O empresário David Barioni Neto sonha com o dia em que a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil) seja tão conhecida quanto o Sebrae. É um desejo quase pessoal fazer com que o nome do órgão, vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), venha logo à mente de quem pensa em romper as barreiras domésticas e abrir frentes comerciais pelo mundo, assim como o do Sebrae surge entre os que buscam abrir um negócio.

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Barioni sabe que a missão é difícil – ele mesmo admite que pouco tinha ouvido falar da agência antes de assumir a presidência, em fevereiro do ano passado -, mas usa os serviços disponibilizados como um trunfo. Além de atrair investimentos para o país, a Apex oferece às empresas, de graça, consultorias, informações setoriais e prospecção de mercados internacionais.

– A Apex coloca a empresa na cara do gol, sem goleiro – garante.

Barioni aponta as vantagens de se exportar: ao atender exigências de outros países, as empresas amadurecem, fomentam a profissionalização de processos e, por consequência, se tornam mais produtivas e competitivas – sem contar a diversificação de mercado.

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Na última semana, a Apex convidou jornalistas da região Sul do país para visitar a sede da agência em Brasília e participar de um bate-papo com o executivo, ex-vice presidente da TAM. Confira alguns dos pontos abordados.

Visão

– As empresas pequenas e médias nascem no Brasil com a cabeça no mercado interno, que é grande e tem 200 milhões de consumidores, mas que passa, como qualquer mercado, por momentos de retração e esse é um deles. Mas elas não podem pensar só no mercado interno. Num momento de retração, a exportação é importante.

Câmbio

– Eu não sou a favor de simplesmente exportar por causa do dólar. Claro que a moeda americana a R$ 4 ajuda, mas a decisão de exportar é muito mais ampla que isso, tem que fazer parte da estratégia do negócio. Existe um prazo de um ano até a empresa se capacitar. Não é simples.

Competitividade

– O que a gente mostra, cientificamente, é que uma empresa que exporta tem 12% mais lucro que outra do mesmo setor que fabrica o mesmo produto. Isso acontece porque ela está mais capacitada, está em outro nível de otimização, de processos e de pós-venda. O concorrente não é mais o vizinho, mas o mundo todo e isso exige outro padrão.

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Formação

– Liguei para excelentes universidades brasileiras e verifiquei que a faculdade que mais fala de comércio exterior, sem incluir o profissional da área, e sim as que formam profissionais que vão tocar negócios, é uma de São Paulo. Fala 48 horas do tema em quatro anos. Aí fica muito difícil querer que o Brasil tenha mais empresas exportadoras. Quem vai tocar as empresas ou ser executivo normalmente não tem a menor ideia do que é exportar porque não foi preparado.

Exemplo do Sul

– O meu sonho é que todos os estados brasileiros tivessem a mesma maturidade exportadora que os estados do Sul. A região não faz nada de sofisticado. É trabalho, dedicação e capricho e entender antes de todo mundo que o mundo é muito maior que o Brasil. Precisamos multiplicar essa característica.

Inovação

– O Brasil quer falar de inovação sem cortar custos, sem otimizar, sem melhorar. Não adianta fazer algo disruptivo se eu não sou competitivo e tenho altos impostos e custos.

Complexo de inferioridade

– Nós temos um complexo de colonizado que é um negócio de doido. Achamos que somos inferiores aos ingleses, aos americanos, aos alemães… Inferiores em quê? Eu desafio: pode pegar qualquer item importante (da pauta de exportação) e o Brasil estará no top cinco do mundo.

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Potencial

– No ano passado foi lançado o Plano Nacional de Exportação, com foco em 32 países que significam de 70% a 80% da exportação brasileira. Esses 32 países têm, juntos, 15 PIBs brasileiros. Se nós formos modestos, a gente consegue aumentar as nossas vendas para esses países em 10%. É buscar um Brasil e meio de mercado. Que empresário não quer acordar um dia e ouvir que ganhou um Brasil e meio para trabalhar?

Burocracia

– Foi feita uma pesquisa no Brasil que constatou que para exportar você precisa de 124 documentos e percorrer 22 guichês. O governo percebeu isso e fez um portal único, que já vale para importação e logo vai valer para exportação. É só entrar na internet, colocar os dados que o ministério (MDIC) roda os formulários e fala com os órgãos. Exportar tá simplificando, mas o empreendedor precisa colaborar. E a Apex existe para ajudá-lo.

Desvantagens

– Temos desvantagens logísticas, os portos demoram e há muito imposto. Qualquer país tem suas dificuldades, mas hoje o que a gente tem é isso. E dá pra vender pra caramba com isso. Tá cheio de gente que exporta no Brasil, com as mesmas dificuldades, ganhando um monte de dinheiro.