O secretário de Turismo e Lazer de Blumenau, Ricardo Stodieck, é praticamente uma unanimidade. Nome bem avaliado dentro do governo, do trade turístico e também do empresariado blumenauense, é difícil encontrar críticas ao seu trabalho à frente da pasta. Ele deu continuidade ao reposicionamento da Oktoberfest, uma festa que passou a prezar mais pela qualidade do que pela quantidade. E os resultados apareceram: na última edição, o lucro do evento cresceu 70%, chegando a R$ 3,2 milhões – valor, inclusive, que vai ajudar a financiar outras atrações turísticas na cidade.

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No cargo desde o início do governo Napoleão Bernardes (PSDB), Stodieck projeta que a cidade vai evoluir ainda mais com a consolidação do Plano Municipal do Turismo. Nesta entrevista, ele faz um balanço dos quatro primeiros anos à frente da secretaria e explica os desafios daqui para frente.

Qual o balanço dos acertos e erros e dos pontos que ainda podem melhorar à frente da secretaria?

Um dos principais acertos foi incluir o turismo na pauta econômica e política do município, tratando esse setor como um propulsor do desenvolvimento econômico e de geração de emprego e riqueza. O Napoleão (Bernardes, prefeito) sempre acreditou muito que o turismo tinha que ser tratado como um negócio. Ficou fácil trabalhar num governo que acredita nisso. O corpo técnico é bom, as entidades e o trade turístico apoiaram e abraçaram a causa. Nós, num primeiro momento, reposicionamos os eventos, uma ação mais rápida para ter resultado econômico, seja ele direto, através de superávit, ou indireto na geração de emprego e arrecadação de impostos. Isso foi fundamental nos primeiros anos do governo. Tanto que em 2016 estávamos absolutamente fora da curva no Brasil. Todos os nossos eventos cresceram em número de público, grau de satisfação e superávit, o que gerou mais eventos gratuitos também. Agora uma coisa que é mais complexa é reposicionar a cidade no mercado turístico brasileiro. O desafio é maior. O reposicionamento já começou e nesse segundo mandato isso será consolidado.

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Como o Plano Municipal de Turismo entra nesse contexto?

O plano é a ação mais importante de planejamento turístico que se fez na história de Blumenau. É a primeira vez que existe isso, nunca foi feito nada igual. E ele foi denominado pelo Senac como um projeto de constituição coletiva pelo trade, seja empresários, trabalhadores, centros de educação da área de turismo e servidores de todos os órgãos da prefeitura. O PMT ficou muito bom e tem um acompanhamento constante por parte do Conselho Municipal de Turismo. Nesse segundo mandato já estamos detalhando e fortalecendo, para dar mais velocidade à execução do PMT, com novas ferramentas de controle. Ele é a nossa bíblia. Hoje Blumenau tem um norte no turismo.

Há algum ponto específico dentro do PMT que é prioridade?

Todos os pontos são prioridades. O que efetivamente precisa ser feito mais rápido é dotar de infraestrutura. O centro de convenções, por exemplo. Estamos atrasados. Se entrar na parte do que não funcionou ou não deu certo, o centro de convenções frustra porque ele não aconteceu. Hoje (quinta-feira passada), no Bom Dia Santa Catarina, eu assisti o Murilo Flores (secretário estadual de Planejamento), ao vivo, falando de um programa de R$ 11 bilhões do governo estadual. Já foram executados 75% desse investimento. Faltam 25% para cumprir até o final do mandato do Colombo (Raimundo, governador), ou seja, daqui a menos de dois anos. Então, tem R$ 3 bilhões sobrando. E aceitar que dentro deste valor não tem R$ 14 milhões para fazer o centro de convenções é frustrante. Entre outros pontos fundamentais no PMT está a Nova Rússia. Já foi feita bastante coisa lá, mas é preciso dar um passo maior, criar um centro receptivo para poder receber o turista. É preciso melhorar. Também já se fez muita coisa na Vila Itoupava, mas ainda não é suficiente, é preciso fazer mais.

O que já foi feito de destaque nessas duas regiões?

