Convidado de mais uma edição do Ciclo de Palestras promovido pela CDL em parceria com a UniSagres, o empresário Carlos Alberto Júlio esteve em Blumenau na quinta-feira para falar sobre “a arte da estratégia“. Descontraído, interagiu com o público que foi ao Teatro Carlos Gomes e destacou a importância do tripé foco, disciplina e organização na busca por resultados.

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:: Leia mais informações de Pedro Machado

Carlos é outro desses “gurus do empreendedorismo” que viajam país afora para falar sobre o universo corporativo, da gestão de empresas ao desenvolvimento pessoal. Além da experiência na presidência de grandes empresas e de participação em conselhos de administração, também é autor de livros que abordam temas ligados ao mundo dos negócios. Antes da palestra, ele conversou com a coluna. Confira os principais tópicos do bate-papo:

A estratégia como arte

“Embora existam técnicas para fazer um planejamento, o pensamento estratégico tem muito da criatividade na execução, da visão de futuro, da criação de cenários. E aí entra um pouco a questão da arte. O estrategista pode alinhar e juntar as duas coisas. Outro ponto importante é mostrar como esse processo se desencadeia não só sob o aspecto técnico, mas também disciplinar. Os grandes gestores que eu conheci sempre têm foco, disciplina e organização. E é esse tripé que faz as coisas acontecerem”.

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Empreendedor e executor

“Há uma diferença muito grande entre o empreendedor e o executor. O empreendedor é aquele que arrisca, que quer o novo, a mudança para ele é importante. O executor é o contrário. A área de conforto dele é a rotina, a previsibilidade. Quando você junta esses dois sempre sai coisa boa. Mas o jogo acaba sendo ganho na organização. Tem gente que trabalha muito desorganizadamente. E o pior, o sujeito trabalha até as 10, 11 horas da noite e se orgulha disso. Quem trabalha até esse horário todo dia é um incompetente”.

Pensar grande, começar pequeno

“O empreendedor precisa pensar grande, começar pequeno e crescer rápido. Todo empreendedor pensa grande, mas esse grande geralmente é relativo à quantidade de recursos. No geral, pensa-se maior do que os recursos disponíveis. E por que pensar grande? Primeiro porque dá o mesmo trabalho de pensar pequeno. E o problema de pensar pequeno é que pode dar certo. Dando certo, você vai ficar pequeno. Por outro lado, começar pequeno é entender que se você exaurir rapidamente os seus recursos e ficar pelo caminho, terá musculatura para voltar? A pergunta que as pessoas fazem é como crescer. Eu digo que é tendo boas rotinas. No fundo o que faz o caixa tilintar é comprar bem, vender bem, produzir e entregar bem. Na crise, o mais seguro é fazer cada vez melhor o que você já faz bem. Isso o fará crescer rápido”.

Execução

“Não se pode subestimar a estratégia, mas o negócio é a execução. E execução é trabalhar com a estratégia em mente, senão você começa a andar em círculos. Quem trabalha com a estratégia em mente é diferenciado”.

Oportunidades na crise

“Há oportunidades ambientais, aquelas que estão no mercado para todo mundo. O que diferencia uma oportunidade ambiental para uma oportunidade empresarial é quando uma empresa pode fazer com aquela oportunidade mais do que os seus concorrentes. A questão é como passar por esse momento de crise esperando um novo ciclo de crescimento. É preciso uma gestão muito focada nos recursos do dia a dia. Não adianta sair cortando todo mundo porque você fica sem musculatura quando voltar. E eu não tenho dúvida que o mercado vai voltar”.

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Cenário econômico

“Nós estamos num momento difícil, o desemprego ainda não desacelerou. Eu acho que ainda não chegamos no fundo do poço. Temos uma massa de desempregados grande que ainda está no seguro-desemprego e tem um pouco da poupança da demissão. Mas é preciso pensar fora do momento de crise, lá na frente, no que vai acontecer. O sujeito com mais de 50 anos que perde o emprego nunca mais vai ter emprego. Não quer dizer que não vai ter trabalho, é diferente. Ele vai ter que ter trabalho, e a sociedade vai precisar do conhecimento dele. Mas vai precisar se reinventar, e isso é um grande desafio. Esse aprender a aprender para aprender sempre nunca ficou tão importante”.

Encontro de gerações

“O jovem de hoje vem aí com as startups, a internet, com a onda do Vale do Silício de errar rápido, fazer rápido e aprender rápido. Essa é uma tendência muito boa, mas ele vai precisar do cabelinho grisalho que sabe contratar, demitir, contabilizar, precificar, coisas que não necessariamente esse jovem sabe fazer. Esse jovem de 30, 40 anos que está liderando as empresas nunca passou por crise, ele pegou os últimos 15 anos de bonança. A geração que já viveu crises sabe que elas passam, sabe como apertar o cinto. Eu não sei se o jovem tem essa experiência. O que eu sei é que se juntar o cabelinho grisalho com essa juventude que sabe fazer coisas diferentes, a coisa vai funcionar”.

Renda e consumo

“Com toda essa crise, me diga uma multinacional que foi embora do Brasil. Ninguém sai. São 200 milhões de pessoas que gostam de consumir, o país tem um tremendo potencial. Mas precisamos ter a renda melhor distribuída. Uma das coisas positivas da administração petista foi a distribuição de renda. Qual foi o desastre? Todo mundo acha que é a corrupção, que também é, mas foi a incompetência na gestão”.

Carreira pública

“Nós precisamos ter bons gestores públicos. O problema é que o jovem está indo para o serviço público pela razão errada. Ele está indo para não ser mandado embora, ter emprego vitalício, trabalhar pouco, ganhar muito e se aposentar bem. Ele não está indo para fazer uma carreira. Alguém tem que retomar o orgulho de ser funcionário público. Há craques na administração pública, senão a coisa não andava. Essa gente boa que está lá precisa ser reconhecida e valorizada”.

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Inovação

“A inovação pode estar na contabilidade, no marketing, na forma de vender, de comunicar ou de entregar o produto. Logística tem muita inovação. A melhor maneira de medir a inovação é quando o cliente paga por ela. Se eu acrescento uma nova característica no meu produto e eu repasso esse custo, isso não é inovação. Se o cliente está pagando para você o que você gastou pra fazer, ele não considerou aquilo uma inovação. Inovação é simplificar”.

Alcançar o sucesso

“A chave é o querer, a atitude. O empresário pode se perguntar: quantas pessoas eu tenho no meu time que sabem muito, podem muito e não querem? E quantas pessoas eu tenho que sabem menos, podem menos, mas querem muito? São nesses que eu invisto, seja nos meus alunos em sala de aula ou nos funcionários das minhas empresas. Quando eu vejo brilho no olho, eu digo: “esse é o cara”. Eu aposto e funciona. Pouca coisa substitui a vontade da pessoa querer fazer e gerar valor. Claro, quanto mais a pessoa tiver o saber e as habilidades, mais potencializa esse querer”.