As negociações de propinas em contratos para coleta de lixo, descobertas pela Operação Mensageiro, mostram um amplo esquema composto por empresários, funcionários da empresa pivô do caso e agentes públicos.
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A investigação já levou 16 prefeitos de cidades de SC à prisão preventiva e se notabilizou por registros como a suposta entrega de propina pelo “mensageiro” em automóveis e fotos de dinheiro em caixas com a marca da empresa investigada e nomes de prefeitos.
Em alguns casos, os investigados combinavam visitas e encontros sem muitos rodeios, com representantes da empresa e agentes públicos. Mas em outras conversas investigados citaram códigos utilizados em diálogos e processos para tentar disfarçar a suposta entrega de propinas.
Vídeos de depoimentos e documentos da Operação Mensageiro indicam algumas expressões que os acusados buscavam utilizar para não se referir abertamente a possíveis pagamentos em dinheiro.
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Confira alguns códigos abaixo
“Peças”
Num dos depoimentos, um investigado que atuaria em nome da empresa Serrana Engenharia, a pivô de todo escândalo, para obter notas fiscais frias que permitiriam ter o dinheiro de propina a ser paga a agentes públicos foi questionado sobre uma expressão utilizada numa conversa pelo celular.
— “O (nome do investigado) sempre usava “quando chegaram minhas ‘peças’”, alguma coisa assim. Era referente já para eu passar lá para buscar o dinheiro. Ele nunca falava “vem aqui para buscar o dinheiro”, então ele usava esse termo, “peças”.
“Verificar a área”
Em um dos depoimentos, um gerente da empresa conta que foi acionado em novembro de 2022 para supostamente pagar valores de propina que estavam atrasados ao prefeito de Papanduva, Luiz Henrique Saliba. A empresa teria suspendido o pagamento meses antes, devido à desconfiança de que o esquema estava sendo investigado.
A entrega seria feita em Rio Negrinho, mas não teria acontecido por conta de problemas causados pelas chuvas na estrada da Serra Dona Francisca. Então, o funcionário afirma ter enviado mensagem ao prefeito dizendo que conseguiria “verificar a área” somente no dia 7 ou 8 de dezembro.
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— Eu conversei com ele na segunda-feira e na terça foi a operação. Então, provavelmente, deveria estar ali (no celular) que nós iríamos nos encontrar para “ver a área” em Rio Negrinho dia 7 ou dia 8. Na verdade, era só um código porque era a entrega dos valores da propina que estavam em atraso que eu iria fazer”.
Como a operação ocorreu no dia 6 de dezembro, os valores que estariam em atraso não teriam sido recebido pelo prefeito. Segundo a investigação, a quantia acumulada seria de mais de R$ 60 mil.
Planilhas “MD”
A empresa mantinha planilhas em que contabilizava os valores de propina pagos a agentes públicos. Segundo a investigação, as tabelas ficavam salvas em um único pendrive, escondido no escritório da empresa e acessado por um único notebook, sem conexão com a internet. O dispositivo teria sido destruído depois da primeira fase da Operação Mensageiro. Apesar disso, perícias no disco rígido do computador usado para abrir as planilhas recuperou alguns dos arquivos em que a empresa organizava os valores distribuídos.
De acordo com a investigação, a empresa utilizava planilhas com a rubrica “MD” como um código para identificar quantias destinadas ao suposto pagamento de propinas. Vídeos de depoimentos divulgados no início de julho explicaram que o código seria uma abreviação da palavra “medição”.
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— Por que MD? É um código, veio de medição. Porque a gente tinha que encontrar uma palavra que fosse alguma coisa da nossa atividade, mas que ninguém percebesse — explicou à Justiça o dono da empresa Serrana.
Em planilhas oficiais da Serrana Engenharia, os valores gastos com pagamentos ilegais a políticos seriam identificados a partir de um código numérico: “1032”.
Iniciais de nomes
Alguns dos investigados não eram funcionários formais da empresa, mas atuariam em nome dela na obtenção de notas fiscais frias e até mesmo na entrega de dinheiro a agentes públicos. Nesses casos, despesas como combustível, alimentação e o próprio salário dos envolvidos também eram lançadas em planilhas. E a identificação dos gastos seria feita com as letras iniciais dos nomes das pessoas, no seguinte modelo “Salário XX”.
Em envelopes de dinheiro entregues a agentes públicos, também são usadas siglas como “LGS” para cidades como Lages e iniciais dos políticos que receberiam o dinheiro.
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