A base é o esporte, mas o contexto que envolve o Desafio dos Rochas vai muito além apenas do ciclismo. Terceiro principal evento de mountain bike do Brasil, a competição que ocorre neste fim de semana em Pomerode vai receber 1.350 atletas de todos os cantos do Brasil. O número de inscritos é 19% maior na comparação com a última edição, o que mostra o crescimento da modalidade e a consolidação do pedal como forma de lazer e garantia de uma vida saudável. Mas o que atrai tanta gente para as bandas do Vale do Itajaí? A resposta é simples e baseada em quatro pontos: esporte, turismo, cultura e confraternização.

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Vencer é o objetivo para alguns, porém, a grande maioria dos participantes usam o evento como o meio para fazer um turismo alternativo pela região, principalmente em Pomerode, cidade sede. Tanto que a organização trabalha questões culturais com os inscritos e as famílias e amigos que vêm acompanhá-los. Atividades como apresentações de grupos folclóricos germânicos, jogos e brincadeiras com clubes de caça e tiro e exploração da gastronomia local são pontos abordados, explica José Rocha, um dos organizadores do evento. Tudo isso forma o combo que atrai turistas que não apenas desbravam os morros e trilhas pomerodenses, como também percorrem caminhos que ajudam a consolidar a região como um dos centros das atenções dos viajantes que por aqui estão.

É o caso, por exemplo, de Cesar Sidnei Casaroto, proprietário de uma loja de bikes em Casca (RS), uma pequena cidade de 9 mil habitantes no interior do estado gaúcho. Ele veio pela primeira vez ao evento em 2016 com “a curiosidade de conhecer Pomerode”. Naquele ano pegou o carro e veio com dois amigos para participar da prova. Já em 2017 trouxe um ônibus com outros 34 ciclistas. No ano seguinte, foram 57. Para 2019, adivinhe? Virão 80 em dois ônibus, mais um furgão, só para trazer as bicicletas.

– Aqui no Rio Grande do Sul o número de ciclistas aumentou muito nos últimos cinco anos, mas ainda estamos muito atrasados em relação a Santa Catarina. Eventos assim fomentam muito o ciclismo de modo geral, já que o iniciante que participa de forma amadora logo quer sentir a adrenalina de estar competindo. Isso ajuda até a formar atletas – aponta Casaroto.

Os números que envolvem o Desafio dos Rochas são vistos com bons olhos também pelo poder público. Isso porque Pomerode construiu, principalmente na última década, a imagem de uma cidade pacata onde há eventos de grande porte para levar a família e curtir dias de folga. Caso da Osterfest (Páscoa), Weihnachtsfest (Natal) e a Festa Pomerana (no início de cada ano). A consolidação de outras datas importantes no calendário – como o fim de semana do desafio – ajudam a compor o contexto que desenvolve a cidade turisticamente.

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– Toda sementinha lançada está germinando, e temos que ter cuidado para que essa curva de crescimento do turismo se mantenha no pico e não caia. Pra isso temos que garantir um destino capaz de atrair um público ideal, com poder aquisitivo, e que faça a roda da economia girar – explica Gladys Sievert, vice-prefeita e secretária de Turismo e Cultura de Pomerode.

Nomes importantes do mountain bike estarão na região

Nem só de lazer vivem os participantes do Desafio dos Rochas. Se por um lado muitos querem curtir o fim de semana na cidade mais alemã do Brasil, outros têm o objetivo claro e definido de chegar ao lugar mais alto do pódio. Daniel Zóia, de Minas Gerais, é um deles. Bicampeão da elite masculina na competição, o atleta da equipe Audax voltará a Pomerode, depois da ausência em 2018, para tentar o terceiro troféu. E engana-se quem pensa que os profissionais tiram de letra o percurso.

Na avaliação de Daniel, os obstáculos e o trajeto são fatores que complicam – e muito – a vida dos ciclistas.

– A região de Pomerode tem subidas íngremes intermináveis e um circuito muito técnico, com trilhas difíceis de se pedalar. É um percurso que é muito bem cuidado o ano todo pela organização e com belezas naturais da região. É difícil, mas é um estilo de prova que gosto muito, com percurso desafiador – relata o ciclista profissional.

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 Competição reúne nomes importantes do mountain bike do país em Pomerode
Competição reúne nomes importantes do mountain bike do país em Pomerode (Foto: Divulgação / Cesar Delong)

Ele ainda alerta e diz que não é qualquer ciclista amador que tem condições de participar de uma prova desse nível.

– Não é qualquer um que começou a pedalar ontem que pode vir aqui e completar a prova. Para fazer isso a pessoa tem que ter comprometimento com o esporte. Não precisa ser um atleta profissional, mas tem que ter uma alimentação saudável, preparo físico, resistência e fazer ao menos dois treinos semanais.

Além do atleta mineiro, outros nomes importantes do mountain bike do país estarão em Pomerode, como Letícia Cândido, também de Minas Gerais, que é campeã brasileira, Marcelo Moser, o Pinguim, blumenauense multicampeão, e Bruno Paim, campeão brasileiro paralímpico.

“A base do evento é a cultura e a família”, diz organizador

Os participantes do Desafio dos Rochas deste ano vêm de centenas de cidades diferentes, e Santa Catarina – é claro – ostenta o maior número de inscritos. Serão 777 do Estado, com destaque para Blumenau (139), Pomerode (99), Joinville (69) e Florianópolis (43). Esses índices aumentam a responsabilidade dos organizadores em garantir que tudo transcorra normalmente.

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– A grande maioria desse público não é formada por profissionais, e sim amadores. São pessoas que vêm com o objetivo de conseguir terminar a prova, já que o nosso percurso é um dos mais duros do Brasil. Eles querem vir, participar, conhecer os visuais e as belezas de Pomerode. A base do evento é a cultura e a família – sustenta José Rocha, um dos organizadores.

Impulsionado pelo boom do ciclismo, o evento cresceu paralelamente à evolução do cicloturismo em Santa Catarina. O circuito Vale Europeu é um exemplo de caminhos usados pelos praticantes da modalidade, dando estrutura e segurança em trajetos. Na avaliação de José Rocha, quanto mais pessoas participam, mais gente acaba buscando desafios individuais.

– A galera está em busca de provas mais duras, mais difíceis, mas que tenham estruturas diferenciadas para receber as famílias. Cerca de 90% da prova é composta por amadores que vêm para se desafiarem. Terminar o desafio para o ciclista é a mesma sensação que um triatleta tem ao terminar um Ironman – compara Rocha.

Impulsionado pelo boom do ciclismo, o evento cresceu paralelamente à evolução do cicloturismo em Santa Catarina
Impulsionado pelo boom do ciclismo, o evento cresceu paralelamente à evolução do cicloturismo em Santa Catarina (Foto: Divulgação / Jonatha Junge)

A prova

A programação do Desafio dos Rochas começou na sexta-feira, com a entrega dos kits para os atletas e uma noite de confraternização, com janta e apresentação de uma banda típica germânica. No sábado ocorrem as primeiras provas na modalidade trail run a partir das 3h da madrugada. Os atletas terão 10 horas para terminar o percurso. Já no domingo, as largadas de todas as categorias do mountain bike ocorrem a partir das 8h, mobilizando a grande parte dos participantes do evento.

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