Houve muitos eventos lá. A caminhada da Vila Itoupava já foi criada nas administrações anteriores para as pessoas conhecerem a região. O Museu da Cerveja é uma das questões mais importantes para levar para lá (Vila Itoupava), para ficar próximo do museu da Associação dos Clubes de Caça e Tiro. Quando você cria a Caminhada das Nascentes, é para as pessoas conhecerem a Nova Rússia. Tem outra questão que é primordial que é a nossa relação com o Itajaí-Açu. O PMT em várias partes trata de criar um parque de casas em enxaimel, como tem na Alemanha. Temos demanda de uma marina pública, que supre quem quer usar o rio e precisa ter um espaço para guardar seus equipamentos, de remo ou a motor. Há também o fortalecimento do Vale da Cerveja, que é um projeto dentro do produto Capital Brasileira da Cerveja, que já foi discutido em administrações anteriores, não fomos nós que inventamos. Mas faltou a coragem de acreditar que isso é um negócio e que não tem a ver com consumo de álcool ou de alguma questão religiosa. Nós acreditamos que esse é um modelo de geração de emprego e atividade econômica. Parte do superávit do Festival Brasileiro da Cerveja a prefeitura usou para bancar o estudo do Vale da Cerveja. Quem toca é a iniciativa privada, mas o poder público tem a necessidade de ser o indutor disso. O Vale da Cerveja e a Capital da Cerveja são produtos para o ano todo. Essas são as nossas linhas. A promoção turística vai continuar como está. Estamos reposicionando recursos dessa área no mundo digital.

Você entrou no governo já no primeiro mandato como uma indicação técnica, mas se filiou ao PSDB (partido do prefeito) no ano passado. Passou a existir alguma diferença no seu trabalho pelo fato de agora você ter filiação partidária?

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Não. E não mudou por algo bem simples: porque eu não tenho pretensão política. Podia ter mudado se eu tivesse. Não mudou nada, nem a forma como o governo trata comigo e nem o foco da pasta.

Houve uma discussão interna nessa segunda etapa da reforma administrativa de uma eventual fusão das secretarias de Turismo e Desenvolvimento Econômico, mas a ideia encontrou resistência dentro do turismo. Por que isso não seria algo bom?

Foi acertada a decisão (de manter as duas pastas separadas). Essa discussão existiu, mas não gerou tanta dúvida assim no governo. O desenvolvimento econômico tem outras áreas, como serviços, indústria, tecnologia. A própria agricultura está nesta pasta. Seria um exagero ter uma secretaria com tantas atribuições e seguramente se perderia foco. O turismo, com os eventos que a gente faz, já demanda muito tempo. Não suportaria a estrutura. Blumenau iria perder foco e eficiência.

Algum novo evento sendo planejado para Blumenau?

Estamos pensando em um evento de gastronomia que ainda não foi feito em Santa Catarina, só com produtos genuinamente catarinenses. Vamos tentar fazer a primeira edição em maio. Estamos buscando as parcerias e as condições. Se não viabilizarmos para este ano, acontece em maio do ano que vem. É um caminho sem volta, ele vai acontecer. Nós temos o melhor equipamento de SC para eventos de gastronomia, que é o Eisenbahn (Biergarten). Temos três cozinhas exclusivas para usar no pavilhão e uma quarta do restaurante. Ninguém em SC tem o equipamento que nós temos com essa vocação gastronômica.

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Há alguma novidade sobre o projeto do mercado público?

O mercado público tem que ser viabilizado como a marina pública, através de parceria com o setor privado por uma PPP. É um projeto de quase R$ 15 milhões e seguramente não há recursos para ele. Sempre há interessados para isso. Quando a conta fecha, funciona, basta ver o Eisenbahn Biergarten. Foram R$ 12 milhões em investimentos e estão todos satisfeitos, tanto a marca quanto a cidade.

Por falar em Eisenbahn, dá para esperar alguma mudança maior na Oktoberfest com a venda da marca para a Heineken?

Temos os contatos normais com a equipe da Brasil Kirin (dona da Eisenbahn) baseados nos contratos que já existem. Eu não acredito em nenhum tipo de mudança. Não acredito que eles vão trocar a marca Eisenbahn como fornecedora oficial da Oktoberfest. Mas vejo com bons olhos ter pontos de venda da Heineken dentro da festa. Isso só agrega qualidade. Eu também acho improvável, apesar de alguns levantarem essa hipótese, que a fábrica de Blumenau da Eisenbahn vá fechar. Por essa lógica, eles teriam que fechar também a fábrica da Baden Baden em Campos do Jordão, que está lá até hoje lá, recebe visitas, é motivo de orgulho. A Baden Baden não perdeu a identidade com Campos de Jordão. E a Eisenbahn não perdeu a identidade com Blumenau.

