A Philips vive uma situação no mínimo inusitada em Blumenau. Na contramão da crise, a multinacional holandesa está tirando do papel um forte plano de investimentos no exterior. Já fechou um grande negócio no Oriente Médio e está mapeando novos clientes na Inglaterra e na Alemanha. Para dar sequência ao projeto de expansão, precisa aumentar a equipe de funcionários do centro de tecnologia instalado no município. O problema é que está difícil encontrar gente com inglês fluente para ocupar algumas funções estratégicas.

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Localmente, a Philips tinha até a tarde desta terça-feira 102 cadeiras à espera de um(a) dono(a) – há vagas para programadores, designers e analistas de sistemas, por exemplo. O centro tecnológico está focado no software de gestão de saúde da marca, o Tasy – criado pela blumenauense Wheb Sistemas e comprada pela multinacional em 2010. O sistema é usado em hospitais, clínicas, laboratórios e centros de serviços médicos.

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É no Vale que o programa é desenvolvido e testado antes de ser vendido a clientes do Brasil e do exterior. Por aqui, a estrutura da empresa emprega em torno de 600 pessoas, mas foi desenhada para abrigar pelo menos o dobro disso. A diretora Solange Plebani diz que o quadro atual já poderia estar na casa dos mil profissionais, não fosse a dificuldade de recrutamento:

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– Se uma pessoa com inglês fluente bater aqui na nossa porta, a gente vai arrumar alguma coisa para ela fazer.

Não se trata de um gargalo exclusivo da Philips. Várias empresas que têm unidades na região e fazem negócios no exterior sofrem do mesmo mal.

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Quando Solange cita domínio no inglês, ela se refere a um profissional que não apenas escreve, lê e entende o idioma, mas que tem condições de falar a linguagem de negócios – estar apto a negociar um contrato ou apresentar um produto a um cliente estrangeiro, por exemplo. É um nível alto de fluência, que nem sempre se ensina nas escolas e cursos de formação e geralmente só se aprende no dia a dia corporativo.

A própria Philips entende isso e tem investido mais de R$ 500 mil por ano na unidade de Blumenau só em aulas de inglês para os empregados. Alguns, em busca de um nível maior de especialização, bancam os estudos por conta própria. Professores circulam com frequência nos ambientes da empresa. Alguns funcionários são pagos para aprender fora do país, em outras filiais espalhadas pelo mundo.

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Quando não encontra candidatos com o perfil desejado, a Philips importa profissionais. Em Blumenau trabalham pessoas vindas do interior do Estado, do Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Volta e meia aparecem até estrangeiros. Solange tem uma hipótese que explicaria a dificuldade no recrutamento. Para ela, a comunidade local ainda tem dificuldade para entender o que a empresa faz na cidade:

– A Philips tem uma marca muito forte relacionada ao consumo. Lá na (bairro) Velha (onde era a sede antiga) as pessoas iam perguntar se a gente consertava TV. A empresa nem produz mais TV, essa divisão foi vendida. O que a gente faz aqui são produtos para a área de saúde.

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A multinacional tem feito um esforço grande para mostrar que desenvolve alta tecnologia no município. Além do software que vai para todo o Brasil e também para o exterior, a ideia é deixar claro que existe uma empresa de grande porte que gera uma significativa quantia de empregos. E que pessoas formadas na região têm uma oportunidade real de estagiar ou trabalhar em uma companhia de destaque no mercado internacional.

O jovem Rafael Caldas é um exemplo. Gaúcho de Arroio Grande, ele foi contratado como estagiário ainda na Wheb Sistemas em 2006, época em que era calouro do curso de Sistemas de Informação da Uniasselvi. Depos disso, passou pela área financeira, foi programador e integrou a equipe de analistas de sistemas. Hoje, aos 28, é gerente de sistemas, lidera uma equipe de 45 pessoas e acumula na bagagem viagens para países da América Latina, onde atuou em projetos da Philips.

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Para Solange, formar esse tipo de profissional beneficia a empresa, mas também ajuda o polo tecnológico e de saúde de Blumenau como um todo.

– Nós estamos colocando essas pessoas em contato com diferentes culturas do mundo. É o tipo de exemplo que pode gerar, aqui, startups que já vão nascer com um DNA global, pensando em exportar software – analisa.