mais difícil. Até porque o Temer está com o seu núcleo central atingido. É o pessoal que iria negociar a aprovação das reformas. Eliseu Padilha, Moreira Franco estão na lista do procurador geral da República. Mas eles não são réus, eles estão sendo investigados. A lista é um pedido ao Supremo para investigar esses políticos. Só se pede para investigar quando há indícios fortes, senão não pediria.

Análise da reforma

– Primeiro coisa: idade mínima tem que ter. Idade mínima igual para homem e mulher, concordo. Sempre achei que tinha que ser assim, essa é a tendência mundial. E o Brasil está aumentando muito a expectativa de vida, é sensato que o país pense nisso. O mundo inteiro tem idade mínima. Outra tendência é reduzir as desigualdades, quer dizer, criar sistemas mais parecidos, acabando com sistemas especiais para algumas categorias. Também sou a favor. O que eu acho ruim: os militares não estarem. Isso eu falei desde o primeiro momento. Os militares têm que contribuir no esforço coletivo do Brasil de reequilibrar as contas da previdência. Não faz sentido nenhum (eles não estarem). Eles não são uma casta, eles não são superiores, eles precisam entrar nesse esforço coletivo. Essa é a principal crítica que eu faço à reforma do Temer.

Continua depois da publicidade

Corrupção

– O Brasil está tomando a seguinte decisão: eu vou combater a corrupção, atingindo que partido atingir. O país está apoiando todas as investigações e as punições da Justiça.

Desemprego

– O país está melhorando (sinais positivos na inflação, nos juros e na confiança), mas não no desemprego. O desemprego ainda permanecerá alto neste ano. É o último que melhora porque os empresários precisam ter confiança de que a onda agora é mais permanente para contratar. No Brasil é caro contratar e é caro demitir. Esse vai ser um ano ainda de transição no mercado de trabalho. O desemprego vai continuar crescendo. Depois, no final do ano, segundo previsões, principalmente da FGV (Fundação Getulio Vargas), pode começar a cair. Mas só no final do ano.