Ponhamo-nos no lugar dos familiares das vítimas da inigualável tragédia de Santa Maria.

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Cria-se entre eles naturalmente um clima de revolta pelo acontecido. E é justamente em torno disso que quero me fixar.

Um dos impulsos naturais surgidos logo após uma tragédia dessas, a maior da história gaúcha, é a do justiçamento moral dos proprietários de uma boate que só tinha uma saída física e das autoridades responsáveis por licenciar para o funcionamento aquele local fatídico.

Cumpro alertar a imprensa gaúcha e a sociedade rio-grandense para que não se exerça uma caça às bruxas pós-tragédia.

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Tudo tem de ser feito como manda a lei e o bom senso: a Polícia Civil apurará prováveis responsabilidades, e a Justiça, serenamente, examinará os fatos, decidindo sobre even-

tuais autorias.

Ponho-me no lugar dos cerca de 400 pais e mães das vítimas da tragédia.

Hoje em dia, sempre que um filho sai para a diversão noturna, os pais ficam com os

corações apertados de apreensão.

Esses pais das vítimas de Santa Maria foram acordados na madrugada e souberam que houve um grande incêndio na boate Kiss.

Logo a seguir, constataram que seus filhos não retornaram para casa.

A seguir, tiveram um sofrimento inenarrável, primeiro porque pressentiram que seus filhos poderiam ter morrido. Segundo, porque tiveram a tortura horrível de se dirigir até o ginásio municipal e reconhecê-los e identificá-los, carbonizados ou intoxicados.

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Uma dor incomparável.

Qualquer pessoa que morra numa tragédia ocasiona uma desolação, seja jovem, seja adulto, seja idoso.

Só que em Santa Maria morreram centenas de jovens. E gente universitária, pronta para estudar e formar-se, o futuro da nação.

Mocidade estuante, livre para estudar, formar-se e realizar a sua vida.

E, como se viu, livres também para morrer. Morrer num braseiro ou numa câmara de gás de uma boate trágica de uma cidade universitária.

Não sei mais o que dizer. Sei que a vida implica risco de morrer a qualquer momento. Mas esse momento escolhido pelo destino para sacrificar estes jovens foi especial: era janeiro, decorriam as férias, tempo de alegria entre os pais e os filhos.

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E sobreveio nesse tempo alegre e esfuziante a tragédia.

Só resta que se tomem providências para que nunca mais isso volte a ocorrer. Que nunca mais nenhum estúpido qualquer atire sobre o palco de uma boate um sinalizador no rumo de um teto coberto de material inflamável.

Que nunca mais se permita uma boate para grande público com uma saída só, além disso, quando os jovens tentaram de início fugir por essa saída, os seguranças da boate os impediram, imaginando que eles estavam saindo para não pagar a consumação, já era madrugada e portanto a consumação seria grande.

Uma tragédia, pior até porque foi entre nós e chamou a atenção do Brasil e do mundo.

Tomara que todos os jovens gaúchos que sobreviveram a essa tragédia terrível um dia venham a chamar a atenção do Brasil e do mundo por grandes feitos deles que ainda hão de vir.

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Prontamente, com rapidez impressionante, a presidente Dilma Rousseff e o governador Tarso Genro dirigiram-se a Santa Maria e foram solidarizar-se com as vítimas fatais, os feridos e seus familiares, confortando a cidade.

Tarso Genro tinha ontem uma emoção acessória, Santa Maria é a cidade que ele adotou para viver, estudou lá e fez carreira política também.

Tarso nasceu em São Borja, mas, como milhões de gaúchos, escolheu Santa Maria como sede de seus estudos universitários.

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Cada um de nós tem algo a ver com Santa Maria, que é o centro geográfico do Estado.

Eu, por exemplo, me casei há 43 anos lá em Santa Maria, na Paróquia da Medianeira, daí por que fiz muitos amigos naquela cidade. Fico ainda mais tocado.

Os jornais e a imprensa em geral estão classificando a tragédia desse domingo como a maior da história do Rio Grande do Sul.

Lembro-me de tragédias aéreas ocorridas aqui, assim como o célebre incêndio nas Lojas Renner, com muitas vítimas, na esquina das ruas Dr. Flores e Otávio Rocha, na Capital.

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Os incêndios sempre estão ligados às tragédias, eles se salientam até nos terremotos. Por sinal, até a hora em que encerrava ontem esta coluna, não fiquei sabendo quantos minutos depois do incêndio chegou ao local a primeira unidade do Corpo de Bombeiros.

Em gráfico, entenda a sequência de eventos que originou o fogo

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Confira imagens do local onde aconteceu a tragédia

Confira a lista de feridos em incêndio em boate em Santa Maria

A tragédia

O incêndio na boate Kiss, no centro de Santa Maria, começou entre 2h e 3h da madrugada de domingo, quando a banda Gurizada Fandangueira, uma das atrações da noite, teria usado efeitos pirotécnicos durante a apresentação. O fogo teria iniciado na espuma do isolamento acústico, no teto da casa noturna.

Sem conseguir sair do estabelecimento, mais de 200 jovens morreram e outros 100 ficaram feridos. Sobreviventes dizem que seguranças pediram comanda para liberar a saída, e portas teriam sido bloqueadas por alguns minutos por funcionários.

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A tragédia, que teve repercussão internacional, é considera a maior da história do Rio Grande do Sul e o maior número de mortos nos últimos 50 anos no Brasil.

Veja onde aconteceu

Imagem: Arte ZH

A boate

Localizada na Rua Andradas, no centro da cidade da Região Central, a boate Kiss costumava sediar festas e shows para o público universitário da região. A casa noturna é distribuída em três ambientes – além da área principal, onde ficava o palco, tinha uma pista de dança e uma área vip. De acordo com o comando da Brigada Militar, a danceteria estava com o plano de prevenção de incêndios vencido desde agosto de 2012.

Clique na imagem abaixo para ver a boate antes e depois do incêndio

A festa

Chamada de “Agromerados”, a festa voltada para estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) começou às 23h de sábado. O evento era de acadêmicos dos cursos de Agronomia, Medicina Veterinária, Tecnologia de Alimentos, Zootecnia, Tecnologia em Agronegócio e Pedagogia. Segundo informações do site da casa noturna, os ingressos custavam R$ 15 e as atrações eram as bandas “Gurizadas Fandangueira”, “Pimenta e seus Comparsas”, além dos DJs Bolinha, Sandro Cidade e Juliano Paim.

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