As imagens na tela sempre em branco e preto, como a reafirmar a essencialidade da cultura noir, da arte sem afetação ou efeitos milionários. Mas não se tratava de um filme, era o telão do show do Pearl Jam no Morumbi, e o que se viu foi algo também tão fundamental quanto um livro de Raymond Chandler ou um filme de John Huston. Continua depois da publicidade
Cerca de 50 mil pessoas viram o concerto de ontem, e na saída do estádio umas 100 pessoas já dormiam na porta para o show de sexta à noite. Pela primeira vez na vida, é possível pensar que a vigília estava coberta de razão. Foi um show antológico.
Abrindo com Release (última faixa do seu disco de estreia, Ten, de 1991), às 21h15, o Pearl Jam conduziu uma cascata de som quase sem pausa, 26 músicas tocadas e cantadas com entrega total de seus integrantes. O grupo não só ilustrou a formidável resistência do rock básico em duas décadas de estrada, mas também fez um tributo ao despojamento e sinceridade do punk rock, tocando Come Back em homenagem a Joey Ramone e, na sequência, tocando I Believe in Miracles, do próprio Ramones, com uma abordagem reverente, quase religiosa. Continua depois da publicidade
O Pearl Jam fez do show um tipo de manifesto da sua crença musical. O punk rock esteve presente o tempo todo, fosse na execução de um originador do gênero, Neil Young (na clássica Rockin’ in a Free World); na abertura do concerto com o grupo californiano histórico X, referência do gênero; e até no formato ultrabásico de uma novíssima canção, Olé (que vai entrar em álbum de 2012).
Eddie Vedder parece que elevou o berro a uma espécie de categoria melódica. Sua entrega em cena, mais o auxílio luxuoso de uma guitarra barroca, a de Mike McCready (verdadeira estrada almofadada atravessando uma montanha rochosa), alucinaram a noite.
– Felizes por estar em São Paulo. Obrigado por nos trazer de volta. Vocês estar bem aí? – disse Vedder, em português. O show foi muito mais energético e vertiginoso do que o último que a banda fez no País, em 2005 (naquela ocasião, tocaram 28 músicas). Em dado momento, Vedder pediu para ver o público e as luzes se acenderam, e ele pediu por segurança para todos.
No Morumbi, o primeiro coro coletivo, imenso e hipnótico, foi quando a banda tocou Even Flow. Os hits são muitos, apesar de o Pearl Jam nunca ter ser sido uma banda de refrões fáceis e radiofônicos: Do the Evolution, Black, Comatose, The Fixer. Just Breathe fez as meninas se esgoelarem. Apesar do set list extenso, houve quem reclamasse da ausência de Yellow Ledbetter. Continua depois da publicidade
Há uma tentativa exacerbada na música do Pearl Jam, um esforço romântico clássico, de se colocar o sentimento acima das limitações da vida cotidiana. Essa capacidade transgressiva sobrevive intacta na voz de Vedder, um sujeito que furou a bolha do rock system e foi em busca da verdade da música, gravando inclusive com o paquistanês Nusrat Fateh Ali Khan.
No segundo bis, era possível ver Vedder pendurado numa das beiradas do palco, pendendo pelo braço como se estivesse andando de bonde, e fitando o público demoradamente. Vindo do grunge, esse cara aprendeu como manter a alma aquecida em cima de um palco. Coisa rara.
Os bilhetes para o show de Porto Alegre custam R$ 150 (arquibancada), R$ 180 (pista) e R$ 200 (cadeira – esgotada nas vendas pela internet).
Como comprar:
> Site: www.ticketsforfun.com.br
> Telefone: 4003-5588 (válido para todo o país), a partir das 9h desta segunda-feira (01/08)
> Bilheteria oficial (sem taxa de conveniência): Loja Multisom (Rua dos Andradas, 1001, Centro) Horário de funcionamento: segunda a sexta, das 11h às 19h; e sábado, das 10h às 18h (não funciona aos domingo e feriados) Continua depois da publicidade
> Demais pontos de venda (com taxa de conveniência) estão listados no site www.ticketsforfun.com.br
> Formas de pagamento: dinheiro, cartões de crédito American Express, Visa, MasterCard, Diners e Cartões de Débito Visa Electron e Rede Shop
> Meia-entrada valerá somente para idosos