Se decidirem colocar Kaiser na festa, seria um retrocesso para a festa?

Nós temos que entender que existe o cliente que quer uma cerveja premium e tem o cliente que também quer continuar tomando Schin, Brahma, Kaiser e Skol. Você precisa respeitar esse consumidor. A Oktoberfest tem cliente para essas marcas, como tem cliente para o coquetel de chope de vinho. Temos público para isso e é preciso respeitá-lo.

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Uma das poucas críticas à secretaria nos últimos anos diz respeito ao aumento de preços em festas como a Oktoberfest. Muita gente diz que está se elitizando o turismo em Blumenau e que pessoas mais simples talvez não tenham acesso a esses eventos. Como você vê essas críticas?

Primeiro é preciso separar ingresso, comida e bebida. São coisas distintas, embora complementares no conjunto de despesas. O governo não subsidia consumo de álcool, então o preço da bebida tem que ser o praticado no mercado. Quase sempre ainda estamos abaixo dos preços dos bares. A questão da bebida é lenda urbana. Só poderia ser verdadeira se os preços daqui fossem mais caros do que os dos bares e do que o mercado está cobrando. Sobre alimentos, temos feito cardápios com várias opções, algumas mais em conta e outras mais elaboradas. O que temos percebido nas nossas pesquisas é que também é o preço de mercado. Não temos até hoje, por exemplo, um quadro comparativo que mostre que os pratos da Oktoberfest ou da Sommerfest são mais caros do que nos bares e restaurantes. Até precisaria que alguém me apontasse que bebida e que comida estamos vendendo acima do preço de mercado. Nunca ninguém conseguiu me mostrar isso. Se desses itens ninguém consegue mostrar, talvez seja um sentimento das dificuldades do Brasil e do poder de compra do brasileiro.

Então ela não é uma festa cara?

Quando o cliente vem muitas noites para comer e beber, e com essa crise, com o poder de compra afetado do brasileiro, talvez possa parecer caro. Acho que é um pouco de lenda urbana, tem a ver com a crise. Eu queria que você me mostrasse isso. Sobre os ingressos, houve recuperação de inflações do passado e uma recuperação de valores de final de semana para poder subsidiar o dia de semana. Para quem não tem meia entrada, que hoje é quase metade do público, o máximo que você pagaria é R$ 40 para vir na Oktoberfest numa noite de sábado. Não tem nada parecido no Brasil com esse preço, ainda é muito barato. Mais barato é no dia de semana, R$ 10 o ingresso inteiro. A segunda-feira é de graça. Nós aumentamos o número de gratuidades, não para convidados, mas para o público em geral. Antes você tinha a abertura e o encerramento da festa de graça. Hoje todas as segundas também são de graça. Respeitamos as críticas de quem acha que está caro, mas é importante mostrar isso. O crescimento acima da inflação no sábado foi para segurar o preço do dia de semana para defender justamente o blumenauense, que está aqui a semana toda e quer vir mais vezes.

Blumenau é hoje uma cidade mais turística?

Melhorou um pouco mais, e ainda tem muito para crescer. E a velocidade de crescimento daqui para frente será mais rápida. Você não reposiciona uma cidade no mercado do dia para a noite. Nós estamos colhendo os frutos. Quando você vê o Brasil com PIB negativo e olha que fechamos 2016 com crescimento em todos os nossos eventos, é sinal de que tem vindo mais turistas. Nós ainda não conseguimos refletir todo esse crescimento de público em eventos em hospedagem como a gente gostaria. Esse é um desafio. Nós crescemos acima de 40% no público final do Natal. Crescemos 19% em turistas, mas esses turistas não aumentaram a taxa de ocupação dos hotéis. Eles estavam em hotéis do Litoral.

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O que falta?

Nós já começamos a nos reunir com os hoteleiros para ver o que podemos fazer. É a questão da tarifa? Será que não fizemos a tarifa de hotel adequada para trazer esse público? Na época do Natal o clima já está bom para praia. Nós temos um desafio junto com a iniciativa privada, que é fazer com que o crescimento do Natal reflita no crescimento da hotelaria. Isso não aconteceu. Mas nós não vendemos hotéis, vendemos a cidade. Por isso estamos estimulando, provocando o setor hoteleiro para entender o que precisa ser feito para que as pessoas fiquem nos hotéis daqui.