A fatalidade da madrugada de terça-feira é daquelas coisas difíceis de se entender. Em meio à consternação geral, os milhões de gestos de solidariedade a parentes e amigos das vítimas, vindos de clubes e atletas de futebol, torcedores, países e cidades, famosos e anônimos, ou simplesmente daqueles que entendem que toda e qualquer perda de uma vida representa uma tragédia, revelam o poder de união do esporte e, em especial, o carinho que a Chapecoense conquistou nos últimos anos. Uma história que já vem desde 1973, mas que começou a ganhar novos e bonitos capítulos nos últimos anos.

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:: Leia mais informações de Pedro Machado

A ascensão meteórica da Chapecoense virou estudo de caso. Das conversas de mesa de bar às discussões nos bastidores do futebol, todos, torcedores e cartolas, tentavam encontrar uma razão que explicasse como um clube pequeno, de uma cidade pouco conhecida no Brasil, se catapultou no cenário do esporte nacional e internacional. É uma trajetória tão fulminante quanto o trágico acidente aéreo de Medellín.

Em sete anos, a Chape saltou da última divisão para a elite do futebol nacional. O acesso à Série A veio em 2013, ano em que um relatório da Pluri Consultoria, consultoria em Gestão, Governança, Finanças e Marketing Esportivo, classificava a equipe do Oeste catarinense na segunda colocação em um ranking que avaliou a saúde financeira de 30 equipes. Ali os diferenciais do clube começavam a aparecer.

Foi o trabalho sério, sustentado num rigoroso planejamento estratégico, que permitiu que a Chapecoense despontasse. Trabalho este, aliás, exaustivamente elogiado pela imprensa especializada e que serviu e vem servindo de espelho para dezenas de clubes pequenos e médios Brasil afora. À gestão profissionalizada, uma das poucas exceções à regra neste ainda bagunçado futebol brasileiro, somaram-se outro fatores que só o mundo da bola é capaz de proporcionar.

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Goleadas históricas contra o Internacional (5 a 0 em 2014, ano em que a Chape disputou a Série A pela primeira vez) e Palmeiras (5 a 1, no ano seguinte) acrescentaram o ingrediente que faltava para o sucesso: o carisma. Como não gostar e torcer (não necessariamente vestir a camisa, mas querer o seu bem) para um clube que repetidas vezes contrariou a lógica do grande versus pequeno do futebol?

Depois do Santos, não há, hoje, time brasileiro fora de uma capital mais expressivo do que a Chapecoense. No interior, sabe-se, tudo é mais difícil. Além do planejamento, méritos para a cidade e para as empresas de Chapecó, que abraçaram o clube. Na terça pela manhã, ainda atordoado com as informações que não paravam de chegar, o prefeito Luciano Buligon dizia a emissoras de TV que, apesar da força econômica do município, sobretudo em relação à agroindústria, nada havia projetado e exportado tanto o nome de Chapecó quanto o time, aqueles jogadores.

Os recentes feitos, como a classificação histórica para a final de uma competição internacional, criaram uma atmosfera unânime de união e positividade, algo que eu particularmente jamais havia visto na história recente do futebol. Não havia amante da gorduchinha que não estivesse na torcida pela Chape.

Quis o destino que esta delegação de atletas, comissão técnica e dirigentes tenha sido imortalizada de um jeito bem diferente do que todos esperavam. Mais do que isso, profissionais da companhia aérea e competentes colegas jornalistas da mesma forma deixaram uma legião de familiares e amigos sem chão numa terça-feira cinzenta na história do futebol catarinense e mundial.

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O Índio Condá e a cidade de Chapecó estão gravemente feridos. Sua recuperação depende de todos nós.