Paulo Roberto Falcão estava na sua casa, em Porto Alegre, quando atendeu a reportagem do Diário Catarinense por telefone. Desde que deixou o comando técnico do Bahia, Falcão se dedicou para finalizar seu livro sobre a Seleção de 1982 – “Brasil: o time que perdeu a Copa e conquistou o mundo”. O catarinense de Abelardo Luz, ex-jogador e ex-comentarista, continua investindo na carreira de treinador, mas com vasta experiência sobre o Brasil e com grande habilidade para tratar de conceitos do futebol, Falcão fala sobre a expectativa na Copa das Confederações e as diferenças culturais do futebol europeu e sul-americano.

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Diário Catarinense – Estamos nas vésperas da Copa das Confederações como você avalia a preparação do Brasil que investiu em amistosos com grandes equipes?

Falcão – Acho que foi bom jogar com adversário fortes. Normalmente se faz um trabalho crescente e a medida que se adquire confiança você vai colocando jogos mais difíceis. Mas no caso do Brasil não dá para fazer isso, porque não tem outros jogos e estamos sem as eliminatórias. Nessas situações é preciso ter paciência da torcida e da mídia.

DC – A Seleção irá conseguir ter mais identidade de grupo com um futebol que transmita mais confiança?

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Falcão – Isso não se cria em 10 dias. O grupo, se chegar até a final das Confederações, terá ficado uns 25 dias juntos. Depois, antes da Copa do Mundo haverão mais dias de preparação. Esse tempo junto irá ajudar muito.

DC – Por que a Seleção ainda não criou essa confiança e a atuação contra a França é visto como algo inédito nessa preparação?

Falcão – Não é confiança a palavra. As outras seleções, as favoritas, estão jogando juntas há muito tempo. Copa do Mundo 2010, Eurocopa e Eliminatórias. Elas estão quase prontas, o Brasil não tem isso, está em formação. Também tivemos mudanças na comissão técnicas. Os treinadores podem ter ideias diferentes e essas mudanças sempre atrasam, mas temos sim condições de fazer um grande seleção até a Copa do Mundo.

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DC – A mudança de treinadores prejudica muito? Era melhor tem mantido um dos trabalho por mais tempo?

Falcão – Depois de uma Copa do Mundo é comum sair. Já a saída do Mano pode ser questionada, mas a Seleção continua em ótimas mãos com Felipão.

DC – Atribuir a mudança de técnicos como causa de um insucesso da Seleção é errado?

Falcão – Não dá para dizer isso agora. Nós vamos ver isso com o tempo, porque podemos sim ter sucesso.

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DC – Sobre a ausência de grandes craques no Brasil. Como você percebe isso e acha que é o que falta para a Seleção?

Falcão – Acho que a questão não são os craques. Não gosto de voltar muito no passado porque hoje as coisas são diferentes. Hoje os times dependem muito mais da qualidade dos treinadores e do grupo como um todo. É preciso tempo para organizar, montar, compactar e fazer com que o coletivo vença um jogo e não a individualidade. Antigamente, há 30 , 40 anos, a técnica individual fazia mais diferença. Não se notavam tantos defeitos táticos porque os jogadores faziam a diferença. Claro que o jogador pode fazer diferença, mas é preciso fazer com o craque seja parte do grupo. O coletivo como um todo deve ser o craque.

DC – Então é isso que a Seleção precisa criar?

Falcão – Mas ai é diferente. Não tem tempo. Uma coisa é estar diariamente com o profissional. Seleção não. A pressão é ganhar do Japão, do México da Itália. Na Seleção é preciso ser muito mais selecionador que treinador para ter um resultado melhor. Nas Confederações vamos ter uma noção melhor, depois o Felipão terá mais tempo. Neste início de trabalho me parece que ele foi mais observador e agora começa a preparar um time mais perto do que ele tem na cabeça.

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DC Os adversários mais difíceis do Brasil nas Confederações são mesmo Itália e Espanha?

Falcão – Eu colocaria o México também. E o Uruguai. Jogando contra Itália e México e na semifinal cruzar com Espanha ou Uruguai, o Brasil fez uns quatro jogos maravilhosos.

DC – Com esses adversários, não se classificar para a próxima fase seria uma surpresa?

Falcão – Acho que o Brasil tem que se classificar. Joga em casa e tem força. Mas não podemos bobear a começar por um mau resultado contra o Japão. Mas o México é uma pedra no sapato e a Itália, enfim é a Itália , tetracampeã. Serão jogos duros.

DC – Você já treinou o Japão, o que pode dizer do futebol deles?

Falcão – O grupo de hoje é bem diferente daquele que conheci. O Alberto Zaccheroni, treinador deles, é muito competente e inteligente, armou um time veloz e com disciplina tática. Eles estão embalados, querem fazer bons jogos e podem tirar pontos de alguma seleção. Será um ótima experiência para eles.

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DC – Recentemente você esteve na Itália, conhecendo alguns clubes e trabalhos. O que você trouxe de lá?

Falcão – Não dá para falar tudo porque a passagem é cara para lá, não vou passar de graça (risos). Mas eu sempre admirei o futebol europeu no aspecto tático. Eles sempre tiveram essa cultura tática, essa preocupação para fazer frente ao futebol sul-americano. E nós sempre valorizamos mais a técnica. Acho que precisa-se dos dois e elas estão mais próximas. Eles melhoraram tecnicamente e nós taticamente. Isso porque eles, tanto quanto nós, se interessam pelo futebol de todo o mundo. Em 81 ou 82, meu treinador no Roma, dizia que os treinadores brasileiros tinham que sair e ensinar fundamentos enquanto os europeus ensinar tática.

DC – Que trabalhos você admira no futebol?

Falcão – Sempre gostei da maneira como seleção holandesa marca e pressiona. Não é a toa que a origem do Barcelona tem um lado holandês, que tem essa cultura de apertar o adversário. De criar erros no adversário. Gosto de times que façam o adversário errar.

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DC – Desde que você deixou o Bahia, o que tem feito?

Falcão – Me envolvi com o o meu livro e fui viajar para Itália.

DC – Alguma convites para ser treinador?

Falcão – Ano passado houve convite do Palmeiras, mas eu queria contrato até o fim de 2013. Outros convites não seria legal falar porque há treinadores trabalhando agora. Mas foram três sondagens em 2013.

DC – O que faltou para você ter se mantido mais tempo no Internacional e no Bahia?

Falcão – No Internacional foi uma questão política e não esteve em julgamento a capacidade do profissional. No Bahia a ideia era ganhar o campeonato estadual, que fazia mais de 10 anos que o clube não vencia. Conseguimos se classificar na frente, jogar por dois resultados iguais na final e garantimos o título. Mas tivemos muito desgaste e alguns se machucaram na reta final. Depois, foi jogo atrás de jogo no Brasileirão e Copa do Brasil e os resultados não vieram. Ainda assim conseguimos estar entre os oito da Copa do Brasil.

DC – Você se arrepende ou não de deixar a profissão de comentaria para investir na carreira de treinador?

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Falcão – Não. Isso foi algo muito bem pensado e que falta dentro daquilo que eu planejei dentro da minha vida. Fui jogador. Depois trabalhei por quase 17 anos na Globo. O que estava faltando e ainda estava engasgado ser treinador. Estou muito feliz que em dois times foram dois títulos estaduais. E antes também, na primeira experiência como treinador foram boas campanhas com a Seleção na Copa da América e com o América do México.