Da mente de Antônio Scarbelot, de 80 anos, e de sua filha Salete Maria Henrique, 53, saem ideias coloridas e cheias de graça. De matérias-primas como madeira e tecidos estampados e floridos, são criadas cadeiras, bancos e peças de decoração exclusivas do ¿Cavalinhos do Chicão¿. Já Eugênia Raquel Istchuk, 68, usa conchas de berbigão, mariscos e ostras para dar vida à sua arte. A originalidade dos artesãos foi abraçada pelo Sebrae de Santa Catarina e levada pela entidade ao Rio de Janeiro para exposições durante as Olimpíadas.

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Além das artes manuais de seu Antônio e Salete, moradores de Palhoça, e da argentina Eugênia, que há 34 anos mora em Floripa, o projeto “Brasil Original no Rio de Janeiro” levou o artesanato de outros oito catarinenses para o período olímpico, sendo quatro da Grande Florianópolis. Os brinquedos educativos da Cirandarte, de Florianópolis, e as cerâmicas de Marina Takase, Palhoça, também estão entre os escolhidos.

As obras de Eugênia
As obras de Eugênia (Foto: Leo Munhoz / Agencia RBS)

O artesanato catarina se misturará com peças de todo o país até o dia 16 de setembro, quando terminam as Paralimpíadas. Para aproveitar o giro de turistas no estado carioca, o Sebrae montou quatro showrooms que foram espalhados por três shoppings do Rio e no Centro Sebrae de Referência do Artesanato Brasileiro (CRAB), inaugurado em março para ampliar a comercialização das peças. A expectativa é que mais de 170 mil pessoas visitem os espaços no período.

De acordo com a coordenadora de projetos do Sebrae em SC, Simone Peluso, as peças escolhidas tinham que ter a cara do Brasil, serem de um trabalho de primeiro nível, e pequenas, ou seja, típicas lembrancinhas do país para o turista carregar na mala ou mochila.

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As peças de Eugênia, por exemplo, são imãs delicadíssimos com pequenas flores feitas com conchinhas de berbigão. E detalhe: ela só usa conchas encontradas na Grande Florianópolis. De Antônio e Salete, o turista poderá ter um cavalinho diferente feito de pano e madeira.

— É um orgulho ter uma peça exposta nas Olimpíadas. Só de saber que tanta gente pode ver, no meio de tantas peças do Brasil inteiro, é uma alegria — defendeu dona Eugênia.

Criatividade sem limites

Talento apareceu na infância
Talento apareceu na infância (Foto: Felipe Carneiro / Agencia RBS)

Antônio Scarbelot conta que ainda tinha cinco anos quando começou a fazer arte em madeira. Morava em sítio com sua família e era costume fazer seus próprios utensílios como baldes, bandejas e balaios. De dia trabalhava na lavoura, e de noite, soltava a criatividade. Virou um carpinteiro de mão cheia.

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Na década de 70, deixou a lavoura e decidiu se dedicar à paixão: o artesanato. Com os filhos e mulher se mudou para Palhoça, onde abriu uma fábrica de móveis de vime. A filha, Salete Maria, acompanhou os passos do pai, da lavoura ao vime.

— Eu sempre admirei muito o que o pai fazia. Ele sempre foi muito criativo — contou ela.

Na década de 80, a fábrica foi vendida. Mas Antônio ainda tinha criatividade o suficiente para fazer arte. Começou a criar cavalinhos de madeira, coisa mais rústica. Num dia, encontrou pedaços de tecidos – sempre muito coloridos – e criou o Chicão.

As pernas são de madeira, o corpo moldado em espuma, o tecido geralmente com flores, e a costura com palha. Os botões são usados para criar os olhos e focinhos de bichos como cavalo, tatu, cachorro e galo. Os tamanhos são diversos. As peças grandes, como bancos e cadeiras, ficam por conta de Antônio. Já os pequenos, os chamados Chiquinhos, são feitos pelas mãos de Salete.

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Chiquinhos levados pro Rio
Chiquinhos levados pro Rio (Foto: Felipe Carneiro / Agencia RBS)

— Não temos preconceito com cores e texturas de tecido. A gente vai fazendo conforme acha que fica bom — explicou a filha.

Os Chicões e Chiquinhos já foram vistos em novelas como Cheias de Charme e Passione, e levados para exposições na Itália, China, Noruega e Estados Unidos. Desde 1994 que a família possui o apoio do Sebrae.

— A gente só não cria mais porque não tem espaço, porque sai muita ideia da minha cabeça — revela Antônio.

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O Chicão pode ser encontrado no Largo da Alfândega, em Floripa. Os demais produtos são vendidos na loja da família, na rua Antônio Vieira, 51, em Palhoça.

Parceria que deu certo

Talento incentivado
Talento incentivado (Foto: Leo Munhoz / Agencia RBS)

Acostumada a cozinhar e cuidar da família, a vida da argentina Eugênia Raquel mudou no Brasil. Ela se separou e com o apoio de uma psicóloga, resolveu assumir seu lado artesã.

— Eu sempre gostei de fazer coisas com as mãos. E quando me separei, não quis mais depender de ninguém. Queria fazer tudo sozinha — contou.

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Foi um dia, quando caminhava na praia da Cachoeira de Bom Jesus, que catou uma concha de marisco e resolveu criar: desenhou uma praia na concha e criou uma peça única. Hoje, Eugênia ganha as conchas de marisco e berbigões de empresas que descartariam esse material no lixo. Com a ajuda de uma pinça, faz o delicado trabalho, que pode ser encontrado no Largo da Alfândega.

Para dar certo, contou com a ajuda do Sebrae e ingressou no programa Arte Catarina, no começo da década de 90, que apoia artesãos no Estado.

— Eu posso dizer que sou cria do Sebrae. Eles me ajudaram em tudo. A vender, a encontrar clientes, dar preços aos produtos — detalhou.

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Atualmente, afirmou a coordenadora Simone Peluso, cerca de 120 artesãos sãos atendidos pelo Sebrae no Estado. Eles ganham cursos, consultorias, participam de palestras e criam suas empresas. O trabalhador interessado em melhorar sua ideia, pode procurar uma unidade no Sebrae e pedir uma consultoria individual ou coletiva. Em Florianópolis, o Sebrae está provisoriamente no Parque Tecnológico Alfa, na SC-401, no João Paulo. Até outubro eles deverão se mudar para a Avenida Rio Branco, 611, no Centro.

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