Depois de solicitar que seu livro não participasse da Copa de Literatura Brasileira – e ter o pedido negado -, o escritor gaúcho Paulo Scott classificou de “autoritária” a decisão da organização. O romance Habitante Irreal é um dos 16 livros que participam do “campeonato literário” que, com base no futebol, pretende pôr em discussão a produção ficcional recente do país. A jornalista Lu Thomé, da organização da Copa, divulgou uma resposta oficial informando que o livro de Scott segue na disputa.

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Veja a íntegra da declaração de Paulo Scott em seu perfil no Facebook:

“A postura dos amigos da Organização do evento promotor da marca Copa Brasileira de Literatura, negando-se pela segunda vez a retirar o livro “Habitante irreal” da sua campanha e metas de evento privado cujas capitalizações e direcionamentos de imagem, marca, iniciativa e autoria são inegáveis, desrespeitando por completo o fato de que discordo da lógica que a orienta, é autoritária. Conversei com os editores da Alfaguara e fui informado que não houve inscrição do livro no evento.

Lamento profundamente que meu pedido de exclusão do livro esteja sendo rotulado pela própria Organização do evento como “polêmica”, como “treta”, o que revela e indica claramente a intenção promocional (alguns diriam sensacionalista, mas prefiro não sustentar esse termo, porque sei que os organizadores são pessoas que merecem meu respeito) da iniciativa. Como já disse, nunca havia prestado atenção no evento, nunca havia me interessado pelo evento, mas nesses poucos dias pude de fato entender a sua lógica, o seu caráter.

Na justificativa da decisão que obriga a permanência do livro “Habitante irreal” no evento foram mencionados alguns prêmios literários. Pois bem, que sejam considerados os prêmios literários. Não se tem notícia de prêmio literário que force a inclusão de uma obra entre os eventuais concorrentes sem a autorização do seu autor – um autor tem o direito de não inscrever seus trabalhos neste ou naquele prêmio literário.

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Na justificativa da decisão houve a acusação de censura, como se o autor estivesse proibindo, contraditando, impedindo quem quer que seja de ler os seus livros, de elogiar os seus livros, de atacar os seus livros. Não há muito que dizer a esse respeito, censura é algo maléfico, é outra coisa. O uso desse termo macula o argumento, o uso do termo é desleal. Imagino que os organizadores não refletiram com sobriedade ao empregá-lo.

Por fim, lamento que a Organização do evento sustente esse equívoco tremendo, lamento profundamente que o sustente de maneira impositiva, tributária, afrontando os direitos autorais morais de um escritor. Sei que o Direito Brasileiro e os princípios do modelo de Estado Democrático de Direito amparam o meu pedido; ainda assim, informo que não tomarei qualquer medida legal. Deixo apenas, de maneira firme e clara, o meu posicionamento. Um posicionamento que, para além de toda intransigência, ficará. Torço para que, em face do ímpeto de promoção de marca e projeto e de polêmicas e tretas que – agora (sem minha ingenuidade inicial) percebo – parecem tão necessárias à dinâmica da Copa de Literatura Brasileira, talvez um dia no futuro lhes retorne a oportunidade de refletir com calma sobre limites e respeito ao direito do outro e perceber o erro enorme que cometeram.

Reforço aqui, e sem qualquer restrição, minha amizade e o meu abraço a todos.

Paulo Scott”

A Copa de Literatura Brasileira é um “campeonato literário” que, com base no futebol, pretende pôr em discussão a produção ficcional recente do país. Realizada desde 2007, retorna este ano após uma interrupção em 2012.

São 16 romances concorrentes, publicados entre 2011 e 2012. Cada jurado lê os dois livros de uma determinada partida e escreve uma resenha crítica comparando ambos e declarando um vencedor que passa à fase seguinte.

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Habitante Irreal “joga” no dia 30 de agosto contra Dentes Negros, de André de Leones. Entre os 16 “competidores”, há obras de Michel Laub, Daniel Galera e João Gilberto Noll.