Na semana passada, o editor e jornalista Paulo Werneck, 35, foi anunciado como o novo curador da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), provavelmente o principal evento literário do país. Com passagens pelas editoras Companhia das Letras e Cosac Naify, por suplementos culturais importantes e atuando ainda como tradutor de ficção, além de ser filho do Humberto Werneck e amigo do Antônio Prata, o novo curador tem sua trajetória marcada pela literatura.
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Enquanto ainda se inteira da “Flip por dentro”, Paulo atendeu nosso pedido: falou de suas expectativas, suas experiências anteriores no evento e lembrou do dia em que Paul Auster parou a Praça Matriz de Paraty com uma palestra sobre notas de rodapé.
Em sua trajetória, você desenvolveu principalmente as funções de editor e tradutor. Como encara o convite para desempenhar uma função totalmente diferente, no caso a curadoria de um evento como a Flip?
Acrescentaria a atividade como jornalista, que durou três anos na redação, mas que já exercia de maneira bissexta desde muito cedo. E ainda a de editor de revista literária alternativa, a Ácaro, que foi um laboratório para mim e outros companheiros de geração. A Flip tem um pouco de tudo isso, tem a ver com tradução, com escolhas editoriais, com visão jornalística de questões intelectuais. O desafio é totalmente diferente, mas ao mesmo tempo não é, de certa forma.
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Você mencionou que foi frequentador das edições anteriores da Flip, seja por conta do trabalho ou como espectador, e que a festa foi importante inclusive pra sua formação. Isso significa que o evento, embora mais ou menos recente, já faz parte do calendário cultural brasileiro. Pode-se dizer que é uma nova fase da Flip?
É natural e saudável qualquer renovação geracional, mas na verdade sou da mesma geração dos últimos curadores – Miguel Conde, Flávio Moura e Cassiano Elek Machado. Não acredito que haverá ruptura, uma “nova fase”, apenas a natural contribuição dos que vão chegando. Na Flip, a fronteira entre o espectador comum e o profissional da indústria editorial ou jornalista, por exemplo, não é tão nítida, todos se sentem um pouco de cada coisa. Essa sensação rompeu com certas hierarquias do mundo cultural e hoje faz parte do clima da festa.
Você disse também que, como frequentador, fez descobertas literárias e conheceu mestres para a vida inteira. Durante estes anos, o que te marcou da programação da festa?
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Vivi momentos memoráveis, muitos por questões afetivas – cito as mesas de meu pai, Humberto Werneck, com Xico Sá, em 2008, e António Lobo Antunes, em 2009. Ou a participação dos meus amigos Chico Mattoso e João Paulo Cuenca na primeira edição da festa, com o livro especial Parati para mim. Sempre tive muita interlocução com os curadores, foi um espaço importante para minha atividade como editor e como jornalista também. Lembro que, logo nas primeiras edições, ter visto Paul Auster parar a praça da Matriz para ouvi-lo falar sobre notas de rodapé foi uma coisa emocionante, inesperada no nosso país. Hoje faz parte da nossa vida.
De que modo você pretende contribuir com um olhar diferente e particular sobre o evento? Já deu tempo de pensar nisso?
Não. As ideias estão surgindo e nada, absolutamente nada, está definido. E sobretudo estou conhecendo melhor a Flip por dentro, conversando com Mauro Munhoz, Liz Calder e outros profissionais que fizeram a Flip ser o que é.
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Desde o fim da edição passada, existe uma forte campanha entre jornalistas e escritores para que Lima Barreto seja homenageado na edição de 2014. Suponho que você já esteja sofrendo “assédios” a este respeito.
Se há campanha ou lobby, acho saudável, a Flip realmente movimenta o debate. A ideia é essa. Até pouco tempo atrás só se debatia quem ia ser técnico da Seleção. Claro que Lima Barreto é um autor de primeira e daria uma bela Flip, tem uma obra atual, que vem sendo discutida, redescoberta, reeditada. Muitos outros autores também renderiam Flips incríveis e surpreendentes. Essa é uma doce decisão que ainda não foi tomada.