Há uma semana Glauco Côrte teve o mandato à frente da Federação das Indústrias (Fiesc) prorrogado até agosto de 2018 (deveria terminar em 2017) por decisão da própria entidade. Natural de Timbó, o empresário de 73 anos vem destacando que SC sofre menos com a crise do que outros estados principalmente pela diversificação da matriz econômica e pelo perfil empreendedor dos industriários locais.

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Nesta entrevista, ele fala das projeções para a economia e a indústria catarinense nos próximos meses. Defensor de um “novo governo” – em março a Fiesc se posicionou oficialmente pelo afastamento de Dilma Rousseff -, Côrte também faz uma análise do início do governo interino de Michel Temer.

O que esperar da indústria catarinense para o segundo semestre?

Em fevereiro de 2015 a confiança do empresário chegou a 37,5 pontos (segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria). Sempre que é abaixo de 50 mostra pessimismo na economia, acima revela otimismo. A última sondagem já apontou quase 46 pontos. Ou seja, estamos nos aproximando do equilíbrio. Desde janeiro de 2015 não se tinha um nível tão alto. Tanto a indústria quanto o comércio estão com os estoques baixos, então qualquer aumento da demanda vai significar um crescimento da produção. Esse é o cenário que está se desenhando para o segundo semestre: o início de um processo de recuperação da economia. Em síntese, nós já tivemos um quadro mais pessimista e pior do que se espera.

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O que causa o aumento de confiança?

Primeiro, certamente, é a mudança do governo, que introduziu um fator de maior credibilidade. A (nova) equipe econômica foi muito bem recebida pelo setor produtivo. As primeiras medidas apresentadas, no sentido de contenção de despesas do setor público e a valorização da iniciativa privada, foram bem vistas. E na economia a confiança é tudo. A expectativa comanda a economia, ela se antecipa aos fatos econômicos. Um segundo fator é que normalmente o segundo semestre tende a ser um pouco melhor que o primeiro. Mesmo numa economia ruim, sempre há movimentação e encomendas do comércio, que se prepara para as festas de final de ano. Também há um esforço grande do governo, até como resultado da compressão da economia doméstica, de melhorar o nível da exportação. Santa Catarina está participando desse esforço. Ainda que nosso desempenho nos primeiros cinco meses do ano esteja abaixo de 2015, nota-se que há um processo gradativo de aumento das exportações. Todo esse conjunto de fatores está levando a uma melhoria da expectativa e das projeções.

Qual a análise desse início de governo interino de Michel Temer?

A gente tem que confessar que tinha uma expectativa um pouco maior em relação a medidas que pudessem dar uma visão mais clara, uma previsibilidade maior em relação a ações do governo. Por outro lado, temos que compreender que estamos vivendo um período de interinidade. Há algumas medidas que estão sendo encaminhadas com uma agilidade muito maior do que governos anteriores. O acordo (da dívida pública) com os Estados era uma discussão crônica de anos e em pouco tempo se chegou a um acordo. Qualquer ministro que por uma outra razão esteja envolvido em alguma ação da Lava-Jato não tem permanecido. Isso também mostra um lado positivo. Nós tivemos nesta semana o Fórum Nacional da Indústria com o ministro da Fazenda (Henrique Meirelles) e apresentamos medidas emergenciais que podem impulsionar a economia e as propostas foram bem recebidas. Houve uma discussão bastante transparente, ampla sobre a situação do Brasil. Tudo isso mostra uma valorização do setor produtivo e sobretudo da indústria, que tem sido sempre um fator importante de recuperação da economia, como aconteceu nos Estados Unidos, na Alemanha e na Espanha. No Brasil a indústria estava sem medidas, não estava sendo suficientemente valorizado seu poder de alavancador da economia. Nossa avaliação é de que, embora existisse uma expectativa (de governo) maior, ela tem que ser colocada no plano da interinidade. Nessa conjuntura ela atende à condição política que vivemos.

Por enquanto a expectativa é maior mais pelo fato do que pode acontecer do que por medidas concretas?

Entre as medidas que também repercutiram bem está essa de estabelecer um limite de gastos para o setor público. É claro que o mérito e as condições em si precisam ser discutidos, até para não criar um fator de estímulo de inflação. Mas o fato é que o governo está preocupado em estabelecer tetos e limites para o crescimento dos gastos públicos. Isso vai criando um ambiente mais favorável para os setores produtivo e industrial.

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É preciso melhorar condições de infraestrutura em SC. Há algo de curto prazo que pode ser feito?

Temos insistido nas chamadas PPPs, as parcerias público-privadas. Já que o governo não tem recursos para atender a nossa estrutura de logística, o que estamos esperando para iniciar esse processo de PPPs? Santa Catarina foi o primeiro estado brasileiro a aprovar uma legislação disciplinando essas parcerias e até hoje não tivemos a concretização de nenhuma delas. Agora há um novo projeto tramitando na Assembleia, que tem o apoio da Fiesc, que objetiva dar celeridade a esse processos. Essa é a forma de menor prazo para tentarmos superar o que hoje é o maior gargalo que retira a competitividade da indústria catarinense, que são as condições precárias de nossa infraestrutura, tanto em relação às rodovias federais quanto estaduais.

O que esperar da economia e da indústria de SC em 2017?

Sem dúvida nós vamos ter um ano melhor. É claro que ainda estaremos muito na dependência do desfecho desse processo político. Mas supondo que o governo atual seja mantido, certamente teremos um ano melhor. Se vamos conseguir crescer, ainda é um pouco cedo para dizer. O que já podemos projetar é que 2017 tende a ser um ano, sob o ponto de vista econômico e de desempenho da indústria, melhor do que 2016 e 2015.